sexta-feira, 14 de novembro de 2025

ACHADOS DA SEMANA: Joe Cocker, John Abercrombie, Zezé Motta e From A Second Story Window

Joe Cocker 
Tive uma epifania essa semana após ver a homenagem ao Joe Cocker no RNRHF, que me levou a querer maratonar Anos Incríveis, a série da minha infância. Relembrando seus hits, percebi o quão grande cantor ele era. Até as cafonagens (“Up Where We Belong”, “You Are Só Beautiful”) eu adoro. Vi ainda vídeos da sua última apresentação no Brasil, que eu lembro quando rolou e estupidamente não fiz esforço algum pra ir. Ver ele cantando “With A Little Help From My Friends” me deixou com os olhos marejados. Tenho um carinho por ele comparado a um tio distante. Louco isso. 

John Abercrombie
O brilhante baterista Jack DeJohnette morreu e eu fui buscar homenageá-lo através do disco Timeless (1975) do John Abercrombie, um dos guitarristas mais enigmáticos daquele período. Jan Hammer fecha o trio. É um jazz nada ortodoxo, já beirando o fusion. Diria que é o fusion com a cara da ECM. Parece mais “espacial”, nem tão preso a temas, além de muito adepto a criação de climas, não somente com as nota, mas também timbres. Vale ouvir com atenção. 

Zezé Motta 
Tenho que ser honesto e afirmar que conheço a Zezé Motta mais como uma personalidade da TV que da música. Tentando corrigir minha percepção, fui de encontro ao álbum Negritude (1979) sem me dar conta pra maravilha que me depararia. É o samba no auge da sua classe, muito inclusive pelo canto da Zezé, de afinação, dicção e empostação de uma categoria que pertence a outro tempo. Os arranjos, assim como a gravação, é enxuta - e até por isso, complexo -, não sobressaindo nenhuma energia rústica tão comum as gravações do estilo (uma característica, nem mérito nem demérito). As composições são assinadas por nomes como João & Aldir, Wilson Moreira & Ney Lopes, Rosinha de Valença, dentre outros. Escutem!

From A Second Story Window 
Not One Word Has Been Omitted (2004). Tava listado aqui pra ouvir, sei lá por qual motivo. Escutei após ouvir o da Zezé Motta e não poderia ter tido uma experiência mais discrepante. É um metalcore, ora quebradão, ultra intenso, que devia fazer sentido quando lançado, mas que não consegui embarcar não. Inclusive, a produção é bem datada. Mas sei lá, talvez no momento certo até teria curtido mais. 

quarta-feira, 12 de novembro de 2025

TEM QUE OUVIR: Boris - Pink (2005)

Falar que a música do Japão é uma tendência na indústria musical ocidental seria forçar a barra. Por outro lado, sempre tiveram artistas referência em típicos específicos de som: Yellow Magic Orchestra, Ryuichi Sakamoto, Toshiko Akiyoshi, Loudness, Merzbow, Shonen Knife, Kyary Pamyu Pamyu, Otoboke Beaver, além de inúmeros nomes do hypadissimos city pop (Masayoshi Takanaka, por exemplo). Mas pessoalmente, uma banda sempre esteve em maior rotação aqui em casa, não necessariamente por ser japonesa, mas por levar aos limites a energia no rock. É o Boris, trio prolifero que tem no prestigiado Pink (2005) um marco em sua enorme discografia.

Na época, já com nove discos na bagagem, o grupo formado por Takeshi (voz e baixo-guitarra de dois braços), Wata (guitarra e parede de amplificadores Orange no limite do volume) e Atsuo (baterista naturalmente anfetaminado) pareceu com esse disco reunir num caldeirão toda sua eloquência em gêneros como sludge metal, stoner, drone, rock psicodélico e noise rock. Como se não bastasse, fizeram isso com uma maturidade que deu a eles boas composições, onde riffs memoráveis e passagens carismáticas geraram canções que crescem além do esporro sônico.

A longa "Farewell", faixa que abre o disco, já é um inicio especial. Na introdução, notas parecem gotejar, preparando o ambiente para um shoegaze/dream pop/post-rock cavernoso. A progressão harmônica lenta, movida por acordes espaçados e bateria enorme, cria uma beleza atmosférica em perfeito equilíbrio com a linda melodia vocal. Impressionante.

O que fazer depois de um inicio desses? Explodir a cabeça do ouvinte com um hipnótico cheio de fuzz e wah-wah. É isso que é "Pink", canção veloz e cheia de guitarras enlouquecidas e amontoadas. 

Se ao ouvir "Woman On The Screen" você não quiser sair correndo descontroladamente, então você estar morto por dentro. Uma performance não menos que catártica e abrasiva. Vale aqui reparar como, embora pesado e enorme, a produção é orgânica, expondo a força braçal da execução.

A escola do hardcore/punk rock japonês inunda a imunda "Nothing Special". O baixo parece uma motosserra, há constantemente uma microfonia ao fundo e uma corrosividade timbristica doentia. Foda!

Em "Blackout" o clima se agrava. É um sludge-drone infernal, denso, terroso, primitivo. Parece uma queda ao centro da Terra. Isso com uma captação exemplar, que forma uma massa sonora impenetrável.

A breve "Electric" chega a soar divertida e grooveada. É uma canção instrumental guiada por um riff stoner não menos que contagiante.

Embora seja um atropelo, com direito a um amontoado de sons saturados, da pra decodificar algo de psicodélico/garage em "Pseudo Bread", faixa com um dos refrães mais legais do disco. Já em "Afterburner" dá pra visualizar o que seria o Jimi Hendrix tocando no Black Sabbath.

A virulência punk volta a dominar "Six, Three Times". Inclusive num timbre de guitarra que é puro chiado. Eu adoro! Chega a ser engraçado colocar na sequência a relaxante e ambient "My Machine". Mas não se engane, é o fervor nirvanistico em longa duração de "Just Abandoned Myself" que fecha o álbum. 

Com esse disco o Boris ganhou o mundo dos sons alternativos. O indie abraçou, o metal abraçou. Viraram símbolos de vigor, peso e grandeza sonora. Basta ouvir o Pink uma única vez para ver que é mais que justificável.

sexta-feira, 7 de novembro de 2025

ACHADOS DA SEMANA: Lô Borges, Hootie & The Blowfish, Descendents, Ramones e Charles Lloyd

Lô Borges
Tá cada vez mais corriqueiro as homenagens aqui em casa a artistas que faleceram. Tristemente, desta vez foi o Lô Borges. Se o Clube da Esquina e o “Disco do Tênis” tão sempre em rotação por aqui, o A Via-Láctea (1979) fazia anos que não escutava. É grandioso. Até mais que em sua estreia solo, aqui tá a continuidade do brilhante compositor/melodista que demonstrou ser ao lado do Milton. Faixas como “Vento de Maio” (prog brasileiro) e “Chuva da Montanha” são uma preciosidade. Altamente mineiro e imagético. Tem cada arranjo sublime. Meu amigo Doug ainda me recomendou conferir o Nuvem Cigana (1982), onde senti aguçado aquele faro pop alinhado a excelentes melodias. Me remeteu até mesmo ao trabalho do Spinetta em alguns momentos. Um gigante mesmo. RIP Lô. 

Hootie & The Blowfish 
Cracked Rear View (1994). O típico pop rock/rockinho dos anos 90. Fez enorme sucesso, hoje ninguém mais lembra. Te falar que acho legal. Tudo bem, o vocalista tem aquele traço sub-Eddie Vedder horrível, algumas baladas são chatas (incluindo o hit “Only Wanna Be With You”), mas nem tudo é de todo mal. Tem algo de power pop nas composições, boas linhas de baixo, uma produção é vibrante… Funciona. 

Descendents
Everything Sucks (1996). No auge da explosão do pop punk e do hardcore melódico, os já veteranos do Descendents mostrando como se faz. Adoro o astral desse disco. Ótima produção (mix do Andy Wallace), que ressalta a eficiência do Bill Stevenson (bateria) e Karl Alvarez (baixo), umas das melhores cozinhas do punk rock. 

Ramones
Sou da geração que cresceu ouvindo o Loco Live (1992), de modo que por mais que soubesse que o It’s Alive (1979) é o grande clássico ao vivo dos Ramones, ele sempre foi escanteado. Mas fui ouvir depois de ano e que espetáculo, não? Uma banda que toca com essa vibração não pode ser acusada de ter músicos medíocres. Eles fazem com excelência o que se propõe. 

Charles Lloyd 
Daqueles jazzistas que estão sempre circulando o radar - até por ainda estar vivo e em atividade -, mas nunca damos (dei) a devida atenção. Peguei pra ouvir o álbum Nirvana (1968) primeiramente por simpatia ao nome (kkkkk), mas logo me deparei com as guitarras do Gábor Szabó nas primeiras faixas, Ron Carter e Tony Williams fazendo a cozinha em outras. É uma beleza. Álbum de qualidade alinhada a leveza. Pode servir até de introdução ao mundo do jazz.

quinta-feira, 6 de novembro de 2025

TEM QUE OUVIR: Lô Borges - Lô Borges (1972)

Imagine ter apenas 20 anos e demonstrar talento suficiente para um já cheio de moral Milton Nascimento (com 30 anos) apostar num trabalho em conjunto, convencendo até mesmo a gravadora Odeon a lançar um disco duplo, o clássico Clube da Esquina. Foi exatamente isso que aconteceu com o Lô Borges no ano de 1972. Com o inegável êxito artístico alcançado, a gravadora bancou os próprios passos do Lô, que mesmo sem repertório e sem saber exatamente o que fazer, já no mesmo ano topou produzir aquele que ficou conhecido como o Disco do Tênis.


Ao que consta, a timidez do artista fez com que ele não quisesse estampar seu rosto na capa do disco, mesmo sendo sua estreia solo. A sugestão foi "não quer mostrar a cara, então mostra os pés!". Há também a versão de que o tênis significava um "cair na estrada". Seja o que for, a foto de autoria do Cafi contendo um surrado calçado tornou-se icônica suficiente para apelidar o álbum.

Embora seja um álbum solo, parceiros do Clube da Esquina colaboram em sua confecção. Beto Guedes, Toninho Horta, Flávio Venturini, Nelson Angelo, Novelli, Robertinho Silva, além dos irmãos Danilo e Dori Caymmi são alguns que colaboram com o disco. Há ainda a parceria com o seu irmão, o letrista Márcio Borges. 

A abertura com "Você Fica Melhor Assim" é altamente rockeira e espontânea. O clima de gravação é de jam, orgânico. Há um entrosamento de groove espontâneo da cozinha. O solo de guitarra cheio de acidez aponta pra psicodelia. 

Em "Canção Postal" salta aos ouvidos a capacidade de criar harmonias e melodias sinuosas, complexas e ainda assim acolhedoras. É uma canção tão barroca quanto brejeira. 

Os acordes e frases pontuais de guitarra em "O Caçador" são a cara do Toninho Horta. Mas a composição em sim, com seu traço bucólico em simbiose ao apelo pop, é Lô Borges na essência.

Os compassos em 3/4 de "Homem da Rua" criam caminhos ainda mais rebuscados para a composição.

Embora com um tempero regional nordestino presente no ritmo e na instrumentação, a sucinta "Não Foi Nada" é tematicamente bem abstrata, desencadeando até mesmo numa certa densidade climática.

As canções do disco são em geral bem curtas, sendo a onírica "Pensa Você", o micro prog "Pra Onde Vai Você?" e a plenamente progressiva "Calibre" os maiores exemplos dessa concisão. 

É possível encontrar um apelo pop e beatlemaniaco na linda "Faça Seu Jogo", canção dona de arranjo de cordas belíssimo.

O elemento progressivo, somado até mesmo a capacidade jazzistica dos envolvidos, gera maravilhas singulares como "Não Se Apague Esta Noite".

Recentemente citada pelo Alex Turner (Arctic Monkeys), a estranha "Aos Barões" caiu no gosto do publico jovem indie. O solo carregado de fuzz e algo parecido com um cravo faz a faixa transitar entre o tropicalismo e o pop barroco inglês (ou legitimamente mineiro?). 

A triste "Como O Machado" revela Lô Borges como o compositor mais confessional entre os mineiros.

O violão ponteado em "Eu Sou Como Você É" traz uma aura psicodélica pra "música rural/brejeira" que não reconheço em nenhum outro lugar. 

A instrumental "Toda Essa Água" fecha o disco dando um desfecho progressivo. Com pouca divulgação e baixa vendagem, demorou para Lô Borges lançar o álbum seguinte. Restou a ele a estrada. Restou ao tempo o papel de fazer deste disco um clássico cult. Isso vindo de um artista que viria a alcançar sucesso comercial, fosse retroativamente com as faixas presentes no Clube da Esquina, com trabalhos seguintes e até mesmo em parceria com nomes como Samuel Rosa e Nando Reis.

sexta-feira, 31 de outubro de 2025

ACHADOS DA SEMANA: Siena Root, Milton Nascimento, Djavan, Vivaldi e U2

Siena Root
Essa banda sueca vai abrir o show do Boris em São Paulo. Não conhecia, então fui ouvir. Peguei o disco Different Realities (2009). Gostei do que escutei, mas acho que ao vivo deve ser ainda mais legal. Tem aquela pra setentista que fica entre o hardão e o progressivo. Muito bem tocado, com espaço para jams, timbres orgânicos… quando adolescente eu pirava nessa proposta. 

Milton Nascimento
Da formidável discografia que o Milton lançou na década de 1970, justamente o Milton (1976) é o que menos ouvi. Provavelmente por nunca ter tido fisicamente. Mas é um disco espetacular, gravado em Los Angeles, com sonoridade esplendorosa. Um pouco voltado pro mercado americano, mas nem por isso diluindo suas raizes. Tem Toninho Horta, Roberto Silva, Novelli, Raul de Souza e também Wayne Shorter e Herbie Hancock. A lindíssima “Os Povos” tem uma das melhores performances do Milton. 

Djavan
Meu Lado (1986). Mais um disco de um medalhão da mpb que passou reto por mim. E olha que gosto bastante do que o Djavan tinha produzido até então. Esse álbum inclusive é uma volta às origens, ao “samba torto”. Téo Lima e Sizão Machado quebram tudo. Uma das grandes cozinhas da música brasileira. Os violões do Djavan também são o fino. Te falar que até a famigeradas letras hoje em dia eu gosto. 

Vivaldi
Muito se falou sobre a obra do Vivaldi ter sido uma das inspirações pra ótima “Berghain” da Rosalía. Pode ser mesmo, eu não sei. No podcast VFSM deram uma pista mais fundamentada citando Stabat Mater como referência, uma obra pra contralto solo. Ouvi numa versão do Andreas Scholl e achei lindíssima. É uma composição de harmonia bem consonante, tipicamente do barroco, onde os floreios melódicos soam redondos e convidativos. A instrumentação enxuta corrobora pra isso. Vale escutar. 

U2
O Luís Felipe Carneiro do canal Alta Fidelidade falou sobre os 25 anos (!!!) do All That You Can’t Leave Behind e eu fui ouvir depois de décadas. Interessante pensar que ele é contemporâneo a estreia do Coldplay. Um disco mais básico e pop. Não adoro, mas acho que eles acertaram a mão. Tem faixas muito fortes.

TEM QUE OUVIR: Refused - The Shape Of Punk To Come (1998)

O punk rock e hardcore viveu momentos de ebulição na década de 1990. Fosse ascensão comercial do pop punk, do hardcore melódico ou da proliferação dos ideais levantados pelo Fugazi, tudo isso gerou um monstrengo chamado post-hardcore. Curiosamente, o subgênero ganhou força via os suecos do Refused, que lançou 1998 o explosivo The Shape Of Punk To Come - qualquer semelhança com The Shape Of Jazz To Come do Ornette Coleman não é mera coincidência -, disco que catapultou o gênero e implodiu a banda


Embora não tenha sido bem recebido pela imprensa em seu lançamento, não demorou pro álbum reverberar entre uma nova geração, o que desencadeou em inúmeros grupos influenciados, incluindo até mesmo a cena emocore que explodiria comercialmente na sequência.

Esse é o terceiro álbum do grupo e tem como grande mérito soar tão ambicioso quanto intenso. Diferente gênero são incorporado no caldeirão do hardcore. Jazz, música eletrônica, heavy metal, pós-punk... tá tudo aqui de alguma forma.

A longa dobradinha "Worms Of The Senses / Faculties Of The Skull" abre o disco já expondo a energia dos riffs e do vocalista Dennis Lyxzén, dono de uma voz berrada, arranhada e afrontosamente jovial. A evolução da canção leva a paradas bruscas, grooves contagiantes, guitarras arpejadas e interferências eletrônicas. Perfeita pra ouvir socando o ar e gritando junto.

Intercalando calmaria crua (com baixo dub, caixa sem esteira e guitarra magrinha) e peso absurdo, "Liberation Frequency" é de construção singular.

O recorte jazzistico inicial de "The Dead Rhythm" introduz perfeitamente a cacetada rítmica da canção. Adoro como eles intercalam guitarras cristalinas com outras de peso absurdo. Há no meio da composição um encontro com o jazz, com direito a walking bass do Magnus Björklund e levadas espertas do baterista David Sandström.

A cozinha do grupo volta a tomar conta em "Summerholidays Vs. Punkroutine", faixa que soa como uma transposição temporal do Fugazi.

Embora seja apenas uma vinheta, é interessante a dinâmica que "Bruitist Pome #5" traz ao disco. É uma peça que poderia facilmente estar num disco do Aphex Twin. Vale dizer que o álbum é acompanhado de inúmeras vinhetas que finalizam e iniciam as faixas, dando ao trabalho um ar conceitual.

Há um enorme hit do disco em meio a tantas boas canções. É "New Noise", faixa que tornou-se sinônimo de energia. Ela é construída de maneira gradativa, chegando um ápice em seu emblemático "Can I scream?". É revigorante! Já virou um chavão utiliza-la em filmes/séries sempre que se quer trazer suspense e ação pra uma cena. 

A vitalidade da performance e da gravação presente em "The Refused Party Program" é acachapante. Vale notar aqui como, de algum modo, as linhas vocais do Dennis influenciou o screamo. Isso se dá tanto pelo seu estilo berrado quanto pela força emotiva que ele imprimi.

Há um aspecto intelectualizado que se manifesta ao longo do disco, sendo possível sentir isso claramente em "Protest Song '68". Isso se dá tanto na criação musical quanto na escrita.

A qualidade técnica da banda é explorada em "Refused Are Fucking Dead", canção de colorido timbristico, de dinâmica, de levadas. Tem baixo com wah-wah, guitarras variadas, inserções eletrônicas e mixagem como elemento de criação. 

"The Shape Of Punk To Come" é uma coleção de grandes riffs. Excelente timbre de baixo e performance do baterista.

"Tannhäuser/Derivè", a mais longa do álbum, é dona de grande complexidade. Sua introdução traz um violino choroso em meio a um ritmo consistente, desencadeando em versos que intercalam enorme euforia à momentos reflexivos. Chega a ser progressivo, com direito a citação da Sagração da Primavera do Stravinsky. A isso dou o nome de art-hardcore.

A acústica e bela "The Apollo Programme Was A Hoax" fecha o disco.

Poucos meses após o lançamento deste álbum, a banda se desfez, o que de certo modo ajudou na construção da lenda, posteriormente desencadeando em retornos. Mas continua sendo o The Shape Of Punk To Come um símbolo de um dos momentos mais inquietantes do hardcore.

sexta-feira, 24 de outubro de 2025

ACHADOS DA SEMANA: Tom Petty, Chaka Khan, Foreigner, Quiet Riot e Fábio Fonseca

Tom Petty
Wildflowers (1994), segundo álbum “solo” do Tom Petty. O importante é que o Mike Campbell tá aqui, então chame do que quiser. Composicionalmente acho americano demais, mas gosto de ouvir por conta das timbragens. Não tem como, eles são mestres nesse tipo de gravação orgânica. Fora que aqui a produção é do Rick Rubin. Vale conferir. 

Chaka Khan 
Quando soube da morte do baixista Anthony Jackson logo fui ouvir o What Cha’ Gonna Do For Me (1981), disco que conheci via recomendação do Kl Jay. É um espetáculo da música pop-funk-soul. Muito balanço, mas sem abrir mão de maiores arrojos. E que cantora a Chaka Khan, não? Foda!

Foreigner 
Regis Tadeu, em daquelas suas declarações efusivas, comentou que as quatro primeiras faixas do Head Games (1979) é um excelente pontapé inicial pra quem quer tocar rock na bateria. Fui ouvir. Pior que entendi o que ele quis dizer. Ali tem muitas viradas e conduções excelentes dentro da proposta. 

Quiet Riot
Acreditam que eu nunca tinha escutado o Metal Health (1983) inteiro? Sei do seu enorme sucesso há muito tempo - ele chegou no número 1 da Billboard -, mas sei lá, não é minha praia. Mas entrei numa onda hard rock por conta do documentário Nöthin’ But A Good Time e acabei embarcando no disco. Constei que um dos grandes problemas do gênero são os vocalistas. Isso porque mesmo o Kevin DuBrow tendo uma voz rasgada legal e sendo dos melhores daquela cena, seu timbre rapidamente cansa. Acho que o maior destaque são mesmo os baixos do Rudy Sarzo. Ele tem uma pegada certeira. Isso posto, definitivamente não é minha onda. 

Fábio Fonseca
Fabio Fonseca And Friends (1992). Uma daquelas pérolas pop perdidas no tempo. Muito groove e arrojo, além de produção muito bacana pra época. Além dos arranjos, programações e teclados do Fábio, há na ficha técnica Wilson das Neves (bateria), Arismar do Espírito Santo (baixo) e, com grande destaque, o Fernando Vidal (guitarras ultra swingadas). Cláudio Zoli, Fernanda Abreu, Marina Lima e Luiz Melodia também colaboram com o disco.