PAÍS DO BAURETS
sexta-feira, 15 de novembro de 2024
ACHADOS DA SEMANA: Alice Cooper, King Crimson, Ludovic, Miles Davis e Linkin Park
domingo, 10 de novembro de 2024
ACHADOS DA SEMANA: Scott Henderson, Leci Brandão, Slipknot, Pavement, Sepultura, Neil Young e Quincy Jones
quinta-feira, 31 de outubro de 2024
TEM QUE OUVIR: Converge - Jane Doe (2001)
Ser "jovem metaleiro" no adentrar do século XXI era estar no meio da ebulição do metalcore. Do Hatebreed, passando pelo Trivium e Killswitch Engage, foram muitos os grupos que construíram público com um som moderno (leia "de produção digital"), pesado, grave e de energia jovem. Mais alternativo, o Converge foi o grupo que levou o gênero ao seu limite, tornando-se referência de criatividade e rispidez no segmento. Jane Doe (2001), o quarto álbum do grupo, é um marco desta evolução.
A banda é formada pelo vocalista Jacob Bannon (fundador do importante selo Deathwish Inc.), o produtor e guitarrista Kurt Ballou (que trabalhou com bandas como Isis, Nails, Code Orange, dentre inúmeras outras), o baixista Nate Newton (Cave In, Old Man Gloom, Cavalera Conspiracy, Jesuit) e o tremendo baterista Ben Koller (Mutoid Man, Killer Be Killed, All Pigs Must Die). É uma verdadeira seleção do metal alternativo.
Um ouvinte desatento pode ter seu canal auditivo queimado ao dar o play em "Concubine". Aqui há alguns dos berros mais intensos já registrados, que parecem saturar por ter as válvulas da garganta aquecidas. De cuspir sangue.
A interação da guitarras e bateria (com direito a passagens ultra velozes/impulsivas/descompensadas) em "Fault and Fracture" gerou uma das minhas canções prediletas da virada do milênio. Sua construção eufórica não dá brecha pra descanso.
O riff "Distance and Meaning" é singular (pela angularidade, dissonância, timbre, ritmo). A faixa remete ao que aconteceria se o At The Drive-In ou Refused tivessem o pé ficando do metal. Com isso, dá pra dizer que o Converge incorporou nuances do post-hardcore no metalcore.
Essa variedade e predileção por tensionar os gêneros parece ser a tônica de "Hell To Pay", faixa de freio de mão puxado, baixo cavernoso e uma aura meio grunge (linha Melvins), meio psicodélica (linha Soundgarden quando viajava), completamente estranha.
No meio dessa rolo compressor, há riffs que exalam uma conexão espontânea com o ouvinte, vide o atropelo "Homewrecker", faixa de intensidade irresistível, com a raiz fincada do punk rock (embora bem mais agressivo).
A dobradinha "The Broken Vow" (de algum modo remetendo ao que o Mastodon viria a fazer) e "Bitter and Then Some" são um escândalo. É poderoso e pesado não somente por conta da captação/mixagem excelente, mas principalmente devido a performance abrasiva. Vale aqui dizer que o disco soa volumo e corrosivo, mas também orgânico.
Ainda sobre execução, a patada que cada instrumentistas dá em "Heaven In Her Arms" chega até a esconder sua bonita progressão harmônica e "apelo melódico".
Há um experimentalismo em "Phoenix In Flight". O andamento arrastado típico do doom metal, timbres "espaciais" de guitarra, a voz enterrada na mixagem... é um momento hipnótico que ajuda a dar dinâmica ao álbum. Vale ainda dizer que ela desagua na curtinha e paranoica "Phoenix In Flames".
Se o metalcore muitas vezes ficou marcado por criar breakdowns "apelativos" - que através de uma fórmula, parece guiar o público para momentos de intensidade previsíveis - o Converge trouxe ritmos complexos/tortos (eis o mathcore) para criar climas perturbadores, vide o que acontece na descontrolada "Thaw".
Fechando o disco, 11 minutos de "Jane Doe", faixa de riffs poderosos, atmosfera progressiva, inquietude composicional e poética melancólica. Um desfecho épico digno da excelência apresentada por todo o álbum.
A banda nunca deixou a peteca cair, lançando ainda hoje excelentes trabalhos, fazendo shows energéticos e sendo relevante no cenário. Mas Jane Doe (2001) virou um álbum cult, sendo sua capa um emblema de uma geração do metal alternativo.
sexta-feira, 27 de setembro de 2024
ACHADOS DA SEMANA: Oasis, Talking Heads, Sylvia Telles, Erasmo Carlos, Caetano Veloso, Devo, Deep Purple, James Taylor e Premeditando o Breque
sábado, 24 de agosto de 2024
ACHADOS DA SEMANA: Marcelo D2, Vinnie Colaiuta / Robben Ford / Jimmy Haslip, The Cure, Government Issue e Stone Temple Pilots
quinta-feira, 22 de agosto de 2024
TEM QUE OUVIR: Bill Evans Trio - Portrait in Jazz (1960)
A lista de grandes pianistas da história do jazz é sem fim. Nas primeiras linhas certamente está o nome do Bill Evans, músico norte-americano que atravessou as décadas de 1940 e 1950 tocando sem parar, chegando no ápice ao adentrar o sexteto do Miles Davis, onde em 1959 ele gravou o emblemático Kind Of Blue, tendo inclusive colaborado em duas composições. No ano seguinte, sob maiores holofotes, formou um novo trio e gravou o clássico Portrait in Jazz (1960).
Aqui o pianista soma forças ao gênio do contrabaixo Scott LaFaro e o baterista Paul Motian. Com uma delicadeza instigante e erudição formal no approach, o trio foi responsável por dar uma cara mais moderna ao jazz.
"Come Rain Or Come Shine" abre o disco trazendo bloco de acordes rebuscado, de ar quase impressionista. O improviso ao piano parece "fechado" numa região, soando complexo, mas também conciso ao não se estender por toda a tessitura do instrumento. Paralelo a isso, o som profundo e livre do baixo acústico dá sustentação a música. Adoro como no fim o LaFato faz uso de um arco.
Se "Autumn Leaves" já é icônica por si só, aqui ela aparece numa de suas melhores interpretações. É magnifico como os solos piano, contrabaixo e bateria caminham paralelamente, se encontrando ao final sem ninguém precisar segurar a mão de ninguém. É uma viagem fluida de três músicos que nasceram pra tocar juntos.
Com fraseado quase blues no piano, walking bass dançante e uma condução de vassourinha na caixa, "Witchcraft" acompanha uma bebida amadeirada. O solo do Scott LaFaro é sinistro de tão desenvolto.
"When I Fall In Love" é uma balada apaixonada, que mostra todo o lirismo do Bill Evans ao imprimir sua personalidade sem apagar a atmosfera da composição. Aqui vale destacar a cristalinidade da captação dos instrumentos.
"Peri's Scope" é a primeira composição do disco assinada pelo Bill Evans. Confesso achar menos inspirada - embora a performance seja irreparável -, ainda mais se comparada com outra faixa de sua autoria, a seminal "Blue In Green", que fecha o disco numa versão que não ouso ao dizer ser "melhor acabada" do que a encontrada no Kind Of Blue. Fino.
Por sua vez, a desconstrução que o trio faz de "What Is This Thing Called Love?" (Cole Porter) exemplifica o poder de criação que o jazz proporciona. Solo primoroso do Bill Evans, sempre acentuando a harmonia através de frases virtuosas.
O tom apaixonado, esfumaço, de luz baixa, volta com toda força na linda "Spring Is Here". Tem uma condução harmônica em seu meio que é de chorar.
Não dá também para mencionar "Someday My Prince Will Come", mais uma prova da excelência pianistica do Bill Evans. Seu inicio é quase erudito, pra depois se jogar num improviso fluido, com direito a acentuações rítmicas e uso de acordes primorosa. A condução sóbria do Paul Motian é uma aula de como tocar jazz.
O trio ainda gravaria outros álbuns na sequência, incluindo o também histórico Sunday At The Village Vanguard (1961). Todavia, Portrait in Jazz, como só poderia ser, é um retrato inicialmente mais convidativo não só para conhecer o trabalho do Bill Evans, mas também para se jogar no mundo do jazz.