quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Músicas para o Rogério Ceni

Entre tantos posts que quero fazer e não arrumo tempo, fica aqui um rapidinho. Uma pequena homenagem ao Rogério Ceni, maior goleiro da história do futebol e amante de AC/DC, Pink Floyd e Dire Straits.


Alias, já ouviram essa aqui do Dr. Sin? Não é das melhores, mas é uma homenagem válida. 

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

TEM QUE OUVIR: Peter Gabriel - So (1986)

Peter Gabriel tinha tudo para não ser popular, mas é. Com composições complexas - embora bastante melódicas e convidativas - além de fantasias esdrúxulas - como esquecer do girassol ambulante ainda nos tempos de Genesis? -, o homem à frente do grupo de rock progressivo se lançou posteriormente numa carreira solo musicalmente importante e comercialmente rentável.


Embora já com quatro elogiados álbuns solo na bagagem, Peter Gabriel explodiu popularmente com So, lançado em 1986 pela Geffen. Seu alcance foi de extrema importância para a ascensão da chamada "world music" (rótulo besta, mas que pegou). Isso porque o trabalho faz uma mescla de art rock, new wave e pop com ritmos africanos e brasileiros, além de motivos melódicos étnicos, vide a balada "In Your Eyes" e a linda "Mercy Street" (com percussão do Djalma Corrêa e célula rítmica do baião). Ao lado Talking Heads e do Paul Simon, Peter Gabriel foi um dos precursores dessa fundição cultural dentro da segmentada música pop.

A faixa que projetou o álbum foi "Sledgehammer", dona de clipe completamente inventivo e de alta rotação na programação da MTV. O timbre grandioso extraído dos sintetizador Fairlight CMI domina a composição. Por outro lado, uma melodia de flauta com perfume de ancestralidade japonesa traz uma ambiguidade estrutural à canção. Destaque também para a linha borbulhante de baixo.

A força do disco não se deve exclusivamente a Peter Gabriel. A guitarra etérea de David Rhodes, a linguagem particular de Tony Levin no baixo, as levadas criativas dos bateristas Jerry Marotta e Manu Katché, além das produções/arranjos enormes de Daniel Lanois, são de extrema importância para o resultado final. Tudo isso fica evidente nas ótimas "Red Rain" (tremendo groove e Gabriel emulando o Bruce Springsteen) e "That Voice Again" (excelente refrão e estrutura nada convencional).

Na balada "Don't Give Up" é a voz de Kate Bush que realça a composição. Stewart Copeland ataca a bateria na dançante "Big Time". Já em "This Is The Picture (Excellent Birds)" temos Laurie Anderson, Nile Rodgers e Bill Laswell. Um timaço que somente Peter Gabriel poderia reunir.

Tudo aquilo que o Phil Collins sonhou fazer (música pop elaborada com alcance comercial e prestigio da crítica) foi conseguindo em So

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Cirque du Soleil + Poperô = EDC

Minha coluna dessa semana no Maria D'escrita:


Neste último fim de semana, rolou a primeira edição no Brasil do EDC (Electric Daisy Carnival), um dos maiores festivais de música eletrônica do mundo.
 
Controlado pela empresa Insomniac – da gigante Live Nation, que agencia centenas de arenas ao redor do mundo, além de artistas como Madonna e Jay-Z e turnês de nomes como Jonas Brothers e U2 -, o evento passa longe de qualquer experiência sonora limite, sendo a constatação da caretice que a música eletrônica se tornou.
 
Claro que no meio da programação de festivais como EDC é possível destacar algum nome interessantes, vide por exemplo o sempre competente DJ Marky. Mas não dá para levar a sério um lineup que tem o Tiësto como destaque. Colocando na vitrine os principais nomes da EDM, o festival nada no fluxo da indústria musical.
 
EDM é a sigla para Eletronic Dance Music, uma maneira simples (e aparentemente eficaz) de anular qualquer subvertente da música eletrônica, tendo em vista que o público jovem não estaria mais interessado em diferenciar house do techno, trance, electro, drum and bass, bigbeat ou dubstep. EDM é o novo pop, feito para adolescentes que buscam “transgredir” suas rotinas em eventos corporativistas ao som de um poperô insosso. Foi assim que nomes como David Guetta e Calvin Harris adentraram o mainstream.
 
Daí em diante não demorou para Diplo gravar com Britney Spears e Beyoncé; Deadmau5 produzir músicas para videogame; Axwell remixar Usher e o Skrillex fazer parceria com Justin Bieber. Vale dizer, todos esses produtores são muito competentes.
 
Quem mais curtiu essa ascensão da EDM foram os promotores de eventos, já que as apresentações dessas novas estrelas têm custos de produção menores e faturamento maior, o que animou e fomentou patrocínio das companhias de bebidas alcoólicas e energéticos. Com dinheiro em caixa, os megafestivais de EDM viraram um “Cirque du Soleil místico”.
 
Vale dizer que aponto tudo isso sem o menor "moralismo prol música de verdade". É só a constatação dos fatos. Dito isso, para os que não se importam com essa diluição artística e está nessa por diversão, Tomorrowland Brasil 2016 promete ser um prato cheio. Eu prefiro quando a música eletrônica chega ao grande público sem fazer concessões artísticas, vide aqui:

sábado, 5 de dezembro de 2015

TEM QUE OUVIR: Beastie Boys - Licensed To Ill (1986)

Ao contrário do que possa parecer para uma juventude menos atenta, o rap nem sempre foi popular. Abordando temas que somente os negros dos subúrbios se identificavam, o estilo cresceu no gueto da indústria. O primeiro salto para o mainstream se deu com o Beastie Boys e seu álbum de estreia, Licensed To Ill (1986).


É verdade que quando o disco foi lançado, a parceria do Run-D.M.C. com o Aerosmith acabara de estourar na MTV. Todavia, foram os três branquelos judeus fãs de Bad Brains e Grandmaster Flash que levaram o hip hop pela primeira vez ao topo da Billboard. O rap finalmente chegara ao grande público.

Um dos grandes responsáveis pelo sucesso dos Beasties Boys foi Rick Rubin, que aperfeiçoou o rap dos moleques, produziu o disco, os colocou numa tour com a Madonna e outros mestres do hip hop (LL Cool J e o próprio Run-D.M.C., por exemplo) e lançou o álbum pela Def Jam, na época um pequeno selo da Columbia.

O trabalho traz muito das influências rockeiras do trio, vide o sample de Black Sabbath em "Rhymin & Stealin", Led Zeppelin em "She's Crafty" e até mesmo a participação do Kerry King do Slayer - que na época também era produzido por Rubin - em "No Sleep Till Brooklyn" (nome em homenagem ao clássico disco ao vivo do Motörhead, No Sleep Till Hammersmith) e no hit "(You Gotta) Fight For Your Right (To Party)", que fez estrondoso sucesso na programação da MTV.

Todavia, os timbres de bateria eletrônica e o estilo de rimar em "The New Style", "Posse In Effect" e "Hold It Now, Hit It", além dos scratchs em "Paul Revere", o clima festivo do miami bass em "Brass Monkey" e a aula de discotecagem em "Time To Get Ill", são a pura essência do rap. Os três estavam naquilo para se divertir e falar besteiras - algumas delas bastante problemáticas -, mas também tinham conhecimento de causa.

O grupo fez trabalhos mais sofisticados e interessantes no decorrer da carreira, mas Licensed To Ill se mantém como pedra fundamental do rap, além de sonoramente divertido.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

ACHADOS DA SEMANA: Stone Temple Pilots, Arnaldo Baptista, Tank e Antonio Adolfo

STONE TEMPLE PILOTS
É inevitável no dia da morte do Scott Weiland não se pegar reouvindo os ótimos discos do STP (e constar novamente que o Velvet Revolver não foi grande coisa). Essa música fez parte da minha infância:

ARNALDO BAPTISTA
Caixa dos Mutantes, caixa da carreira solo do Arnaldo Baptista (com direito a registros com a Patrulha do Espaço) e esse vídeo vazado. Que semana especial para os fãs do grande Arnaldo!

TANK
Gosta de Motörhead? Claro, né. Então faça como eu e pesquise por essa banda. Heavy rock simples e direto.

ANTONIO ADOLFO
Feito Em Casa (1977). Dizem ser o primeiro disco independente lançando no Brasil. Mas muito além disso, o álbum é uma pérola da música brasileira que precisa ser descoberto pelo seu conteúdo sonoro.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

TEM QUE OUVIR: Earth, Wind & Fire - That's The Way Of The World (1975)

Narrar a história de That's The Way Of The World (1975) é percorrer por fracassos. Primeiro do filme homônimo, que caiu no limbo deixando ao menos essa brilhante trilha sonora para posteridade. O segundo fracasso é do Earth, Wind & Fire, que mesmo com cinco discos na bagagem, ainda não havia conseguido grande sucesso comercial.


Foi na sexta tentativa que as coisas começaram mudar para a banda. Guiados pelo carismático Maurice White e o espetacular baixista Verdine White, o grupo fez do trabalho uma coleção de hits. A começar por "Shining Star", dona de balanço contagiante e passagens que ajudariam a popularizar a disco music anos depois.

A balada "That's The Way Of The World" também fez enorme sucesso. Seus vocais agudos e arranjo esplêndido são um símbolo da produção fonográfica da época. O mesmo vale para "Reasons", uma canção de grande apelo radiofônico, mas que passa longe da mediocridade. 

O groove de "Happy Feeling" (que baixo!), o instrumental afiado de "Africano", o tempero tão latino quanto jazzistico de "See The Light", a dançante e cheia de metais "Yearnin' Learnin'", além do arranjo quase cinematográfico da balada romântica "All About Love", completam esse trabalho espetacular.

Ao ouvir That's The Way Of The World, não pude deixar de pensar em qualidades oriundas ao "funk" e "pop" que foram perdidas. E digo isso sem qualquer juízo de valor moralista, é apenas a impressão que fica.

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

TEM QUE OUVIR: Thin Lizzy - Jailbreak (1976)

O Thin Lizzy é cultuado na Irlanda desde o seu primeiro disco. Com elementos de hard rock, heavy metal, r&b e da música tradicional do país - além de um clima etílico típico dos pubs locais -, a banda transcendeu o sucesso local para tornar-se um fenômeno global. Isso se deu no clássico Jailbreak (1976), sexto lançamento do grupo, dono de capa estupenda.


Liderado por Phil Lynott, o baixista/vocalista/compositor de voz potente e groove natural, o grupo reúne neste disco composições com a maturidade e a potência necessária que qualquer banda de hard rock deveria atingir, embora poucas consigam.

"Jailbreak" abre o disco evidenciando riff e refrão fáceis e pegajosos. Não por acaso a faixa tornou-se um sucesso. Outro hit avassalador é "The Boys Are Back In Town", dona de linha de baixo elegante e aquele estilo vocal "meio falado" tão característico de Phil. Faixas como "Runnin Back" e "Romeo And The Lonely Girl" também se mostram bastante acessíveis, principalmente pela força de seus refrães.

Em "Angel From The Coast", paralelo a um groove dançante, a dupla de guitarras formada Brian Robertson e Scott Gorham despeja melodias dobradas que tanto influenciaram grupos como Iron Maiden. Em termos de guitarra, é impossível também não destacar a faixa "Warriors" e a pesada "Emerald".

Todavia, nada consegue soar melhor que "Cowboy Song", canção dona de dinâmica crescente, refrão cativante, guitarras melodiosas/rockeiras e a voz potente de Phil Lynott em um de seus grandes momentos.

Pouco depois o grupo se consagraria com o ao vivo Live And Dangerous (1978), disco também excelente, mas repleto de overdubs, sendo assim preferível ouvir as canções em sua forma original de estúdio.

Neil Young: 7 músicas para 7 décadas de vida

Minha coluna dessa semana no Maria D'escrita:

Nos últimos dias, dezenas de sites homenagearam os 70 anos de um dos maiores compositores do século: Neil Young. O Maria D’escrita não ficou de fora dessa.


O artista canadense de obra indispensável percorreu por diversos estilos durante sua longa carreira. Folk, country rock e hard rock, chegando até mesmo a ser o precursor da sonoridade grunge.

Tentarei reunir neste post não necessariamente as melhores canções de Neil, mas sim traçar uma resumida linha do tempo de um artista inquieto e extremamente influente. Tarefa difícil. Sem mais delongas, vamos as músicas:

1: Buffalo Springfield – Broken Arrow (1967)
Logo no início de carreira, Neil Young se viu cercado de ótimos músicos/compositores no lendário grupo Buffalo Springfield, que revelou não somente ele, mas também Richie Furay, Jim Messina, Stephen Stills e outros personagens importantes da música. A fusão proposta de folk rock, pop e rock psicodélico é maravilhosa. O grupo não fez tanto sucesso, mas deixou trabalhos hoje cultuados.

2: Neil Young & Crazy Horse – Down By The River (1969)
Como uma espécie trovador caipira, Neil Young deu luz a sua carreira solo acompanhado pelo espetacular grupo Crazy Horse. Com eles, durante toda a década de 1970, gravou álbuns não menos que clássicos, sendo o primeiro deles um dos meus prediletos.

3: Crosby, Stills, Nash & Young – Helpless (1970)
Em 1970, Neil se juntou aos já cultuados Crosby, Stills & Nash - sendo o Stills aquele do já citado Buffalo Springfield -, para lançar um trabalho emblemático na discografia mundial: Déjà-Vu. O álbum é um apanhado de canções memoráveis, de doçura acústica intensa.

4: Neil Young – Heart Of Gold (1972)
Em 1972, diante de tragédias pessoais e tristeza profunda, Neil lançou seu maior sucesso comercial. O disco Harvest, repleto de baladas folks preciosas, despontou principalmente devido o hit “Heart Of Gold”.

5: Neil Young & Crazy Horse – Cortez The Killer (1975)
Algo importante de salientar sobre Neil Young é que, além de compositor brilhante, ele é também um guitarrista subestimado. A prova disso está no épico solo de “Cortez The Killer”, presente no indispensável álbum Zuma (1975). A faixa desmistifica o conquistador espanhol Hernán Cortés.

6: Neil Young & Crazy Horse – My My, Hey Hey (Weld) (1991)
Se a década de 1980 foi para Neil marcada por trabalhos irregulares, logo ele se reinventou abusando de sua fúria de lenhador. Com som bastante encorpado, influenciou grupos como Pearl Jam e Mudhoney, apadrinhando diretamente o grunge. Embora com excelentes discos de estúdio, o ao vivo Weld (1991) é o que mais me emociona. Poucas vezes na história do rock uma banda soou tão visceral. O público responde a toda essa energia vinda do palco com mais intensidade ainda. Um registro magnifico do poder da música. Já sobre a faixa “My My, Hey Hey”, é interessante lembrar que ela traz uma das frases que Kurt Cobain usou em sua carta de suicídio (“É melhor queimar de uma vez do que se apagar aos poucos”). O riff areoso da canção é um dos meus prediletos.

7: Neil Young & Crazy Horse – Le Noise (2010)
Um disco recente do Neil que mostra que ele ainda pode ser relevante, ousado e barulhento.

terça-feira, 17 de novembro de 2015

TEM QUE OUVIR: Stevie Wonder - Talking Book (1972)

O início da década de 1970 foi ultra produtivo para o Stevie Wonder. Com singles de sucesso, amadurecimento artístico, acesso a novas tecnologias de gravação e com a Motown dando o aval para que ele tivesse autonomia com relação a sua obra, Stevie se inspirou e ofereceu ao público preciosidades como o Talking Book (1972).


Com overdubs a disposição, Stevie Wonder pouco utilizou outros músicos, sendo que quando fez, era para explorar talentos específicos, vide a primorosa participação do guitarrista Jeff Beck em "Lookin For Another Pure Love". Todavia, é preciso lembrar que ao seu lado estavam os inventivos Robert Margouleff e Malcolm Cecil, ajudando-o a programar os sintetizadores.

Stevie se enclausurou no estúdio com as composições, finalizou os arranjos e tocou 95% dos instrumentos. Essa amostra de talento e confiança se fez valer nas espetaculares "You And I (We Can Conquer The World)", uma balada linda de harmonia perfeita; "Big Brother", onde ele demonstra seu conhecido talento com a gaita; e na clássica "I Believe (When I Fall In Love It Will Forever)", que eleva ao nível de genialidade a dor de cotovelo.

Ainda que conte a guitarra especial/estridente de Ray Parker Jr, o que chama atenção em "Maybe You Baby" é o arranjo para backing vocals, explorando sua tessitura absurda, além da linha de baixo ultra swingada extraída de um Moog Bass.

Mas o timbre que melhor define o álbum é o do clavinet Hohner, presente por exemplo na não menos que genial "Superstition", canção de groove acachapante. A faixa foi crucial para alavancar as vendas do disco.

Outro mega hit é "You Are The Sunshine Of My Life", que abre o álbum num arranjo crescente em clima de jam, ressaltando sua leveza latina e espetacular melodia.

Poucas são as canções da música pop melhores que a sofisticada "You've Got It Bad Girl" e a melosa "Blame It On The Sun", uma balada dilacerante sobre fim de relacionamentos (no caso de Stevie, o término foi com a cantora Syreeta Wright).

Após o lançamento do disco, Stevie Wonder caiu na estrada com os Rolling Stones. Sete meses depois ele já apareceu com outro clássico fundamental: Innervisions. Mas aí é história para um próximo "Tem Que Ouvir"

sábado, 14 de novembro de 2015

Coletânia de música POP brasileira

Inspirado no texto de hoje da coluna do André Barcinski, onde ele postou sua coletânea pessoal que usa para atrair seus filhos para música pop brasileira (da maneira mais ampla que esse rótulo pode englobar), decidi fazer a minha playlist, embora nem filho tenha.

Na verdade, eu apliquei um raciocínio um pouco diferente. Pensei em canções que estão no subconsciente coletivo. Para uma nova criatura, essa consciência tem que vir de algum lugar.


Muitas canções se repetem em ambas listas (clássico é clássico). Por outro lado, eu inclui nomes do samba, pagode, sertanejo e axé que não podem ficar de fora quando o assunto é pop brasileiro. Tentei também abranger a canção brasileira pré 1967, período tão valioso na nossa história musical, embora nem sempre valorizado.

Sem mais papo furado, tá ai. Uma música por artista. Não necessariamente as melhores de cada, mas todas tentando explorar o lado lúdico de uma criança.

14 Bis - Bola de Meia, Bola de Gude
A Cor do Som - Zanzibar
Adoniran Barbosa - Samba do Arnesto
Adriana Calcanhoto - Esquadros
Agnaldo Timóteo - Os Verdes Campos da Minha Terra
Agnaldo Rayol - Minha Gioconda
Alceu Valença - Morena Tropicana
Alcione - Não Deixe O Samba Morrer
Almir Guineto - Conselho
Almir Ricardi - Tô Parado Na Tua
Almir Rogério - Fuscão Preto
Almôndegas -  Vento Negro
Altemar Dutra - Sentimental Demais
Alypyo Martins - Piranha
Amelinha - Frevo Mulher
Antonio Carlos & Jocafi - Você Abusou
Antônio Marcos - O Homem de Nazareth
Angela Ro Ro - Amor Meu Grande Amor
Angelo Maximo - Domingo Feliz
Aracy de Almeida - Camisa Amarela
Ara Ketu - Ara Ketu Bom Demais
Arthur Verocai - Na Boca do Sol
Art Popular - Telegrama
Ary Barroso - Aquarela do Brasil
As Marcianas - Porque Brigamos
Ataulfo Alves - Na Cadência do Samba
Ave Sangria - O Pirata
Azul 29 - Vídeo Game
Azymuth - Linha do Horizonte
Baden Powell & Vinícius de Moraes - Canto de Ossanha 
Banda Black Rio - Maria Fumaça
Banda de Pau e Corda - Esperança
Banda Eva - Beleza Rara
Banda Mel - Baianidade Nagô
Barão Vermelho - Pro Dia Nascer Feliz
Bebeto - Morte da Sandália de Couro
Belchior - Medo de Avião
Benito Di Paula - Charlie Brown
Beth Carvalho - Vou Festejar 
Beto Barbosa - Adocica
Beto Guedes - Feira Moderna 
Black Junior's - Mas Que Linda Estás
Blitz - Você Não Soube Me Amar
Boca Livre - Toada
Brazilian Genghis Khan - Rasputin
Brylho - Noite de Prazer 
Caetano Veloso - Eclipse Oculto
Calypso - A Lua Me Traiu
Camisa de Vênus - Passatempo
Capital Inicial - Música Urbana
Carlinhos Brown - A Namorada
Carlos Alexandre - A Cigana
Carlos Dafé - De Alegria Raiou O Dia
Carmen Miranda - Tico-Tico No Fubá
Cartola - O Mundo É Um Moinho
Casa das Máquinas - Vou Morar No Ar
Cassiano - Coleção
Cauby Peixoto - Conceição 
Celly Campelo - Banho de Lua
Céu - Comadi
Charlie Brown Jr. - Quinta-Feira
Chico Buarque - A Banda
Chico César - Á Primeira Vista
Chico Science & Nação Zumbi - Maracatu Atômico
Chitãozinho & Xororó - Coração Sertanejo
Chrystian & Ralf - Nova York
Cidadão Instigado - Como As Luzes
Cidade Negra - Firmamento
Claudinho & Buchecha - Conquista
Claudia Telles - Fim de Tarde
Clara Nunes - O Mar Serenou
Clementina de Jesus - Marinheiro Só
Cólera - Medo
Criolo - Subirusdoistiozin
Cyro Monteiro - Falsa Baiana
Dalto - Muito Estranho (Cuida Bem De Mim)
Dalva de Oliveira - Bandeira Branca
Daniela Mercury - O Canto da Cidade
Deborah Blando - Unicamente
Defalla - Não Me Mande Flores
Demetrius - O Ritmo da Chuva
Di Melo - Kilario 
Djavan - Flor de Lis
Dj Patife - Sambassim
Dj Marlboro / Jack e Chocolate - Um Morto Muito Louco
Dolores Duran - A Banca do Distinto
Dominguinhos - Eu Só Quero Um Xodó
Dom Salvado & Abolição - Hei! Você
Doris Monteiro - É Isso Aí
Dudu França - Grilo Na Cuca 
Ed Motta - Colombina 
Ednardo - Pavão Mysterioso
Eduardo Araújo - O Bom
Eduardo Dussek - Nostradamus
Egberto Gismonti - Palhaço
Egotrip - Viagem Ao Fundo do Ego
Elis Regina - Velha Roupa Colorida
Elizeth Cardoso - Outra Vez
Elson do Forrogode - Talismã
Elza Soares & Miltinho - Com Que Roupa
Emilio Santiago - Verdade Chinesa
Erasmo Carlos - Masculino Feminino
Evaldo Braga - Sorria, Sorria
Evinha - Espera Pra Ver
Exaltasamba - Desliga e Vêm
Exporta Samba - Reunião de Bacana
Fábio Jr. - Alma Gêmea
Fafá de Belém - Vermelho
Fagner - Deslizes
Fat Family - Eu Não Vou
Fernanda Abreu - Sla Radical Dance Disco Club
Fernanda Porto - Só Tinha de Ser Com Você
Fernando Mendes - Você Não Me Ensinou A Te Esquecer 
Francisco Alves / Mario Reis - Fita Amarela
Frenéticas - Dancin' Days
Fausto Fawcett - Kátia Flávia
Gal Costa - Festa do Interior
Gang 90 & Absurdetes - Perdidos Na Selva
Garotos Podres - Papai Noel Velho Batuta
Genival Lacerda - Radinho de Pilha
Geronimo Santana - Eu Sou Negão
Gerson King Combo - Mandamento Black
Gilberto Gil - Palco
Gilliard - Aquela Nuvem
Golden Boys - Alguém Na Multidão
Gonzaguinha - E Vamos À Luta
Grupo Revelação - Velocidade da Luz
Grupo Rumo - Minha Cabeça
Gueto - G.U.E.T.O.
Guilherme Arantes - Meu Mundo E Nada Mais
Hermes Aquino - Nuvem Passageira
Herva Doce - Erva Venenosa
Hojerizah - Pros Que Estão Em Casa
Hyldon - As Dores do Mundo
Ilê Aiyê - Que Bloco É Esse
Inezita Barroso - Malvada Pinga
Inimigos do Rei - Uma Barata Chamada Kafka
Inocentes - Ele Disse Não
Itamar Assumpção - Fico Louco
Ivan Lins - Novo Tempo
Ira! - Núcleo Base
Jackson do Pandeiro - Chiclete Com Banana
Jair Rodriguez - Deixa Isso Pra Lá
Jane Duboc - Sonhos
Jane & Harondy - Não Se Vá
Jards Macalé - Mal Secreto
Jayne - Amigos Para Sempre
Jerry Adriani - Doce Doce Amor
Jessé - Solidão de Amigos
Joanna - Amanhã Talvez
João Bosco - De Frente Pro Crime
João Donato - A Rã 
João Nogueira - Um Gago Apaixonado
João Penca E Os Miquinhos Amestrados - Popstar
João So - Menina da Ladeira
Joelho de Porco - São Paulo By Day
José Augusto - De Que Vale Ter Tudo Na Vida
Jorge Ben - Ponta de Lança Africano
Jorge Mautner - Samba Jambo
Joyce - A História do Samba
Juca Chaves - Take Me Back To Piauí
Kaleidoscopio - Tem Que Valer
Karnak - Alma Não Tem Cor
Katia - Lembranças
Katinguelê - Recado A Minha Amada
Kaoma - Lambada
Kiko Zambianchi - Rolam as Pedras
Kiloucura - Pela Vida Inteira
Kleiton & Kledir - Deu Pra Ti
Lady Zu - A Noite Vai Chegar
Leandro & Leonardo - Não Aprendi A Dizer Adeus
Leci Brandão - Zé do Caroço
Legião Urbana - Será
Leila Pinheiro - Tudo Em Cima
Lenine - Jack Soul Brasileiro
Leno e Lilian - Não Acredito 
Leo Jaime e Kid Abelha - Fórmula do Amor
Lia de Itamaracá - Discoteca de Pracinha
Lindomar Castilho - Você É Doida Demais
Lobão - Me Chama
Lô Borges - O Trem Azul
Los Hermanos - Tenha Dó
Luis Vagner - Guitarreiro
Luiz Caldas - Tieta
Luiz Gonzaga - A Vida do Viajante
Luiz Melodia - Estácio, Eu e Você
Lulu Santos - Tempos Modernos
Lupicínio Rodrigues - Loucura
Magazine - Sou Boy
Márcio Greyck - Impossível Acreditar Que Perdi Você 
Marcos Sabino - Reluz
Marcos Valle - Estrelar
Maria Bethânia - Não Dá Mais Pra Segurar (Explode Coração)
Marina Lima - Fullgás
Marisa Monte - Ainda Lembro
Markinhos Moura - Meu Mel
Martinha - Eu Daria Minha Vida
Martinho da Vila - Visgo da Jaca
Mauricio Manieri - Bem Querer
Maysa - Meu Mundo Caiu
Mercenárias - Polícia
Miúcha - Pela Luz Dos Olhos Teus 
Milton Nascimento - Maria, Maria
Moacyr Franco - Eu Nunca Mais Vou Te Esquecer
Moraes Moreira - Pombo Correio
Mundo Livre S/A - Meu Esquema
Nana Caymmi - Resposta Ao Tempo
Nara Leão - O Sol Nascerá 
Nei Lisboa - Telhados de Paris
Nelson Cavaquinho - Juízo Final
Nelson Gonçalves - Naquela Mesa
Nelson Ned - Tudo Passará
Nico Rezende - Esquece e Vem
Nilton Cesar - A Namorada Que Sonhei
Noel Rosa - Conversa de Botequim
Noriel Vilela - 16 Toneladas
Novos Baianos - Os Pingo Da Chuva
Odair José - Nunca Mais
Olodum - Vem Meu Amor
O Rappa - A Feira
Orlandivo - Onde Anda o Meu Amor
Orlando Silva - Carinhoso
Os Incríveis - Marcas do Que Se Foi
Os Mutantes - Não Vá Se Perder Por Ai
Os Paralamas do Sucesso - Óculos
Os Originais do Samba - Falador Passa Mal
Os Replicantes - Surfista Calhorda
Os Tincoãs - Cordeiro de Nanã
Os Travessos - Tô Te Filmando (Sorria)
Os Vips - A Volta
Oswaldo Montenegro - Os Bandolins
O Terço - Hey Amigo
Otto - Dias de Janeiro
Ovelha - Sem Você Não Viverei / Te Amo Que Mais Posso Dizer
Painel de Controle - Coco Preto
Pato Fu - Made In Japan
Patricia Marx - Quando Chove
Paulinho da Viola - Timoneiro
Paulinho Moska - Pensando Em Você
Paulo Diniz - Pingos de Amor
Pepê e Neném - Mania de Você
Peninha - Sonhos
Picassos Falsos - Quadrinhos
Pinduca - Mistura de Carimbó com Ciranda
Plebe Rude - Johnny Vai A Guerra
Premê (Premeditando o Breque) - São Paulo, São Paulo
Quarteto Novo - O Ovo
Raça Negra - É Tarde Demais 
Racionais MC's - Pânico na Zona Sul
Radio Taxi - Um Amor de Verão
Raul Seixas - Que Luz É Essa
Renato & Seus Blue Caps - Feche Os Olhos 
Rita Lee - Flagra
Ritchie - Pelo Interfone 
Robertinho de Recife - O Elefante
Roberto Carlos - Todos Estão Surdos
Robinson Monteiro - Pra Sempre Eu Vou Te Amar
Robson Jorge & Lincoln Olivetti - Aleluia
Ronnie Cord - Rua Augusta
Ronnie Von - Cavaleiro de Aruanda
Rosana - O Amor e o Poder
Roupa Nova - Lumiar
RPM - Revoluções Por Minuto
Ruy Maurity - Nem Ouro Nem Prata
Sandra de Sá - Retratos e Canções
Sampa Crew - Eterno Amor
Sá & Guarabyra - Sobradinho
Sá, Rodrix & Guarabyra - Roque Santeiro
Secos & Molhados - Mulher Barriguda
Sempre Livre - Eu Sou Free
Serginho Meriti - Bons Momentos
Sérgio Reis - Coração de Papel
Sérgio Sampaio - Leros e Leros e Boleros
Sidney Magal - Meu Sangue Ferve Por Você
Silvinha (Sylvinha Araújo) - Jure Por Mim
Silvio Brito - Pare o Mundo Que Eu Quero Descer
Simone - Tô Voltando 
Skank - Mandrake e os Cubanos
Só Pra Contrariar - Que Se Chama Amor
Soweto - Farol das Estrelas
Taiguara - Universo No Teu Corpo
Tavito - Rua Ramalhete
Tetê Espíndola - Escrito Nas Estrelas
Téo Azevedo - O Novo De Hoje Já É Velho Aqui
Thaíde & DJ Hum - Sr. Tempo Bom
The Fevers - Vem Me Ajudar
Timbalada - Beija-Flor
Tim Maia - Coroné Antônio Bento
Titãs - AA UU
Tonico & Tinoco - Chico Mineiro
Toquinho e Vinicius de Morais - Tarde Em Itapoan
Tokyo - Garota de Berlim
Tom Zé - A Briga do Edifício Itália Com O Hilton Hotel
Toni Tornado - Podes Crer, Amizade
Tony Bizarro - Não Vai Mudar
Trio Los Angeles - Vamos Dançar Mambole
Trio Mocotó - Desapareça
Trio Ternura - Vou Morar No Teu Sorriso
Tulipa Ruiz - Prumo
Tunai - Frisson
Ultraje A Rigor - Nós Vamos Invadir Sua Praia
Vanessa da Mata - Amado
Vanessa Rangel - Palpite
Vange Leonel - Noite Preta
Vanusa - Manhãs de Setembro
Vicente Celestino - O Ébrio
Vinicius Cantuaria - Só Você
Violeta de Outono - Dia Eterno
Waldik Soriano - Eu Não Sou Cachorro Não
Wanderléa - Prova de Fogo 
Wanderley Cardoso - O Bom Rapaz
Wando - Fogo e Paixão
Wilson Simonal - Sá Marina
Zeca Pagodinho - Se Eu Sorrir Tu Não Pode Chorar
Zé Ketti - Diz Que Fui Por Aí
Zélia Duncan - Alma
Zé Ramalho - Admirável Gado Novo
Zero - Agora Eu Sei
Zé Rodrix - Casa No Campo
Zezé Di Camargo & Luciano - É O Amor
Zizi Possi - Asa Morena

Acredito que essa playlist oferece vasta opção de estilos musicais, sempre primando por uma qualidade lírica e/ou melódica, sem subestimar capacidade de compreensão de uma criança. E ainda assim é pop. Tenho certeza que toda criança ouvirá sem pré-conceitos. Faça isso você também.

Deixem suas sugestões, listas e discordâncias nos comentários.

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

TEM QUE OUVIR: Sonic Youth - Goo (1990)

Durante a década de 1980, o Sonic Youth ajudou a fomentar o rock alternativo com discos emblemáticos, vide Daydream Nation (1988). Melhor aceito no mercado, com um contrato com a grande Geffen, prevendo a explosão grunge e preste a sair em turnê com Dinosaur Jr. e Nirvana, a acessibilidade ruidosa presente em Goo (1990) ajudou a fazer do grupo uma lenda atuante. 


As guitarras sempre intrigantes e estranhamente harmoniosas de Lee Ranaldo e Thurston Moore preenchem a abertura misteriosa de "Dirty Boots", faixa magnifica em seu meio explosivo e final delirante. Mas nada que se equipare ao esporro presente em "Tunic (Song For Karen)" - sobre a morte trágica de Karen Carpenter -, com aquela atitude sonora punk e texto digno de uma Patti Smith. 

"Mote" é o cartão de visita para entender os arranjos nada ortodoxos de guitarras - diretamente influenciados pelo ícone da no wave, Glenn Branca - presentes nas composições do grupo. Mais uma vez os feedbacks intermináveis se fazem valer no fim da canção. Já suas afinações alternativas soam absurdamente fantásticas e provocam harmonias singulares, vide "Disappearer".

Surpreende como no meio de tanta barulheira, Kim Gordon consegue soar melódica e amedrontadoramente sexy em "My Friend Goo" e "Cinderella's Big Score". 

A clássica "Kool Thing" chama atenção por trazer a curiosa participação do Chuck D (Public Enemy). O riff e o refrão da música são emblemas do rock alternativo do período. A energia elevada em "Mary-Christ" e "Mildred Pierce" - dona de grandioso timbre de baixo e vestígios de black metal no final - é perfeitamente condizente com a época. E quando tudo parece ter acabado, sobra espaço para a barulhenta "Scooter + Jinx" e a espetacular "Titanium Exposé".

Brilhante não somente nesse disco, o Sonic Youth construiu uma carreira recheada de diversos acertos, ganhando prestigio e tornando-se símbolo sonoro e conceitual do rock alternativo. Goo se sobressaiu na discografia ao menos ao estampar sua ótima capa (de autoria do Raymond Pattibon) nas camisetas dos indies.

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

TEM QUE OUVIR: Peter Tosh - Legalize It (1976)

O reggae tem alguns discos definitivos, sendo a maior parte deles do Bob Marley. Todavia, Peter Tosh, o deserdado mais famoso dos Wailers, também prestou enorme contribuição musical e ideológica ao estilo.


De temperamento explosivo, Tosh atuou na luta pelos direitos humanos, ajudou na divulgação da cultura rastafári e é um dos personagens mais conhecidos dos movimentos pró-maconha. Neste último quesito, Legalize It (1976) é a obra definitiva. Da sua ótima capa - contendo o artista puxando um fumo em meio a plantação da erva -, passando pela temática das letras e até mesmo a maneira vagarosa com que ele toca guitarra, o disco todo é um manifesto/ode a cannabis.

O álbum contém músicos peritos no estilo, vide o baixista Aston "Family Man" Barret e o baterista Carlton Barrett. Isso contribui para o mantra delirante e esfumaçado que as canções proporcionam, sendo a faixa titulo "Legalize It" um enorme sucesso.

A parceria com Bob se mantém em "Why Must I Cry", mas o disco tem outros destaques. "Burial" é resultado do que aconteceria de Marvin Gaye fosse jamaicano. A linha que separa o reggae do pop em "Whatcha Gonna Do" fica ainda mais tênue. A balada "Till Your Well Runs Dry" é de melodia apaixonante. Em "No Sympathy" a guitarra tem toques de blues que tendem a agradar mesmo quem não se interessa pelo ritmo jamaicano. Já o piano em "Igziabeher" oferece ao trabalho uma tensão interessante. Dá também para imaginar os membros do The Clash curtindo "Ketchy Shuby".

Peter Tosh teve outros acertos no decorrer de sua carreira, sendo seu disco de estreia uma ótima porta de entrada (sem trocadilho) para entender sua influência e musicalidade preciosa.

ACHADOS DA SEMANA: Ricardo Ribeiro, RZO, Pizzicato Five e Grateful Dead

RICARDO RIBEIRO
Tem um jovem cantor brasileiro de fado mixando seu disco no estúdio em que trabalho. Achei tudo muito bonito e acabei pegando essa referência dele para escutar um pouco. É muito bom. 

RZO
Fiz recentemente um texto com 25 discos de Hip Hop (tá por aqui no blog, quem quiser é só pesquisar). Acabei colocando só o Sobrevivendo No Inferno dos Racionais de nacional. Se fosse para colocar mais um seria esse:

PIZZICATO FIVE
Só conhecia a clássica "Twiggy Twiggy", mas não é que esse grupo japonês tem outras músicas bem legais.

GRATEFUL DEAD
Viva o YouTube!

TEM QUE OUVIR: Black Flag - Damaged (1981)

Precursores da cena punk rock californiana, o Black Flag penou para tornar-se um grupo estável. Após as formações com os vocalistas Keith Morris (posteriormente Circle Jerks) e Ron Reyes, um tal de Henry Rollins assumiu o posto e fez da banda uma das mais poderosas da história.


Demaged (1981) é o primeiro álbum do grupo, lançado após anos ralando nos palcos mais perigosos dos EUA. O debut foi lançado pela SST, selo extremamente influente fundado pelo guitarrista Greg Ginn. A produção ficou a cargo do icônico Spot.

Aqui o humor se faz valer em momentos de puro brilhantismo e sagacidade, vide a clássica "TV Party", perfeita pra cantar na adolescência com os amigos. Em outros momentos, é o discurso inteligente/agressivo de Rollins que toma a frente, como por exemplo em "Police Story".

Superando os clichês do punk rock, o subestimado Greg Ginn apresenta riffs cacofônicos e melodicamente estranhos, além de peso e velocidade que influenciaram diversas bandas de hardcore e thrash metal. Dentre tantos exemplos temos a espetacular "Rise Above" e as cacofônicas "Thirsty And Miserable" e "Damaged II" (até o Sonic Youth deve ter bebido desta fonte barulhenta).

Faixas como "Spray Paint", "Depression" e "Gimmie Gimmie Gimmie" (essa última de ritmo meio truncado) são puro hardcore em estado embrionário. A violência tanto sonora quanto de atitude fez com que os integrantes do grupo fossem considerados ameaçadores pela polícia, sendo seus shows constantemente vigiados.

Há ainda momento sonoramente aventureiros, vide a intensidade crescente de "No More", a estranha introdução de "Life Of Pain" (que sempre me remeteu a "The Dance Of Maya" da Mahavishnu Orchestra) e a sludge/grunge "Damaged I".

Anos depois o som da banda tonou-se ainda mais desafiador e complexo - ainda falarei sobre o espetacular My War (1984) nesta coluna do blog -, mas é exatamente o esporro de Damaged a preferência entre os fãs de punk rock.

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Max Martin e Dr. Luke: Astros invisíveis da música POP

Dinheiro? Contato? Talento? Sorte? O que está por trás do sucesso inquestionável de Max Martin e Dr. Luke?


Embora poucos saibam quem é o Max Martin, é quase impossível que você não tenho ouvido uma de suas obras POP's. Isso porque ele está por trás (seja enquanto compositor, produtor ou ambos) de sucessos dos Backstreet Boys, Britney Spears, N'Sync, Pink, Katy Perry, Taylor Swift, Ariana Grande, Demi Lovato e tantos outros personagens da música POP dos últimos 20 anos.

Martin acumula mais músicas (18 no total) no Top 1 da Billboard que o Michael Jackson, Elton John e Stevie Wonder, perdendo somente para Paul McCartney (32) e John Lennon (26).


Até uma cria ele já deixou pro mercado, seu nome é Dr. Luke e ele já é o segundo produtor com mais canções no topo das paradas da Billboard, perdendo somente para George Martin. É dele sucessos da Britney Spears, Shakira, Katy Perry, Miley Cyrus, Rihanna, Kesha, dentre tantas outras "divas" da música.

Querem saber mais sobre ambos? Recomendo esse texto do André Barcinski: Acha A Música POP Atual Um Lixo? Agradeça A Esse Cara...

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

TEM QUE OUVIR: Ice-T - O.G. Original Gangster (1991)

Em 1991, o gangsta rap era uma realidade e já havia feito estrago através do N.W.A.. Todavia, foi o Ice-T que apresentou o manual para o que viria a ser o estilo. Isso se deu através do pesado O.G. Original Gangster.


Curiosamente, ao contrário de muito que é feito nesta subvertente do hip hop, o disco usa temas urbanos violentos não para seduzir, mas para destruir. Até quando ofende e soa agressivo, Ice-T justifica. Interpretar as letras é uma tarefa desafiadora e esclarecedora, o que por si só já é fantástico, mas tudo ganha potencial musical devido a força das rimas e atitude vocal do artista.

Com relação ao instrumental, que ficou a cargo do The Rhyme Syndicate, é impossível não destacar os timbres pesados de baixo, o som de caixa saltando aos ouvidos (é o perfeito boom bap) e os samples de James Brown, Funkadelic, Sly & The Family Stone e até mesmo Black Sabbath.

Faixas como "Mic Contract", "New Jack Hustler", "Straight Up Nigga" e "Bitches 2" - com toques de free jazz e pela primeira usando a expressão "bitches" sem ser machista - são exemplos máximos de groove e malandragem no rap.

Com som extremamente encorpado, o disco é o prefacio do rap-metal que Ice-T exploraria posteriormente com o Body Count (vide a faixa homônima "Body Count"). Logo Ice estava em festivais como Lollapalooza e recebendo elogios de nomes como Quincy Jones. O hip hop oferecia ao mundo mais um golpe de pura excelência sonora.

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

TEM QUE OUVIR: Free - Fire And Water (1970)

Que o auge do rock ocorreu entre o final da década de 1960 e o começo da década de 1970 é bastante perceptível para a grande maioria das pessoas. O que muitos ainda não perceberam é que havia muito mais neste período que Led Zeppelin, Black Sabbath e Pink Floyd. Um entre tantos exemplos é o Free, grupo inglês que lançou em 1970 seu terceiro álbum, o espetacular Fire And Water.


Com as raízes fincadas no blues e R&B, a banda trazia em sua linha de frente o vocalista Paul Rodgers e o guitarrista Paul Kossoff. Pouco depois entrou o prodígio baixista Andy Fraser - que desde os 15 anos já havia tocando com os grandes nomes do blues inglês, vide John Mayall & The Bluesbreakers - e o baterista Simon Kirke, dono de um ritmo preciso, reto e, de certa forma, com o freio de mão puxado.

Paul Rodgers traz forte influência da música negra em seu cantar, soando melódico, dramático e de timbre enorme. Seu estilo tem classe, é empostado e mais grave quando comparado aos seus contemporâneos de hard rock inglês. Destaques nestes aspectos estão na sacolejante "Fire And Water" e na balada "Remember".

Já o guitarrista Paul Kossoff é dono de um dos mais impressionantes timbres e vibratos da história da guitarra. Seu solo no hit "All Right Now" não por acaso tornou-se emblemático. 

Como esquecer também da linha de baixo do Andy Fraser na espetacular "Mr. Big"? É um som robusto, gorduroso e melodicamente viajante.

Em 1976, Kossoff morreu prematuramente após enfrentar problemas com drogas. Enquanto isso, Paul Rodgers fazia enorme sucesso ao lado do Simon Kirke no Bad Company (e décadas depois saiu em turnê com o Queen). Já o Free, embora de sucesso moderado, tornou-se um nome indispensável do hard rock de todos os tempos.

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

TEM QUE OUVIR: Guided By Voices - Bee Thousand (1994)

Em meados da década de 1990, o rock alternativo se viu comercialmente viável através de bandas como o Sonic Youth. Veteranos do rock independente, o Guided By Voices finalmente começara a chamar alguma atenção. Com o Bee Thousand e sua produção de orçamento mínimo, o grupo oriundo de Ohio lançou o guia do que ficou conhecido como lo-fi.  


Daniel Johnston, Beat Happening e grupos de black metal escandinavos já haviam lançado pérolas de produção precária, mas o Guided By Voices fez disso um recurso para suas composições, firmando uma estética sonora por trás das músicas.

Entre o power pop perfeito das bandas da invasão britânica e o punk rock americano, as canções do grupo liderado pelo Robert Pollard trazem apenas aquilo que interessa. Nada de introduções, solos de guitarra ou outras enrolações. Grande parte das 20 composições tem pouco mais de 1 minuto e mais parecem partes A e B de ótimos refrães.

As guitarras barulhentas, a captação do áudio por vezes desfocada, a mixagem que parece ter sido feita as pressas e a masterização (se é que existe) sem coerência entre as faixas, são algumas das peculiaridades. Mas as composições agradam. Muito pelo apelo melódico e suas letras surrealistas/psicodélicas. Destaque para "Hardcore UFO's", "Tractor Rape Chain" e "I Am A Scientist".

Sem explodir no mercado, mas também sem parar de produzir, lançando até mesmo outras pérolas como Alien Lanes (1995), o grupo se firmou no cenário alternativo americano. O indie rock não seria o mesmo sem o Guided By Voices.

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

TEM QUE OUVIR: John Mayall & The Bluesbreakers - Blues Breakers with Eric Clapton (1966)

"Clapton Is God". Pichações com esses dizeres apareceram em Londres em meados da década de 1960, antes mesmo do lendário guitarrista formar o supergrupo Cream. Sua fama, que vinha desde os tempos do Yardbirds, chegara ao ápice com o lançamento do clássico Blues Breakers With Eric Clapton (1966), disco capitaneado por John Mayall ao lado de seu Bluesbreakers.


John Mayall é uma lenda do blues rock. Não é absurdo dizer que ninguém fez mais pelo blues na Inglaterra quanto ele. Só de guitarristas ele apresentou ao mundo Peter Green, Mick Taylor, além do próprio Clapton.

Neste disco, o baixo ficou a cargo do John McVie (sim, aquele mesmo do Fleetwood Mac). Ele forma a cama perfeita para que o "Deus da Guitarra" dilacere seu combo de “Les Paul + Marshall + microfone longe do falante” em faixas como "All Your Love", dona de introdução cortante. O timbre extremamente potente no solo da chorosa "Double Crossing Time" beira o absurdo. Para muitos, foi na gravação deste álbum que nasceu o som da guitarra rock como a conhecemos hoje.

O guitarrista inglês presta tributo aos seus ídolos americanos em "Hideway" (Freddie King) e "Ramblin' On My Mind" (Robert Johnson). Mas Mayall também era um grande compositor e isso ficou evidente nas contagiantes "Little Girl" e "Key To Love".

A busca de Clapton por uma sonoridade blues mais tradicional se faz valer em "Another Man". Em "Steppin' Out" ele arrebenta num intenso boogie. Já "What'd I Say" - com citação de "Day Tripper" (The Beatles) - é de força digna a Invasão Britânica.

Com único registro ao lado do Bluesbreakers, Eric Clapton aproximou a Inglaterra do Delta e conseguiu que blues fizesse parte da cultura britânica. Além, é claro, de ter proporcionado alguns dos melhores momentos da história da guitarra.

terça-feira, 20 de outubro de 2015

TEM QUE OUVIR: The Pretenders - Pretenders (1980)

Após a explosão punk na Inglaterra, dezenas de grupos fantásticos surgiram neste rastro, mas poucos sobreviveram tão bem ao teste do tempo quanto o Pretenders. Ainda assim, é justamente seu disco de estreia que se manteve como o documento definitivo da banda.


Já se apropriando de nuances mais pop dentro da estrutura básica do punk rock, o grupo foi fundamental para o desenvolvimento da new wave.

Em sua linha de frente estava a talentosa, carismática, engajada, sexy e poderosa Chrissie Hynde, uma antiga fã de Clash e jornalista da NME. Sua forma visceral de cantar e tocar guitarra fez dela uma das mais importantes (e imponentes) mulheres do rock. Sua garra pode ser sentida na consistente "Precious", seguida pelo ritmo intenso de "The Phone Call". 

Outra força do grupo era o guitarrista James Honeyman-Scott, um dos mais criativos da época. Entre seus melhores momentos estão a ritmicamente estranha "Tattooed Love Boys" e a instrumental "Space Invader". Infelizmente, seu vício em heroína colaborou para sua morte prematura 2 anos após o lançamento do disco. 

Outra faixa poderosa é a delirante "The Wait". Baladas mais melodiosas, mas não menos consistente, como se fosse uma versão inglesa do Blondie, se faz valer na preciosa "Up The Neck". Há também espaço para o reggae "Private Life".

O disco ainda guarda nas mangas sucessos como "Stop Your Sobbing" (The Kinks), "Kid" e "Brass In Pocket", tornando sua audição ainda mais indispensável para entender o rock daquele período. 

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

TEM QUE OUVIR: Megadeth - Rust In Peace (1990)

A década de 1990 começou bem para o thrash metal. Com a saturação do glam metal e o grunge derrubando as barreiras do mainstream, a visceralidade técnica de grupos como Metallica, Pantera, Sepultura e Megadeth começou a ganhar maior espaço comercialmente.


Parcialmente limpo das drogas, Dave Mustaine mantinha sua árdua luta em tentar superar o Metallica. A história mostra que comercialmente não deu muito certo, tendo em vista que seu antigo grupo lançou o mega sucesso Metallica - Black Album (1991). Todavia, artisticamente, Mustaine que ficou com o prestigio do público headbanger ao não fazer concessões comerciais.

Após recrutar o virtuoso guitarrista Marty Friedman, o ótimo baterista Nick Menza e fincar as estruturas do grupo ao lado do baixista David Ellefson, Mustaine fez do Rust In Peace um guia do speed metal e thrash metal.

Logo na introdução de "Holy Wars... The Punishment Due", uma cascata de riffs fantásticos, viradas de bateria com cavalares bumbo duplo, solos de guitarra virtuosamente melódicos e diferentes dinâmicas. Um clássico do metal e, para muitos (inclusive eu), a grande faixa do Megadeth.

Mas o sucesso comercial veio com o hit "Hangar 18", faixa com solos de guitarra desafiadores, evidenciando a qualidade técnica do grupo. "Tornado Of Souls" também é dona de emblemático solo, inclusive fazendo uso de intervalos melódicos nem tão usuais dentro do heavy metal.

A banda ainda acerta nas intensas e elaboradas de "Take No Prisoners", "Five Magics" e "Rust In Peace... Polaris", todas donas de introduções que são verdadeiras cacetadas. Vale dizer o som quente, orgânico, braçal e cristalino extraído na produção.

Se por um lado a voz de Pato Donald de Mustaine causa distanciamento de alguns, seu talento como compositor e as ótimas partes de guitarra prevalecem nas canções. Disco fundamental para o thrash metal.

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

TEM QUE OUVIR: Dr. John, The Night Tripper - Gris-Gris (1968)

Dr. John é uma lenda local de Nova Orleans. Um guru. Um personagem místico. A psicodelia encarnada. E tudo isso pode ser conferido neste disco.


Lançado em 1968, no auge no movimento hippie, do rock psicodélico e experimental, das drogas lisérgicas e da confusão política americana, Gris-Gris é um documento da época.

Dr. John é um pregador de vodu encarnado por Malcom Robert Rebennack, um experiente músico de Nova Orleans que deixou de ser guitarrista para tornar-se pianista após um estranho acidente com um revólver que o impossibilitou de tocar o instrumento de seis cordas. O mundo ganhou não só um ótimo pianista com enorme bagagem blues/gospel, mas também um criador excêntrico.

É difícil explicar a fusão de elementos no disco. Muito dos sons das igrejas de Nova Orleans estão presentes (vide "Danse Fambeaux"). Talvez um pouco do jazz das ruas e o funk tão enraizados na cidade (vide "Mama Roux"). Algo que mais parece a mantras indianos somados a elementos rítmicos da música cubana e etíope (vide "Danse Kalinda Ba Boom"). Doses cavalares de psicodelia atmosférica/espacial (vide "Gris-Gris Gumbo Ya Ya"). Uma viagem!

No final do disco ainda temos um clássico, "I Walk On Guilded Splinters", uma viagem sônica que inspirou bandas como Allman Brothers Band, Humple Pie e até mesmo artistas destoantes como Michael Brecker e Jello Biafra.

Anos mais tardes, músicos como Jason Pierce (Spacemen 3 e Spiritualized) passariam a idolatrar Dr. John, que trabalharia com seu fã. Dr. John virara um artista cult e personagem importante da música americana.

terça-feira, 6 de outubro de 2015

A moda e o rock

Minha coluna dessa semana no Maria D'escrita:

Estética e atitude são quesitos que sempre estiveram entrelaçados tanto a moda quanto ao rock. São muitos os artistas que circulam entre os dois mundos. Lembrarei de alguns deles cronologicamente:
Obs: ficarei no território do rock, ou seja, Michael Jackson, Run-D.M.C., Lady Gaga, dentre outros personagens da música influentes no mundo da moda, terão que aguardar.
Logo após o rock despontar via canções do Chuck Berry, Jerry Lee Lewis e Bill Haley, um outro moço boa pinta e de rebolado polêmico, monopolizou a atenção dos jovens. Elvis Presley virou "Rei do Rock" não só por seu talento musical, mas também devido a postura. O mesmo vale para Little Richard, pianista e cantor visceral, mas acima de tudo um golpe para os padrões comportamentais de uma América racista e homofóbica. Logo sua pele negra e homossexualidade assumida viraram destaque. Em comum com Elvis havia o topete charmoso, influenciado por Esquerita e James Dean, influenciando toda uma geração rockabilly posterior, incluindo os Stray Cats (já na década de 1980), que elevaram o visual ao limite.

Quando uma invasão de grupos ingleses despontou nos EUA trajando terninhos, uma nova onda estética foi inaugurada no rock. Todavia, a elegância (ou caretice) dos terninhos logo foi substituída pelas cores vibrantes da psicodelia. Os Beatles na fase Sgt. Peppers que o diga. Já o The Who e o Small Faces fincaram suas bandeiras no movimento Mod, onde não só as anfetaminas, o blue-eyed soul e a influência do movimento skinhead jamaicano traduziam as bandas, mas também os trajes eduardianos e os cabelos alinhados. The Jam, The Specials e Oasis foram alguns grupos que adotaram tais características posteriormente.

Em paralelo, o rock psicodélico despontava no sonho hippie de Paz & Amor e nas cores vivas presente nas estampas lisérgicas/floridas de Janis Joplin, Jimi Hendrix e de toda a costa oeste americana. Isso sem esquecer os cabelos "black power", curiosamente usados até mesmo por branquelos como Eric Clapton e Mitch Mitchell.

Colorido foi também a cena glam rock, que priorizava além de uma música vibrante, muito glliter, plumas espalhafatosas, sapatos com plataformas e maquiagem artística, dando uma direção andrógina ao rock. David Bowie (ícone indiscutível da moda), Marc Bolan e Elton John que o digam.


Quanto tudo havia chegado ao limite da estética absurda – com direito a Freddie Mercury fantasiado de rei, Angus Young de colegial, Peter Gabriel de girassol (???) e o KISS incorporando personagens de quadrinhos diabólicos/circenses ao seu conceito -, eis que surgem os Ramones vestindo surradas calças jeans, tênis all star e jaquetas de couro do dia-a-dia. Básico e revolucionário, como seus três acordes. Um adendo: os moicanos só foram fazer parte do estilo punk através de grupos como o The Exploited. Já os coturnos são adereços dos operários, setor onde o movimento punk se fortaleceu.

Paralelo a estética punk, surgiu a típica caricatura do heavy metal, repleta de roupas de couro justas, spikes e outros adereços que parecem de motociclista, mas que tem mais haver com sadomasoquismo. É só perguntar para o Rob Halford.


Na década de 1980, junto com o pós-punk e as crises sociais durante governos os de Margaret Thatcher e Roanald Reagan, brotou o pessimismo e o culto ao mórbido. Maquiagem causando palidez fúnebre, cabelos espalhafatosos e roupas pretas viraram a caracterização do gótico. Robert Smith e Siouxsie Sioux são dois dos principais personagens deste período.

Contrabalanceando toda essa escuridão gótica, a new wave era o lado festivo do rock, representado não só nas músicas, mas também nas roupas coloridas, com direito a perucas espalhafatosas.


Também durante a década de 1980, influenciado pelo som festivo do Van Halen e o visual "afeminado" herdado do glam rock, surgiu o hard rock/hair metal/hard rock farofa. Por mais ridículo que possa parecer hoje, as maquiagens transvestidas, os saltos altos e os cabelos cheios de laquê, dominaram a MTV da época. A coisa ficou tão bizarra que, os grupos que levaram essa estética as últimas consequências acabaram virando um subgênero dentro do próprio hard rock, o sleaze.


Felizmente tudo não passou de uma época nebulosa do rock, já que o Nirvana eclodiu para sepultar todas as bandas do hard rock oitentistas. O mesmo feito pelos Ramones 15 anos antes, se repetiu com toda cena grunge de Seattle, só que com o plus das tão famigeradas camisas de flanela, sempre usadas por artistas oriundos de regiões mais afastadas das grandes capitais, vide o "caipira" Neil Young.


Junto com o envelhecimento do rock, veio também a saturação criativa das inovações estéticas. Hoje as bandas adotam fórmulas repetitivas do passado, não criando nada que vale ser citado. Vale lembrar o enfoque dado as cores vermelhas, preto e branco pelo White Stripes, mas aí é um caso isolado e não de uma cena/geração. Em termos de visual, nada mais aconteceu.

TEM QUE OUVIR: Nick Cave And The Bad Seeds - Murder Ballads (1996)

Nick Cave é um cara fúnebre. Mesmo quando escreve sobre relações amorosas, ele parece dramático e calculista. Imagine então o que acontece quando ele decide abordar assassinatos em suas composições. Temos a trilha sonora de terror noir perfeita para dias frios.


Dono de uma tenebrosa voz grave e herdeiro legitimo do caótico rock gótico do Birthday Party, não seria estranho se as composições trouxessem um peso instrumental brutal. Mas não, assim como Bernard Herrmann, Nick Cave constrói o suspense - ao lado de seu já lendário grupo, The Bad Seeds - em baladas densas, com pianos de tabernas, percussões primitivas e uma grandiosidade sonora oriunda de um reverb que parece ter sido gerado num castelo vampiresco. Isso tudo fica evidente logo de cara na espetacular "Song Of Joy".

Contemplando os mais perversos serial killers e assassinos, Nick Cave narra a história de velhos conhecidos do mundo da música, vide a tenebrosa "Stagger Lee", com direito a berros desesperados duelando com as guitarras ruidosas do Blixa Bargeld. Já na circense "The Curse Of Millhaven" é uma diabólica Loretta que aterroriza sua aldeia. Tudo é narrado/interpretado brilhantemente por um Nick Cave desesperadamente ofegante.

A participação singela da PJ Harvey em "Henry Lee" parece surgir para confortar o coração com sua doce melodia, mas é apenas mais uma psicopatia de Cave. O mesmo vale para a atuação da diva pop Kylie Minogue na exuberante "Where The Wild Roses Grow".

Se instrumentamente há sons de sinos, alicerce no blues e melodias que lembram o Tubular Bells, liricamente é a angústia claustrofóbica e a capacidade de prender a atenção do ouvinte a maior qualidade do Nick Cave. Murder Ballads é um filme sonoro impecável.

terça-feira, 29 de setembro de 2015

TEM QUE OUVIR: Spiritualized - Ladies And Gentlemen We Are Floating In Space (1997)

Jason Pierce é um artista inquieto que circula pelo rock alternativo desde meados da década de 1980, via o esquisitão Spacemen 3. Na década de 1990 sofreu uma ruptura e criou o Spiritualized, grupo que passeia pelo dream pop, blues, gospel, shoegaze, rock psicodélico e space rock. Em 1997, atingiu o auge de sua criatividade com o aclamado Ladies And Gentlemen We Are Floating In Space, uma visão futurista do passado.


Tido como um remédio para a cabeça, o disco vem numa arte gráfica que faz jus a sua função. Esse processo químico/sonoro é feito sob supervisão/influência do despirocado/lendário Dr. John, que participa da épica jam transcendental "Cop Shoot Cop...".

A parede sonora se faz presente no arranjo e na produção grandiosa - com traços de Phil Spector e Brian Wilson - em faixas como "Come Together" (com direito a coral gospel) e "All Of My Thoughts" (um "shoegaze" viajante com metais, gaita, órgão e dinâmica variável). A melodia sinfônica domina a lindamente avassaladora "Broken Heart", fazendo da canção um pequena pérola inutilizada de trilha sonora. 

É delirante o approach espacial que tem canções como "I Think I'm In Love" (preenchida por pequenos ruídos) e a cacofônica drone-free-jazz "The Individual". Já "Stay With Me" chega a invocar Syd Barrett e John Cale, enquanto "No God Only Religion" é um perfeito encontro do krautrock com o rock in opposition. 

Entre os momentos de mais fácil compreensão estão a garageira "Electricity", a melodiosa "Cool Waves" e a vidrante faixa de abertura que batiza o álbum. 

NME, Pitchfork, Uncut, Q, Spin e Melody Maker foram algumas das publicações que rasgaram seda para a obra. Spiritualized tem seu lugar reservado no rock alternativo.

Rock In Rio - Balanço final

Minha coluna dessa semana no Maria D'escrita:


Passado o Rock In Rio, chegou a hora de fazer o balanço final do festival. Para o assunto não ficar saturado, trago aqui não só aqueles que foram os meus show prediletos no evento, mas também disco de tais bandas que servem de apresentação para quem quer conhecer melhor os grupos.

Mas antes disso, deixo vários adendos:

– Como o Nasi (Ira!) tá cantando mal, não?
– Incrível como o Al Jourgensen chama mais atenção (ao menos da grande mídia) pela sua personalidade pitoresca do que pelo som absurdamente fantástico que ele produz com o Ministry.
– Vince Neil (Mötley Crüe) tá uma pipa de gordo. O Mick Mars, mesmo com seus conhecidos problemas de saúde, parece estar se movimentando melhor que o vocalista balofo. Mas o show foi divertido.
– Não é que o Royal Blood se deu bem mesmo sendo um duo num palco enorme. Boa banda.
– Tá confirmado: Rod Stewart virou crooner de cassino.
– Além do David Bowie e do Paul McCartney, tem alguém que faça musica pop melhor que o Elton John? Acho que só o Prince. Deixo a dúvida no ar.
– Podem me julgar, mas minha memória afetiva se divertiu com os shows do Angra e do Steve Vai.
– Lzzy Hale é mais linda e carismática que a Rihanna e a Katy Perry juntas. Fãs de ambas sintam-se livres para contra-argumentar.
– Não sei se foi o mosh errado, o desinteresse de um artista inquieto por uma banda já consagrada ou até quem sabe umas três Itaipavas litrão mandadas goela abaixo minutos antes de subir no palco, mas fato é que o Faith No More fez um show apenas correto. Eu esperava mais.
– Queimei a língua: o show do Hollywood Vampires foi legal. Banda de baile de luxo + festival que não aceita ousadias = apresentação divertida.
– Incrível como no meio de tanta música pop rasteira o A-Ha soa quase progressivo.
– Não consegui dar a devida atenção para os shows do SOAD e do QOTSA, mas tenho certeza que foram muito bons, embora sem nenhuma surpresa.
– Perdi boa parte dos shows de sábado. Desculpem, é que tinha entretenimento mais interessantes do que ver a apresentação do embusteiro Sam Smith.

5º Lugar: Pepeu Gomes e Baby do Brasil
Um encontro histórico e a prova definitiva de que a música pop brasileira nas década de 1970 e 1980 eram imensuravelmente mais interessantes que a atual (digo isso sem qualquer vestígio de saudosismo preconceituoso, é só uma constatação). Como se não bastasse reouvir canções emblemática tanto dos Novos Baianos quanto do casal enquanto dupla, a inclusão do filho de ambos – Pedro Baby – contribuiu não só musicalmente, mas também pra deixar tudo ainda mais emocionante. Foi bonito.

Gostou do show? Ouça o Acabou Chorare, clássico disco dos Novos Baianos e flerte definitivo da música brasileira com rock.

4º Lugar: Lamb Of God
A banda apresentou tudo aquilo que mais me agrada no metal. Peso brutal, presença de palco insana, nenhum compromisso com os bons costumes e composições de complexidade muitas vezes ignorada. Observe a técnica de qualquer um do grupo e entenda aonde quero chegar. Ou não, apenas se deixe levar pelo massacre sonoro do quinteto em cima dos palcos.

Gostou do show? Ouça VII: Sturm und Drang, novo álbum da banda e prova definitiva de que o grupo se supera a cada lançamento.

3º Lugar: Deftones
Eu já havia avisado que o som da banda em estúdio é de qualidade inquestionável, mas me surpreendi como tudo funcionou muito bem também no palco. Poucos grupos conseguem unir peso e boas melodias com tanto sucesso quando o Deftones. E assim o heavy metal caminha para o futuro, recebendo influencias do hip hop, música eletrônica, trip hop, shoegaze e tantas outras vertentes costuradas brilhantemente a cada nova composição apresentada pela banda.

Gostou do show? Ouça Diamond Eyes, brilhante álbum do grupo lançado em 2010.

2º Lugar: Gojira
Eu já sabia que o quarteto era extremamente competente, tanto nas composições quanto na execução, mas achava que o show poderia não funcionar num palco tão grande, ainda mais tocando para o público cabeça fechada do Metallica. Mas felizmente o peso descomunal do grupo francês mais uma vez resultou em um estardalhaço que dificilmente vai ser esquecido tão cedo por quem viu ao vivo. Produção sonora impactante.

Gostou do show? Ouça L’Enfant Sauvage, o até então melhor disco da banda.

1º Lugar: Mastodon
Periga ser lembrado como um dos melhores shows de todas edições do Rock In Rio (ao menos por mim). O repertório escolhido foi direito ao ponto, sem firulas, priorizando o peso das composições e a execução visceral do grupo. Stoner, sludge, thrash e death para fã nenhum de metal (ou na verdade música em geral) botar defeito. Genial.

Gostou do show? Ouça Crack The Skye, o trabalho mais progressivo do quarteto e ignorado na escolha do setlist dos shows no Brasil.

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

TEM QUE OUVIR: Eagles - Hotel California (1976)

Lançado um ano antes da explosão do Sex Pistols, Hotel California (1976) do Eagles é a antítese do punk rock.


Oriundos da Costa Oeste americana, o grupo acumulava ótimas vendagens com os discos anteriores. A fama da banda parecia já ter chegado no limite, assim como suas contas bancárias, intrigas internas e devaneios movidos pela cocaína. Cantar sobre o lado destrutivo da fama, coberto por um glamour aos avessos, fez do grupo ainda maior do que já era.

Logo na estreia do excelente Joe Walsh (vindo do James Gang) na banda, ele faz de sua parceria com o Don Felder uma das mais emblemáticas duplas de guitarra da década de 1970. O solo ultra melódico e harmonioso do hit "Hotel California" sem dúvida impulsionou a canção ao topo das paradas de sucesso. É o pop rock perfeito sobre a decadência do sonho americano. Tocou até torrar nossa paciência? Sim, mas é uma boa canção.

Mais puxado para o rock n' roll temos o também sucesso "Life In The Fast Lane" (ótimo riff e groove) e a cadenciada "Victim Of Love" (muito do que viria a ser o hard rock na década seguinte, do Whitesnake a Cinderella, já tava aqui). 

Já as baladas caipiras com forte influencia da música country que consagraram o grupo se mantém em "New Kid In Town".

Ultra bem produzido e de arranjos pomposos, Hotel California não serve de exemplo de atitude sonora no rock, mas explica sua época. Eis o último prego no caixão do classic rock. Que venha o punk rock!

Como viver num mundo sem os Ramones?

*Um post saudosista. Mera desculpa para reouvirmos clássicos. Acho válido.

Em tempos em que o Maroon 5 lota estádios e uma formação capenga do Queen com o Adam Lambert "emociona" saudosistas sem critério, uma indagação é natural: vale tudo para ouvir música boa novamente ao vivo, até mesmo passar por cima do legado?

Não! Todavia, é lamentável quando nos damos conta que algumas bandas morreram para sempre. Sobrevivem em disco, claro. Isso acontece de Bach ao Nirvana. Mas dói saber que não ouviremos novos álbuns, muito menos assistiremos a show de bandas como essa:


Como conseguimos viver num mundo sem shows dos Ramones, ou até mesmo dos Cramps? O lance é torcer por voltas possíveis. Quem sabe um R.E.M.? Que desgraça!

TEM QUE OUVIR: Adam And The Ants - Kings Of The Wild Frontier (1980)

Tem quem pense que a figura do Malcolm McLaren está ligada apenas ao Sex Pistols. Todavia, sua carreira de empresário se confunde a boa parte do punk rock inglês, chegando até mesmo ao pós-punk do Adam And The Ants.


Adam Ant era o líder do grupo. Talentoso e rodado na cena punk, demorou para construir reputação. Foi com a ajuda de McLaren que ele deu luz ao New Romantic, uma subdivisão da new wave que enfatizava a imagem sexualmente espalhafatosa (de certo ponto até andrógina), apelo jovem e abordagem musical ainda mais pop. Tudo isso combinou perfeitamente com o nascimento da MTV americana.

Musicalmente, se por um lado o Duran Duran se jogava em ritmos funkeados, o Adam And The Ants buscou referência em instrumentos percussivos do Burundi, pequeno país africano com vasta opções de tambores. McLaren se encantou com essa sonoridade, roubou a ideia e boa parte da banda de Adam e formou o Bow Wow Wow. Todavia, o inquieto cantor se reuniu com o guitarrista Marco Pirroni e arquitetou Kings Of The Wild Frontier (1980), o mais bem sucedido resultado alcançado no que ficou conhecido como Borundi Beat.

Ritmos tribais, guitarras que bebem na fonte do rockabilly, surf rock e garage rock, baixos estrondosos e camadas vocais entrelaçadas dominam singles de sucesso como "Dog Eat Dog", faixa que abre disco.

A sonoridade ousada do álbum combina bem com o nome da faixa "Antmusic". Ainda sim, o grupo conseguiu emplacar a fantástica "King Of The Wild Frontier" no topo da parada do Reino Unido.

Enquanto "Feed Me Too The Lions" é fruto do punk rock, "Los Roncheros" mais parece uma caricatura cinematográfica de um "western africano", se é que isso existe. Já "Ants Invasion" é uma pérola do pós-punk dona de misteriosa melodia e variadas linhas de guitarras.

Hoje por vezes ignorado, Adam And The Ants é a prova de que a sede por novidades artísticas (e um tiquinho de raiva do antigo empresário) se sobressai a ganância financeira e resulta em obras desafiadoras. Michael Jackson, Marilyn Manson, Blur, Timbaland e tantos outros artistas ditos influenciados pela obra agradecem.