sexta-feira, 28 de novembro de 2025

ACHADOS DA SEMANA: The 5th Dimension, Mavis Staples, Agostinho dos Santos e Patrulha do Espaço

The 5th Dimension
Daqueles grupos que só conhecia pelo nome. E ouvindo uma compilação, chamou atenção como até uma banda de soul/pop americano se rendeu a psicodelia. Ótimas canções e performances. Se sua praia for sons dos anos 60, tem que conferir.

Mavis Staples 
Sou da geração que conheceu a Mavis Staples já sendo venerada ao lado de caras como Jeff Tweedy e Jack White, de modo que achei que tinha a obrigação de voltar onde tudo começou, Mavis Staples (1969), uma pérola do rhythm and blues/soul/gospel. O disco tem aquela sonoridade tão parruda quanto orgânica que só a música negra norte-americana da década de 1960 parece atingir. Desvendando a ficha técnica chegamos aos nomes de Barry Beckett, Steve Cropper, Al Jackson Jr., Isaac Hayes, dentre outros. Um luxo. Groove, alma, arranjos. Fora, é claro, a performance classuda da Mavis Staples. Lindo desde a capa. 

Agostinho dos Santos
Quando se deparar com uma lista das maiores vozes da música brasileira, certifique se há a presença do Agostinho dos Santos, caso contrário pode ignorar. Ouvindo seu álbum de 1966 - dono daquele design clássico da Elenco - fiquei novamente maravilhado. Timbre, afinação, dicção, interpretação… é tudo perfeito. Lamento não saber e não estar munido da ficha técnica, já que valeria mencionar o nome dos músicos (destaque para o baterista), arranjador e do técnico de gravação. Que gravação!

Patrulha do Espaço 
Por acaso cai no álbum Patrulha do Espaço Vol 4 (1983) e embarquei na audição. Claro, tem umas afetações rockeiras que acho besta, inclusive ao tratar com ironia a new wave em “Nihil Wave”. Muitas letras e trejeitos vocais são uma bobajada. Talvez fizesse sentido na época. Isso posto, instrumentalmente é um hard rock certeiro.

segunda-feira, 24 de novembro de 2025

TEM QUE OUVIR: The Harder They Come (1972)

Algumas trilhas-sonoras são determinantes para o desenvolvimento de uma cultura musical. The Harder They Come (1972), estrelada pelo Jimmy Cliff - trilha e filme -, é uma excelente amostra do poder avassalador da música no cinema.


Distribuído pela Island, o disco foi o primeiro grande salto mercadológico e cultural do reggae fora da Jamaica. Na verdade, não só reggae, mas também do rocksteady e ska.

É assinar o atestado de mau-caratismo ficar imune ao som que sai dos falantes assim que o disco começa. Com guitarra calorosa, ritmo envolvente, coro vocal encantador e naipe de metais, "You Can Get It If You Realy Want" (Jimmy Cliff) não é tão distante assim da música negra norte-americana, trazendo ecos do rhythm and blues dentro de um contexto caribenho.

De baixo profundo, oriundo das produções de dub, "Draw Your Brakes" aparece sob supervisão do Scotty, que faz do ato de falar em cima de uma reprodução sonora uma arte própria (toasting ou deejaying). Isso tudo muito anos do hip hop. O resultado é tão convidativo quanto inebriantes.

Não bastasse esse disco ter difundido o reggae enquanto gênero musical, a cultura rastafári também encontrou aqui uma plataforma de difusão. Isso ocorre diante da irresistível "Rivers Of Babylon" (The Melodians). Os cantores do grupo, assim como na tradição do doo-wop, criam coro de vozes reconfortantes.

Jimmy Cliff pega novamente o bastião em "Many Rivers To Cross", canção altamente melodiosa, calcada na soul music e com uma performance vocal arrasa quarteirão. Que voz!

Os lendários Toots and the Maytals trazem a genuína música jamaicana através das involuntariamente complexas "Sweet And Dandy" e "Pressure Drop", essa última um hino do reggae. Que balanço, que groove, que baixo! Adoro a ranhura orgânica da captação.

Nomeando filme e disco, "The Harder They Come" nasce lendária. Uma música emotiva já na letra, que diante da interpretação do Jimmy Cliff alcança voo mágico. A banda soa redondíssima, a melodia é excelente, a gravação é calorosa. Não tem erro!

"Johnny Too Bad" (The Slickers) é um template de reggae. A guitarra martelada, o baixo grave/pontual, o órgão solar e as vozes cheias de alma. É uma maravilha.

Retratando a cultura rude boy, "007 (Shanty Town)" (Desmond Dekker) é uma pérola crua do rocksteady. 

"Sitting Limbo", com sua progressão blues, é um desfecho pop e americanizado (no melhor sentido dos adjetivos) para o disco. Ah, na verdade há ainda uma versão instrumental de "You Can Get It If You Realy Want" que é prato cheio para DJs.

Grande parte das canções que compõe o álbum são formadas de singles lançados entre 1967-1972, mas que encontram aqui a luz do público. Isso embaladas numa capa que aproximou as questões raciais da Jamaica daquelas retratadas nos filmes de blaxploitation. Documento fundamental da música pop mundial.

sábado, 22 de novembro de 2025

ACHADOS DA SEMANA: Buckingham Nicks, Ten Years After, Primal Scream e Fafá de Belém

Buckingham Nicks
Buckingham Nicks (1975). Finalmente esse álbum foi remasterizado e lançado no streaming. Pra ser honesto, só conhecia a capa, nunca tinha escutado. Da pra entender porquê o Fleetwood Mac foi atrás deles. O Buckingham já tava pronto e a Nicks… ah, ela era linda. É um tremendo álbum de soft/pop rock, embora pensando como folk por conta da produção e arranjos enxutos. 

Ten Years After
O Nuno Mindelis fez um vídeo sobre o Alvin Lee, onde ele mencionou o Watt (1970) como um dos álbuns prediletos gravados pelo guitarrista. De imediato fui ouvir. É aquele blues rock certeiro, inclusive com um refinamento composicional muitas vezes não associado ao gênero. Acompanha cervejas e petiscos. 

Primal Scream
Já ia relembrar o grupo por conta da passagem deles pelo Brasil, mas a inesperada morte do Mani foi que ele levou ao XTRMNTR (2000), provavelmente o disco mais pesado, ríspido e energético do grupo. O que o Mani faz aqui não é brincadeira, tanto na criação das linhas quanto dos timbres. Por mais que tenha a cara da virada do milênio, ele envelheceu muito bem. Discaço!

Fafá de Belém
Muitos não imaginam os ótimos discos que a Fafá de Belém produziu na década de 1970. Banho de Cheiro (1978) é um espetáculo. A base instrumental soa como aquela que acompanhava a Elis Regina no mesmo período, mas aqui os arranjos são do Wagner Tiso e na ficha técnica temos nomes como Luís Alves (baixo) e o Rubinho (bateria). O repertório é ótimo, assim como a performance da Fafá. Tremenda voz! E vale dizer que ela está lindíssima na capa.

sexta-feira, 14 de novembro de 2025

ACHADOS DA SEMANA: Joe Cocker, John Abercrombie, Zezé Motta e From A Second Story Window

Joe Cocker 
Tive uma epifania essa semana após ver a homenagem ao Joe Cocker no RNRHF, que me levou a querer maratonar Anos Incríveis, a série da minha infância. Relembrando seus hits, percebi o quão grande cantor ele era. Até as cafonagens (“Up Where We Belong”, “You Are Só Beautiful”) eu adoro. Vi ainda vídeos da sua última apresentação no Brasil, que eu lembro quando rolou e estupidamente não fiz esforço algum pra ir. Ver ele cantando “With A Little Help From My Friends” me deixou com os olhos marejados. Tenho um carinho por ele comparado a um tio distante. Louco isso. 

John Abercrombie
O brilhante baterista Jack DeJohnette morreu e eu fui buscar homenageá-lo através do disco Timeless (1975) do John Abercrombie, um dos guitarristas mais enigmáticos daquele período. Jan Hammer fecha o trio. É um jazz nada ortodoxo, já beirando o fusion. Diria que é o fusion com a cara da ECM. Parece mais “espacial”, nem tão preso a temas, além de muito adepto a criação de climas, não somente com as nota, mas também timbres. Vale ouvir com atenção. 

Zezé Motta 
Tenho que ser honesto e afirmar que conheço a Zezé Motta mais como uma personalidade da TV que da música. Tentando corrigir minha percepção, fui de encontro ao álbum Negritude (1979) sem me dar conta pra maravilha que me depararia. É o samba no auge da sua classe, muito inclusive pelo canto da Zezé, de afinação, dicção e empostação de uma categoria que pertence a outro tempo. Os arranjos, assim como a gravação, é enxuta - e até por isso, complexo -, não sobressaindo nenhuma energia rústica tão comum as gravações do estilo (uma característica, nem mérito nem demérito). As composições são assinadas por nomes como João & Aldir, Wilson Moreira & Ney Lopes, Rosinha de Valença, dentre outros. Escutem!

From A Second Story Window 
Not One Word Has Been Omitted (2004). Tava listado aqui pra ouvir, sei lá por qual motivo. Escutei após ouvir o da Zezé Motta e não poderia ter tido uma experiência mais discrepante. É um metalcore, ora quebradão, ultra intenso, que devia fazer sentido quando lançado, mas que não consegui embarcar não. Inclusive, a produção é bem datada. Mas sei lá, talvez no momento certo até teria curtido mais. 

quarta-feira, 12 de novembro de 2025

TEM QUE OUVIR: Boris - Pink (2005)

Falar que a música do Japão é uma tendência na indústria musical ocidental seria forçar a barra. Por outro lado, sempre tiveram artistas referência em típicos específicos de som: Yellow Magic Orchestra, Ryuichi Sakamoto, Toshiko Akiyoshi, Loudness, Merzbow, Shonen Knife, Kyary Pamyu Pamyu, Otoboke Beaver, além de inúmeros nomes do hypadissimos city pop (Masayoshi Takanaka, por exemplo). Mas pessoalmente, uma banda sempre esteve em maior rotação aqui em casa, não necessariamente por ser japonesa, mas por levar aos limites a energia no rock. É o Boris, trio prolifero que tem no prestigiado Pink (2005) um marco em sua enorme discografia.

Na época, já com nove discos na bagagem, o grupo formado por Takeshi (voz e baixo-guitarra de dois braços), Wata (guitarra e parede de amplificadores Orange no limite do volume) e Atsuo (baterista naturalmente anfetaminado) pareceu com esse disco reunir num caldeirão toda sua eloquência em gêneros como sludge metal, stoner, drone, rock psicodélico e noise rock. Como se não bastasse, fizeram isso com uma maturidade que deu a eles boas composições, onde riffs memoráveis e passagens carismáticas geraram canções que crescem além do esporro sônico.

A longa "Farewell", faixa que abre o disco, já é um inicio especial. Na introdução, notas parecem gotejar, preparando o ambiente para um shoegaze/dream pop/post-rock cavernoso. A progressão harmônica lenta, movida por acordes espaçados e bateria enorme, cria uma beleza atmosférica em perfeito equilíbrio com a linda melodia vocal. Impressionante.

O que fazer depois de um inicio desses? Explodir a cabeça do ouvinte com um hipnótico cheio de fuzz e wah-wah. É isso que é "Pink", canção veloz e cheia de guitarras enlouquecidas e amontoadas. 

Se ao ouvir "Woman On The Screen" você não quiser sair correndo descontroladamente, então você estar morto por dentro. Uma performance não menos que catártica e abrasiva. Vale aqui reparar como, embora pesado e enorme, a produção é orgânica, expondo a força braçal da execução.

A escola do hardcore/punk rock japonês inunda a imunda "Nothing Special". O baixo parece uma motosserra, há constantemente uma microfonia ao fundo e uma corrosividade timbristica doentia. Foda!

Em "Blackout" o clima se agrava. É um sludge-drone infernal, denso, terroso, primitivo. Parece uma queda ao centro da Terra. Isso com uma captação exemplar, que forma uma massa sonora impenetrável.

A breve "Electric" chega a soar divertida e grooveada. É uma canção instrumental guiada por um riff stoner não menos que contagiante.

Embora seja um atropelo, com direito a um amontoado de sons saturados, da pra decodificar algo de psicodélico/garage em "Pseudo Bread", faixa com um dos refrães mais legais do disco. Já em "Afterburner" dá pra visualizar o que seria o Jimi Hendrix tocando no Black Sabbath.

A virulência punk volta a dominar "Six, Three Times". Inclusive num timbre de guitarra que é puro chiado. Eu adoro! Chega a ser engraçado colocar na sequência a relaxante e ambient "My Machine". Mas não se engane, é o fervor nirvanistico em longa duração de "Just Abandoned Myself" que fecha o álbum. 

Com esse disco o Boris ganhou o mundo dos sons alternativos. O indie abraçou, o metal abraçou. Viraram símbolos de vigor, peso e grandeza sonora. Basta ouvir o Pink uma única vez para ver que é mais que justificável.

sexta-feira, 7 de novembro de 2025

ACHADOS DA SEMANA: Lô Borges, Hootie & The Blowfish, Descendents, Ramones e Charles Lloyd

Lô Borges
Tá cada vez mais corriqueiro as homenagens aqui em casa a artistas que faleceram. Tristemente, desta vez foi o Lô Borges. Se o Clube da Esquina e o “Disco do Tênis” tão sempre em rotação por aqui, o A Via-Láctea (1979) fazia anos que não escutava. É grandioso. Até mais que em sua estreia solo, aqui tá a continuidade do brilhante compositor/melodista que demonstrou ser ao lado do Milton. Faixas como “Vento de Maio” (prog brasileiro) e “Chuva da Montanha” são uma preciosidade. Altamente mineiro e imagético. Tem cada arranjo sublime. Meu amigo Doug ainda me recomendou conferir o Nuvem Cigana (1982), onde senti aguçado aquele faro pop alinhado a excelentes melodias. Me remeteu até mesmo ao trabalho do Spinetta em alguns momentos. Um gigante mesmo. RIP Lô. 

Hootie & The Blowfish 
Cracked Rear View (1994). O típico pop rock/rockinho dos anos 90. Fez enorme sucesso, hoje ninguém mais lembra. Te falar que acho legal. Tudo bem, o vocalista tem aquele traço sub-Eddie Vedder horrível, algumas baladas são chatas (incluindo o hit “Only Wanna Be With You”), mas nem tudo é de todo mal. Tem algo de power pop nas composições, boas linhas de baixo, uma produção é vibrante… Funciona. 

Descendents
Everything Sucks (1996). No auge da explosão do pop punk e do hardcore melódico, os já veteranos do Descendents mostrando como se faz. Adoro o astral desse disco. Ótima produção (mix do Andy Wallace), que ressalta a eficiência do Bill Stevenson (bateria) e Karl Alvarez (baixo), umas das melhores cozinhas do punk rock. 

Ramones
Sou da geração que cresceu ouvindo o Loco Live (1992), de modo que por mais que soubesse que o It’s Alive (1979) é o grande clássico ao vivo dos Ramones, ele sempre foi escanteado. Mas fui ouvir depois de ano e que espetáculo, não? Uma banda que toca com essa vibração não pode ser acusada de ter músicos medíocres. Eles fazem com excelência o que se propõe. 

Charles Lloyd 
Daqueles jazzistas que estão sempre circulando o radar - até por ainda estar vivo e em atividade -, mas nunca damos (dei) a devida atenção. Peguei pra ouvir o álbum Nirvana (1968) primeiramente por simpatia ao nome (kkkkk), mas logo me deparei com as guitarras do Gábor Szabó nas primeiras faixas, Ron Carter e Tony Williams fazendo a cozinha em outras. É uma beleza. Álbum de qualidade alinhada a leveza. Pode servir até de introdução ao mundo do jazz.

quinta-feira, 6 de novembro de 2025

TEM QUE OUVIR: Lô Borges - Lô Borges (1972)

Imagine ter apenas 20 anos e demonstrar talento suficiente para um já cheio de moral Milton Nascimento (com 30 anos) apostar num trabalho em conjunto, convencendo até mesmo a gravadora Odeon a lançar um disco duplo, o clássico Clube da Esquina. Foi exatamente isso que aconteceu com o Lô Borges no ano de 1972. Com o inegável êxito artístico alcançado, a gravadora bancou os próprios passos do Lô, que mesmo sem repertório e sem saber exatamente o que fazer, já no mesmo ano topou produzir aquele que ficou conhecido como o Disco do Tênis.


Ao que consta, a timidez do artista fez com que ele não quisesse estampar seu rosto na capa do disco, mesmo sendo sua estreia solo. A sugestão foi "não quer mostrar a cara, então mostra os pés!". Há também a versão de que o tênis significava um "cair na estrada". Seja o que for, a foto de autoria do Cafi contendo um surrado calçado tornou-se icônica suficiente para apelidar o álbum.

Embora seja um álbum solo, parceiros do Clube da Esquina colaboram em sua confecção. Beto Guedes, Toninho Horta, Flávio Venturini, Nelson Angelo, Novelli, Robertinho Silva, além dos irmãos Danilo e Dori Caymmi são alguns que colaboram com o disco. Há ainda a parceria com o seu irmão, o letrista Márcio Borges. 

A abertura com "Você Fica Melhor Assim" é altamente rockeira e espontânea. O clima de gravação é de jam, orgânico. Há um entrosamento de groove espontâneo da cozinha. O solo de guitarra cheio de acidez aponta pra psicodelia. 

Em "Canção Postal" salta aos ouvidos a capacidade de criar harmonias e melodias sinuosas, complexas e ainda assim acolhedoras. É uma canção tão barroca quanto brejeira. 

Os acordes e frases pontuais de guitarra em "O Caçador" são a cara do Toninho Horta. Mas a composição em sim, com seu traço bucólico em simbiose ao apelo pop, é Lô Borges na essência.

Os compassos em 3/4 de "Homem da Rua" criam caminhos ainda mais rebuscados para a composição.

Embora com um tempero regional nordestino presente no ritmo e na instrumentação, a sucinta "Não Foi Nada" é tematicamente bem abstrata, desencadeando até mesmo numa certa densidade climática.

As canções do disco são em geral bem curtas, sendo a onírica "Pensa Você", o micro prog "Pra Onde Vai Você?" e a plenamente progressiva "Calibre" os maiores exemplos dessa concisão. 

É possível encontrar um apelo pop e beatlemaniaco na linda "Faça Seu Jogo", canção dona de arranjo de cordas belíssimo.

O elemento progressivo, somado até mesmo a capacidade jazzistica dos envolvidos, gera maravilhas singulares como "Não Se Apague Esta Noite".

Recentemente citada pelo Alex Turner (Arctic Monkeys), a estranha "Aos Barões" caiu no gosto do publico jovem indie. O solo carregado de fuzz e algo parecido com um cravo faz a faixa transitar entre o tropicalismo e o pop barroco inglês (ou legitimamente mineiro?). 

A triste "Como O Machado" revela Lô Borges como o compositor mais confessional entre os mineiros.

O violão ponteado em "Eu Sou Como Você É" traz uma aura psicodélica pra "música rural/brejeira" que não reconheço em nenhum outro lugar. 

A instrumental "Toda Essa Água" fecha o disco dando um desfecho progressivo. Com pouca divulgação e baixa vendagem, demorou para Lô Borges lançar o álbum seguinte. Restou a ele a estrada. Restou ao tempo o papel de fazer deste disco um clássico cult. Isso vindo de um artista que viria a alcançar sucesso comercial, fosse retroativamente com as faixas presentes no Clube da Esquina, com trabalhos seguintes e até mesmo em parceria com nomes como Samuel Rosa e Nando Reis.