terça-feira, 6 de outubro de 2015

A moda e o rock

Minha coluna dessa semana no Maria D'escrita:

Estética e atitude são quesitos que sempre estiveram entrelaçados tanto a moda quanto ao rock. São muitos os artistas que circulam entre os dois mundos. Lembrarei de alguns deles cronologicamente:
Obs: ficarei no território do rock, ou seja, Michael Jackson, Run-D.M.C., Lady Gaga, dentre outros personagens da música influentes no mundo da moda, terão que aguardar.
Logo após o rock despontar via canções do Chuck Berry, Jerry Lee Lewis e Bill Haley, um outro moço boa pinta e de rebolado polêmico, monopolizou a atenção dos jovens. Elvis Presley virou "Rei do Rock" não só por seu talento musical, mas também devido a postura. O mesmo vale para Little Richard, pianista e cantor visceral, mas acima de tudo um golpe para os padrões comportamentais de uma América racista e homofóbica. Logo sua pele negra e homossexualidade assumida viraram destaque. Em comum com Elvis havia o topete charmoso, influenciado por Esquerita e James Dean, influenciando toda uma geração rockabilly posterior, incluindo os Stray Cats (já na década de 1980), que elevaram o visual ao limite.

Quando uma invasão de grupos ingleses despontou nos EUA trajando terninhos, uma nova onda estética foi inaugurada no rock. Todavia, a elegância (ou caretice) dos terninhos logo foi substituída pelas cores vibrantes da psicodelia. Os Beatles na fase Sgt. Peppers que o diga. Já o The Who e o Small Faces fincaram suas bandeiras no movimento Mod, onde não só as anfetaminas, o blue-eyed soul e a influência do movimento skinhead jamaicano traduziam as bandas, mas também os trajes eduardianos e os cabelos alinhados. The Jam, The Specials e Oasis foram alguns grupos que adotaram tais características posteriormente.

Em paralelo, o rock psicodélico despontava no sonho hippie de Paz & Amor e nas cores vivas presente nas estampas lisérgicas/floridas de Janis Joplin, Jimi Hendrix e de toda a costa oeste americana. Isso sem esquecer os cabelos "black power", curiosamente usados até mesmo por branquelos como Eric Clapton e Mitch Mitchell.

Colorido foi também a cena glam rock, que priorizava além de uma música vibrante, muito glliter, plumas espalhafatosas, sapatos com plataformas e maquiagem artística, dando uma direção andrógina ao rock. David Bowie (ícone indiscutível da moda), Marc Bolan e Elton John que o digam.


Quanto tudo havia chegado ao limite da estética absurda – com direito a Freddie Mercury fantasiado de rei, Angus Young de colegial, Peter Gabriel de girassol (???) e o KISS incorporando personagens de quadrinhos diabólicos/circenses ao seu conceito -, eis que surgem os Ramones vestindo surradas calças jeans, tênis all star e jaquetas de couro do dia-a-dia. Básico e revolucionário, como seus três acordes. Um adendo: os moicanos só foram fazer parte do estilo punk através de grupos como o The Exploited. Já os coturnos são adereços dos operários, setor onde o movimento punk se fortaleceu.

Paralelo a estética punk, surgiu a típica caricatura do heavy metal, repleta de roupas de couro justas, spikes e outros adereços que parecem de motociclista, mas que tem mais haver com sadomasoquismo. É só perguntar para o Rob Halford.


Na década de 1980, junto com o pós-punk e as crises sociais durante governos os de Margaret Thatcher e Roanald Reagan, brotou o pessimismo e o culto ao mórbido. Maquiagem causando palidez fúnebre, cabelos espalhafatosos e roupas pretas viraram a caracterização do gótico. Robert Smith e Siouxsie Sioux são dois dos principais personagens deste período.

Contrabalanceando toda essa escuridão gótica, a new wave era o lado festivo do rock, representado não só nas músicas, mas também nas roupas coloridas, com direito a perucas espalhafatosas.


Também durante a década de 1980, influenciado pelo som festivo do Van Halen e o visual "afeminado" herdado do glam rock, surgiu o hard rock/hair metal/hard rock farofa. Por mais ridículo que possa parecer hoje, as maquiagens transvestidas, os saltos altos e os cabelos cheios de laquê, dominaram a MTV da época. A coisa ficou tão bizarra que, os grupos que levaram essa estética as últimas consequências acabaram virando um subgênero dentro do próprio hard rock, o sleaze.


Felizmente tudo não passou de uma época nebulosa do rock, já que o Nirvana eclodiu para sepultar todas as bandas do hard rock oitentistas. O mesmo feito pelos Ramones 15 anos antes, se repetiu com toda cena grunge de Seattle, só que com o plus das tão famigeradas camisas de flanela, sempre usadas por artistas oriundos de regiões mais afastadas das grandes capitais, vide o "caipira" Neil Young.


Junto com o envelhecimento do rock, veio também a saturação criativa das inovações estéticas. Hoje as bandas adotam fórmulas repetitivas do passado, não criando nada que vale ser citado. Vale lembrar o enfoque dado as cores vermelhas, preto e branco pelo White Stripes, mas aí é um caso isolado e não de uma cena/geração. Em termos de visual, nada mais aconteceu.

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