terça-feira, 16 de dezembro de 2025

RETROSPECTIVA 2025: Bandas que voltaram / Bandas que acabaram

BANDAS QUE VOLTARAM

Acid Bath
Anunciaram a volta no final do ano passado e em 2025, após 28 anos parados, subiram novamente aos palcos. Chegaram até mesmo a dividir eventos com Mastodon, SOAD, dentre outros grupos que tem eles como referência. Um dos grandes nomes do sludge. Tomara que role deles virem para o Brasil.

Nevermore
Por enquanto, se não me engano, ficou só no anúncio. Nem a formação ficou clara, já que o vocalista Warrel Dane morreu. Inclusive, a família do vocalista parece que desaprova essa volta. Acontece. Aguardar pra ver os rumos que o Jeff Loomis dá ao grupo.

Figueroas 
Não devia nem ter parado. Projeto divertido demais. Espero ver um show em breve).

Superguidis
Banda impressionantemente já veterana do indie rock. Fizeram alguns shows relembrando o disco estreia. Legal.

Gene
Boa banda do britpop. Tão surfando na onda levantada pelo o Oasis. Acho que a reunião ficou pro ano que vem.

Dark Angel
Além dos shows, voltaram com um disco de inéditas após mais de três décadas, que confesso ainda não ter escutado. Ainda assim, não deixa de ser uma boa notícia.

Savatage
Após pedidos, grupo vem se reunindo para esporádicos encontros, inclusive no Brasil. Mas. como previsto, a formação atual é um grande catadão.

Tihuana
Não que alguém tenha pedido, mas lógico que até eles iam surfar na onda das voltas. Ficaram 12 anos parados. Honestamente, tirando os fãs (que me surpreende existirem), alguém sentiu falta?

Pulp
Lançaram o primeiro álbum em 24 anos. E é ótimo. É o suficiente. Qual a chance de virem ao Brasil?

Moptop
Voltaram com um disco novo. Honestamente não me informei mais sobre, já que honestamente não me interesso.

4 Non Blondes
Andaram fazendo alguns shows. Não que alguém pediu, mas beleza. Fato é que me deparei com um vídeo deles tocando o hit “What’s Up?” e fiquei surpreso como a voz da Linda Perry está intacta. Vale lembrar que ela é uma compositora de sucesso, de modo que não acho que voltaram por mera questão financeira.

Stereolab
Lançaram um tremendo álbum de inéditas após 15 anos. Parecem ter voltado exatamente de onde parou. Por sorte, ainda deram um pulo no Brasil. Bandaça!

Clipse
Voltaram já surfando merecidamente na crista da onda. O duo anunciou o primeiro disco e apresentações após 15 anos. Mesmo o antigo produtor, nada mais que o Pharrell, está envolvido no recente disco. Muito legal!

Macaco Bong
Inclusive com uma nova e ótima formação. Quero tentar assistir um show em breve.

Alice Cooper Band
Lançaram um disco de estúdio após 52 anos. Muito mais que o resultado em si (esquecível, divertidinho), foi legal a parceria do Alice Cooper de trazer e, deste modo, enaltecer seus antigos parceiros.

The Beta Band
Fizeram o primeiro show em 21 anos. Não vi mais nada sobre.

Rush
Por enquanto veio só o anúncio, mas já não deixa de ser uma notícia impactante (no bom e mal sentido). Na bateria agora terão a ótima Anika Nilles. Não me dou relevância ao ponto de comentar se eles devem ou não fazer isso. Se assim acham justo, por que não? Quem se interessar em assistir que vá.

Sugar
Anunciaram tour após quase três décadas. De quebra já veio uma faixa inédita. Torcer para que eles passem pelo Brasil. Bob Mould não dá bola fora.

Angra
Anunciaram uma pausa e, pouco tempo depois, um encontro com a formação Nova Era, que ficou pra 2026. Rafael Bittencourt não pareceu tão confortável com a ideia, mas correr o risco de alguém morrer (vide o que aconteceu com o André Mattos) também não parece. Fabio Lione também pareceu não curtir, tanto que deu área. Angra sendo Angra, gerando novela.
 
Triumph
Após três décadas, a banda canadense comunicou que vai se reunir com a formação clássica para comemorar os 50 anos de grupo. Torcer para que não seja constrangedor. Até nisso copiaram o Rush (piada, gente). Que seja bacana.

Barão Vermelho
E como já estava sendo ventilado por aí, o Barão Vermelho vai se reunir com a formação inicial, trazendo o Frejat e Dé Palmeira para grandes shows. Ney Matogrosso participará “fazendo a vez” do Cazuza. Tem tudo pra ser legal (não que eu esteja disposto a ir conferir).


BANDAS QUE ACABARAM

Cirith Ungol
Banda de heavy/doom tradicional. Fizeram um show de despedida no Brasil e tudo. Ao que consta, ficou insustentável para eles ter a banda em atividade. Resultado direito das crises econômicas que afetam a indústria musical.

Front 242
Histórica banda de EBM. Fizeram o último em sua terra natal, na Bélgica. Tá aí um evento que gostaria de ter presenciado.

Refused 
A idade chega para todos, até para aqueles que aparentemente ainda tinham lenha pra queimar. Farão o último show daqui uns dias. Passaram pelo Brasil, mas infelizmente perdi o show.
 
Orange Goblin
Em 2025 anunciaram sua tour de despedida. Não acompanhei que fim deu. Era uma banda bacana, mas após 30 anos realmente perderam o impacto.

Wu-Tang Clan
O grupo é tão envolto a mistérios e publicidades (na mesma medida) que eu nem duvido que estarão de volta daqui 5 anos (possivelmente não com todos, o que também é normal). Isso posto, vão rolar shows ainda em 2026.

Blacksea Não Maya
Trio português de música eletrônica. Confesso não ter me inteirado sobre o fim do grupo.

GEL
Mal começou e já acabou. Era uma promessa e apenas isso se tornou. Ao que consta o guitarrista cometeu vários delitos contra os outros integrantes, aí ficou insustentável. Bizarro.

Francisco, el Hombre
Anunciaram shows de despedida. É só o que sei.

Ministry
Eu adoro a banda, mas achei o anúncio meio caça-níquel. Tanto que não li mais nada sobre. Isso posto, ainda gostaria de assisti-los ao vivo.

Sá & Guarabyra
Como bem posto por eles: “morte natural”. Tão morando em cidades distantes, são idosos, fizeram tudo que podiam… tá ótimo. Grande dupla.

The Who
Anunciaram seus últimos shows nos EUA. Ficou com cara de “mal acabado”, ainda mais com aquela demissão estranha (e dupla) do Zak Starkey. Sei lá hein! Tem hora que é melhor tirar o time de campo em silêncio.

Johnny Mathis 
O lendário cantor, aos 89 anos, anunciou sua aposentadoria nos palcos. Não dá pra reclamar. Que desfrute de seus anos de vida.

Golpe de Estado
Mesmo após a morte do Nelson Brito (e já sem Catalau, Paulo Zinner e Hélcio Aguirra) a banda continuava se apresentando com uma formação boa, mas completamente descaracterizada. Achei zuado. Mas talvez estavam apenas cumprindo datas. Fato é que veio o comunicado de fim do grupo. Foi ótimo enquanto durou e os discos estão aí para sempre que a gente quiser relembrar. A banda que mais assisti ao vivo na vida.

Planet Hemp
Até o Planet surfando nas famigeradas tour de despedidas, resultado num enorme show no Allianz. Eles merecem! Ao menos no caso deles não devem voltar tão cedo. Chuto uma tour de 50 anos (que chegará mais rápido do que parece).

Jesus Piece
Jovem banda de metalcore que ainda tinha lenha pra queimar, mas os desentendimentos internos foram mais fortes.

Mineral
E novamente a cultuada banda de emo anuncia uma pausa. Se tudo der certo daqui um tempo eles voltam.

Carne Doce
Só consegui pensar em “Goiânia” do Lupe de Lupe. Nada mais a dizer.

Whitesnake
Após aquele vai e não vai, eis que o David Coverdale anunciou a sua aposentadoria e, consequentemente, o fim do Whitesnake. Melhor assim, sem tour de despedida e maiores micos. Foi uma grande banda e uma grande voz.

E ainda teve o Black Sabbath, que após uma turnê de despedida triunfante, fizeram um último show, em sua cidade natal, com a formação original e com outras grandes bandas da história do heavy metal prestigiando os criadores do gênero. Lindo. Ficou ainda mais comovente com a morte do Ozzy poucas semanas depois. RIP Ozzy, RIP Black Sabbath.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2025

RETROSPECTIVA 2025: Shows do ano (entre os que vi, claro)

Antes de falar sobre os shows do ano, vale pontuar algo que poucos dizem de forma clara: nenhum evento é imperdível!

Por vezes vomitamos nossas experiências como se isso fosse indispensável para compreender a arte, quando na verdade ela é apenas um privilégio para poucos. Falar de shows imperdíveis quando a situação econômica da maior parte da população anda em frangalhos e os ingressos para os eventos são de valor proibitivo (vale ressaltar, não necessariamente por culpa da produção dos eventos) é no mínimo bobagem.

Uma solução para driblar essa loucura que virou os grandes eventos, tem sido ir a pequenos shows pela cidade. E posso garantir que, enquanto experiência musical, muitas vezes é até melhor que os shows badalados.

Dito isso, vale listar alguns shows que rolaram, mas que perdi:
7Seconds, A.G. Cook, Air (tocando o Moon Safari na íntegra), Amyl And The Sniffers, Andrés Calamar, A Place To Bury Strangers, Baroness & The Cult (tremenda dobradinha!), Behemoth & Deicide, Brian Blade, Ca7riel & Paco Amoroso, Cap’N Jazz, Carcass, Caribou, Codeine, Coroner (na cidade em que moro), Corrosion Of Conformity, Danko Jones & Graveyard (outra ótima dobradinha!), Dark Angel, De La Soul, Earth Crisis, Exodus (tocando o Bonded By Boood na íntegra), Ezra Collective, Foreigner, Fuzztones, Gutalax, Helado Negro, Helmet, Hozier, Ichiko Aoba, Incubus (tocando o Morning View na íntegra), Jeff Mills, JPEGMAFIA, Kacey Musgraves, Kim Gordon (com abertura da Moor Mother), Lady Gaga (o monumental show em Copacabana), Laufey, Lemon Twigs, Linval Thompson, Lional Richie, Mad Professor, Meshell Ndegeocello, Michael Kiwanuka, Michael, Manring, Mogwai, Molchat Doma, Mudhoney, Nicolas Jaar, Nilüfer Yanya, Oasis (aclamado e gigante show), Olivia Rodrigo, Omar Souleyman, Opeth, Otoboke Beaver, Pentagram, Perfume Genius, Poppy, Rachel Chinouriri, Refused (pela primeira vez no Brasil, tocando o The Shape Of Punk To Come na íntegra), Savatage, Shonen Knife, Skepta, Slaughter To Prevail, Snarky Puppy, Steven Wilson, Supergrass (tocando o I Should Coco na íntegra), System Of A Down, The 5.6.7.8’s, The Aristocrats, The Casualties, The Chisel, The Damned, This Will Destroy You, Tindersticks, Tool, Touché Amoré, Weezer (tocando o Blue Album na íntegra), Zulu e o Setembro Negro (com Agalloch, The Crown, Coven, Macabre, Watain, Primitive Man, Incantation, Power Trip, Candlemass, Triptykon, Varathron, dentre outras), Balaclava Fest (com Stereolab, Yo La Tengo e Geordie Greep) e a volta da Circuito (com Valentino Kanzyani, Camilo Rocha, Renato Cohen e Manu Villas).

Tivemos também a triste apresentação da Patti Smith cancelada por conta de um desmaio logo no início do espetáculo. Ebo Taylor, já no Brasil, também cancelou shows por motivo de saúde. E ainda tivemos o vexame que foi o anúncio e cancelamento do show do Kanye West, que tava na cara que não ia rolar.

Agora sim, vamos aos shows que eu fui:

Jon Spencer 
Show no SESC, baratinho, em plena quarta-feira. É disso que precisamos! Após tantos anos, ficou nítido que ele decodificou o rock como poucos, tanto no que diz respeito ao seu canto quanto as guitarras. Ele foi acompanhado de uma tremenda cozinha, que em certos momentos até passou por cima dele. Show volumoso, chegando a saturação sem perder a clareza. Muito legal.

Bike & Hoovaranas
Confesso que fui pra ver o Bike, mas foi o Hoovaranas que saltou aos meus ouvidos. Conhecia o disco, mas me surpreendi com a qualidade técnica do trio. Todos ali tocam muito e já apresentam uma interação madura. 
Por sua vez, o Bike apresentou faixas do novo disco, até aquele momento ainda não lançado. Foi como um teste para ver como as músicas funcionariam ao vivo. Fui preparado pra uma psicodelia mais convencional e me deparei com uma performance intensa, densa e barulhenta (chegando ao ponto de incomodo). As canções evoluíam lentamente, formando um caos sônico à la Swans. Impressionante.

Sangue de Bode 
Fico maravilhado quando vou em shows de bandas nacionais - não esperando muito, apenas por ter gostado de um disco, estando pronto pra performances nem tão boas - e me deparo com apresentações verdadeiramente avassaladoras. Foi o caso do Sangue de Bode. Banda maravilhosa, do conceito das composições, passando pela execução redondíssima. O baterista é um cavalo. Muito legal! 
Ah, teve ainda abertura do Inraza, que honestamente não lembro, o que já diz muito (é a verdade).

Beat 
Robert Fripp e Adrian Belew é minha dupla de guitarras predileta da história. Fripp tá aposentado. Com sua benção, Belew chamou o Steve Vai pra tocar o repertório 80’s do King Crimson. O baixista original Tony Levin e o batera do Tool, Danny Carey, completam o time. Show espantoso. Músicas com quase meio século soando ainda inventivas. A dobradinha Belew & Vai preserva e renova tudo que mais gosto no instrumento. Daria um textão se eu destrinchasse cada aspecto que me impressionou - as bases do Steve Vai, os timbres de bateria, o carisma do Belew, a complexidade das divisões rítmicas, como envelheceu bem o flerte com a new wave dentro do contexto prog -, então vou resumir citando “Indiscipline”: “I wish you were here to see it. I LIKE IT!”. FODA!

C6 Fest
“Maria Esmerada”
Faz tempo que queria ver a apresentação deste projeto, que lançou um dos álbuns mais legais de 2024. Uma “novela-rap” de frescor, com beats consistentes, variedade no flow e momentos emotivos. Tudo levado ao palco com categoria e força. Demais eles terem conseguido trazer ao show muitos dos rappers que participaram do álbum. Mais do que ficar relatando minhas impressões, acho legal que vocês ouçam o disco e tentem ver alguma apresentação deles.

English Teacher
Um daqueles grupos com a cara do rock de 2025, típico de uma geração sem preconceitos sonoros e que não se divide em tribos. É indie, com muito do pós-punk e até uma interação com o rock progressivo. Uma forma nada ortodoxa e de ótimos resultados. No palco tudo é conduzido por uma cantora carismática e dona de tremenda voz. A banda segurou a onda com uma performance consistente. Não por acaso eles tem galgado espaço, inclusive ganhando o prestigiado Mercury Prize. Grande acerto da curadoria do festival em apostar nessa banda em ascensão.

The Last Dinner Party
Eu tinha escutado o disco delas e achado bem legal, mas não voltei nele. Mas a banda ficou enorme, principalmente entre jovens meninas, que se identificam com os dilemas refratados nas letras, com as roupas burlescas e pela mistura sonora de Kate Bush com Siouxsie And The Banshees, David Bowie e Queen. Indiscutivelmente uma tremenda fórmula, que erroneamente achei que esfacelaria no palco. Por sorte elas tocam bem, tem presença vibrante e comunicação direta com o público. Fiquei feliz. Vou apresentar pra Maria.

Wilco
A banda que me salvou de ser um metaleiro. Sem brincadeira, acho que comecei a gostar deles antes de gostar de Beatles. Foi aqui que aprendi o valor da melodia, da composição. E de quebra veio junto um dos maiores guitarristas do rock alternativo (Nels Cline é um dos meus heróis). Show emocionante. Um combo poderoso de Neil Young, Byrds, Sonic Youth e Television. Performance espetacular. Já na campanha pela volta do Wilco ao Brasil.

Nile Rodgers
O Wilco já era motivo suficiente pra me fazer pagar pelo ingresso do C6 Fest, mas botar o Nile Rodgers na mesma noite foi um tremendo incentivo. Um dos inventores da música pop. Liderou a maior banda da disco music, o Chic. Trabalhou com David Bowie, Diana Ross, Duran Duran e Daft Punk (só pra ficar com aqueles que começam com a letra “D”). E é um dos maiores guitarristas rítmicos da história. Vi vídeos da apresentação dele no Rio de Janeiro e fiquei temerário com o fato de ter outro guitarrista no palco, que para minha alegria, só deu as caras numa única música. Nas outras foi o Nile que soltou a munheca em grooves tão memoráveis quanto complexos. O show é praticamente um pout-pourri de hits. Verdadeiro baile. Tanto que foi a primeira vez que não me incomodei com pessoas conversando, tirando fotos em galera, dançando de forma invasiva… era festa! Adorei ver imagens no telão do Nile ao lado do Bowie, Prince, SRV e, principalmente, Bernard Edwards e Tony Thompson. A história da música pop passa por aqui.

Iggy Pop
Fui no The Town por um único motivo: ver o show Iggy Pop, que nunca tinha assistido. E vê-lo ao vivo é testemunhar 60 anos de serviços prestados ao rock, estilo que ele ajudou a forjar de forma bruta. Um símbolo da contracultura, da queda do sonho hippie. O pai do punk rock. Um farol. Showzão, enfileirando clássicos do Stooges e da carreira solo. O vigor e a voz  não são mais os mesmos, mas foi divertido demais. Bandaça, com direito ao Nick Zinner na guitarra. Search And Destroy!

Ah, de quebra ainda conferi um ótimo show da Pitty (que também nunca tinha visto e fiquei impressionando com a excelência da banda, do som e a quantidade de hits) e do Green Day (que adorava na infância, então fui conferir, entusiasmado somente com as canções que o Billie Joe Armstrong usa sua surrada strato. E enche o saco o lance dele querer levantar a plateia a todo momento hein. Mas foi bacana).

Kendrick Lamar 
Cheguei cedo pra ver a abertura do Ca7riel & Paco Amoroso, que embora não tenha embarcado tanto no som deles, consegui ver valor dentro de um contexto do pop latino. Infelizmente ali das cadeiras do Allianz o som deles tava bem ruim, de modo que não deu pra entrar no clima da apresentação. Ainda assim, fiquei surpreso com a adesão do público. Ah, como também não sou tão familiarizado com o projeto, achei curioso o elemento androgino que eles trazem. Ok. 

Agora, indo pro Kendrick, eu adorei a apresentação. Aqui o som tava ótimo, potente, vibrante, com direito a graves de fazer o crânio tremer. Senti falta de uma banda de apoio - ainda mais num show enorme de estádio -, ao mesmo tempo que valorizo a força de um MC/frontman imponente que controla a plateia sozinho, apenas com seu flow afiado, sem aparentar sequer beber água, sem se enrolar tecnicamente. Repertório muito bom. Vale dizer que eu era dos mais velhos ali presentes. O público é muito jovem. E aqui vale dizer que é improvável eles se renderem a sons de produção mais orgânicas, visto que eles absorvem um tipo de resposta sonora (e frequências) que é muito física. Muito difícil uma banda de rock chegar a esse tipo de resultado sônico. Espetacular.

A Cor do Som 
Tenho uma questão pessoal de ver todos os grandes guitarristas brasileiros ao vivo. Armandinho era um dos que faltavam. E sobre ele, vale dizer que se singularidade é a principal busca pra qualquer guitarrista - músico em geral, na verdade -, então o Armandinho é dos maiores. Pegou a guitarra baiana e misturou Waldir Azevedo com Eddie Van Halen. Isso numa banda que ora era pop (de tocar na rádio, no trio elétrico), ora batia de frente com o Return To Forever (sempre vi o Ao Vivo em Montreux como um clássico do jazz rock/fusion). Bandaça!

Budang 
Privilégio conseguir ver uma banda em ascensão como o Budang num lugar tão pequeno como o 74Club. Embora, devo dizer que achei o show nem tão intenso quanto esperava. Expectativa talvez causada por um ótimo disco. Isso posto, é uma banda bacana, que ainda tem muito a evoluir e ganhar corpo. Vale dizer que rolou um bom show de abertura do Riot Wolves, grupo que nada conhecia.

Massive Attack e Cavalera 
Eu nunca tinha visto os irmão Cavalera ao vivo. Sou de uma geração que pegou a entressafra do Sepultura. E pra falar a real, sempre achei cansado o papo de ficar pedindo a volta dos dois. Mas aí pintou deles abrirem o show do Massive Attack, focando o repertório justamente no Chaos A.D., meu disco predileto do Sepultura, dos melhores dos anos 90, da música brasileira, da história do metal. Sempre disseram que os irmãos não estavam em grande forma. Durante anos vi vídeos que corroboravam essa afirmação. Mas ontem não foi essa minha impressão. Eu adorei o show! Eles tem uma liga impressionante. Tocar junto desde criança ajuda um pouco. Fora o carisma, a aura, a história. O Iggor é dos bateristas mais viscerais que já vi. Já o Max… basta dizer que no meu ranking de O Maior Brasileiro de Todos os Tempos (na régua “lista do SBT”) eu botaria ele em primeiro.
Obs: o guitarrista solo é bem bom, o baixista (filho do Max) tem presença e o som tava ótimo.

Sobre o Massive Attack, vale dizer que sempre foi um projeto distante assisti-los. Não é uma banda que vive dando as caras por aí. Na atual (e aclamada) turnê, eles alinham suas músicas com questões políticas pertinentes, nem sempre desenvolvidas da maneira mais esclarecida possível. Tudo bem, ainda é “apenas” um show, sendo que musicalmente e visualmente é um espetáculo como poucos. Repertório majestoso (só não entendi aquele Avicii no final), entregando variadas nuances. Há momentos singelos, hipnóticos, emotivos e intensos. Tudo dentro daquela paleta do trip hop que engloba jazz, dub, música eletrônica, rap, rock e soul. A presença do Horacy Andy e da Elizabeth Fraser (essa ovacionada por todos os órfãos do Cocteau Twins) foi emocionante. Duas das vozes mais singulares deste tempo. Ele brilhou em “Angel”, ela numa versão lindíssima de “Song To The Siren”. E olha que teve “Teardrop”. Show impecável. Há um espontaneidade vibrante na performance, mas também uma excelência muito próxima do que eles alcançam em estúdio. Nesse sentido vale destacar o ótimo guitarrista Alex Lee, dono de timbres e execução primorosa. Dos grandes shows que assisti. Cabe agora ver se aparece alguma arte do Banksy por São Paulo.

Lupe de Lupe
Lupe de Lupe, a grande banda brasileira de rock dos últimos 15 anos. Isso “tocando mal”, “cantando mal”… ao menos é o que falam (inclusive eu). Não foi o que demonstraram. Ao menos compor sempre afirmei que eles fazem como nenhuma outra banda desta geração. Show intenso, emotivo, pesado (teve momentos à la Swans) e de grande identificação com o público (pertencente a faixa dos 18 anos).Foda. Heróis do rock triste.

Vale ainda dizer que antes rolou show do O Grande Babaca (bem feito, mas excessivamente engraçadinho) e da banda da Juvi (divertido, mas também excessivamente engraçadinho).

Boris 
Boris, a lenda. Do Japão pro mundo, levando seu drone-sludge-noise-punk-stoner pra quem tiver coragem. Não é brincadeira. Um show MUITO alto. Como já suspeitava, deixei um protetor auricular na manga caso precisasse. Tive que usar. Passaram por cima do atraso (que chegou a me causar raiva) como um rolo compressor. Bastou começar pra eu ser levado de um lado do palco para o outro. Parei na frente da Wata, uma guitar hero, uma musa. Os três são arquitetos das frequências sonoras. Há uma construção timbristica imersiva, intercalando entre nuvens de guitarras, baixos corrosivos, bateria monolítica e momentos explosivos. Fizeram um show definitivo de rock. Não sei da pra ser melhor que isso).

E teve abertura do Siena Root, banda bacana, mas que por conta do atrasado, dos problemas técnicos (mais no palco que no PA) e um som excessivamente retrô, meio que acabou não entusiasmando ninguém. Mas vale deixar reforçado que o guitarrista era excelente, trazendo uma sonoridade que fica entre o Blackmore e o Dickey Betts (que ele emulou até visualmente)

Os Paralamas do Sucesso
De quebra, aos 45 do segundo tempo, tive a chance de conferir em família o show d’Os Paralamas do Sucesso. E não podemos banalizar a força desse três juntos. Só hits, boas performances (inclusive do Herbert), minha filha feliz (ela adora “Óculos” e “Vital e Sua Moto”), um churros, show no entardecer…. excelente. Fazia muito tempo que não assistia eles e fiquei emocionado de ve-los em cima do palco. Uma força da natureza.


Ah, ainda tive a chance de levar minha filhinha no teatro da cidade para ver o "Concerto para dois Chalumeaux" (Telemann), "Bachianas Número 6" (Villa-Lobos) e "Pierrot Lunaire" (Schöenberg). Nem vou tecer maiores comentário por incapacidade de avaliação. Apenas digo que foram ótimas as três apresentações.

Conferi também com minha filha duas belas exposições "musicais": Andy Warhol: Pop Art! e Baú do Raul. Ambas muito legal, sendo a do Raul Seixas pessoalmente emocionante. 

Que venha 2026!

sexta-feira, 12 de dezembro de 2025

ACHADOS DA SEMANA: The Dillinger Escape Plan, Void, Sá Rodrix & Guarabyra e Antônio Carlos & Jocafi

The Dillinger Escape Plan
Calculating Infinity (1999). Uma banda já brutal por natureza, mas que faz da urgência de sua estreia algo atropelante. Sonoridade quente e com performances tecnicamente impressionantes. Foda! 

Void 
Banda cultuada do “punk hardcore torto”. Kurt Cobain era um dos entusiasta. Tava escutando a parte deles no Split com Faith lançado em 1982 pela Dischord. É uma cacetada! Pesado e estranho. Antecede muita coisa no hardcore. 

Sá, Rodrix & Guarabyra 
Adoro o Passado, Presente & Futuro (1972), mas nunca tinha escutado outros álbuns do trio. Peguei o seguinte, Terra (1973), também espetacular. Canção pop brasileira com ecos progressivos da época. Tive que esperar minha filha num compromisso e fiquei numa praça ensolarada ouvindo o álbum. Coisas verdadeiramente simples e deliciosas da vida.

Antonio Carlos & Jocafi
Mais um grupo que, coincidentemente, leva o nome de seus membros e que eu só conhecia o ótimo debut. Por algum motivo tinha salvo o Antonio Carlos & Jocafi (1973) pra ouvir. Descritivamente, dá pra dizer que é o alicerce da “canção brasileira classe média cirandeira”. Tô sendo pejorativo injustamente, já que o som é ótimo, mas não posso ignorar que o rótulo cabe. É baiano, místico, tem “brasilidade”, samba, funk, raizes afro… isso tudo soando pop. Muito legal. 

quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

RETROSPECTIVA 2025

Chegou dezembro e junto a já tradicional retrospectiva deste blog.

Felizmente pudemos desfrutar de bons momentos musicais, tanto ao vivo, quanto em disco.

Durante esse mês relembraremos os shows que rolaram no Brasil, os artistas que morreram, bandas que acabaram, outras que voltaram, músicas que "bombaram" e os melhores álbuns lançados.

Abraços e um 2026 ainda melhor pra todo mundo.

sexta-feira, 28 de novembro de 2025

ACHADOS DA SEMANA: The 5th Dimension, Mavis Staples, Agostinho dos Santos e Patrulha do Espaço

The 5th Dimension
Daqueles grupos que só conhecia pelo nome. E ouvindo uma compilação, chamou atenção como até uma banda de soul/pop americano se rendeu a psicodelia. Ótimas canções e performances. Se sua praia for sons dos anos 60, tem que conferir.

Mavis Staples 
Sou da geração que conheceu a Mavis Staples já sendo venerada ao lado de caras como Jeff Tweedy e Jack White, de modo que achei que tinha a obrigação de voltar onde tudo começou, Mavis Staples (1969), uma pérola do rhythm and blues/soul/gospel. O disco tem aquela sonoridade tão parruda quanto orgânica que só a música negra norte-americana da década de 1960 parece atingir. Desvendando a ficha técnica chegamos aos nomes de Barry Beckett, Steve Cropper, Al Jackson Jr., Isaac Hayes, dentre outros. Um luxo. Groove, alma, arranjos. Fora, é claro, a performance classuda da Mavis Staples. Lindo desde a capa. 

Agostinho dos Santos
Quando se deparar com uma lista das maiores vozes da música brasileira, certifique se há a presença do Agostinho dos Santos, caso contrário pode ignorar. Ouvindo seu álbum de 1966 - dono daquele design clássico da Elenco - fiquei novamente maravilhado. Timbre, afinação, dicção, interpretação… é tudo perfeito. Lamento não saber e não estar munido da ficha técnica, já que valeria mencionar o nome dos músicos (destaque para o baterista), arranjador e do técnico de gravação. Que gravação!

Patrulha do Espaço 
Por acaso cai no álbum Patrulha do Espaço Vol 4 (1983) e embarquei na audição. Claro, tem umas afetações rockeiras que acho besta, inclusive ao tratar com ironia a new wave em “Nihil Wave”. Muitas letras e trejeitos vocais são uma bobajada. Talvez fizesse sentido na época. Isso posto, instrumentalmente é um hard rock certeiro.

segunda-feira, 24 de novembro de 2025

TEM QUE OUVIR: The Harder They Come (1972)

Algumas trilhas-sonoras são determinantes para o desenvolvimento de uma cultura musical. The Harder They Come (1972), estrelada pelo Jimmy Cliff - trilha e filme -, é uma excelente amostra do poder avassalador da música no cinema.


Distribuído pela Island, o disco foi o primeiro grande salto mercadológico e cultural do reggae fora da Jamaica. Na verdade, não só reggae, mas também do rocksteady e ska.

É assinar o atestado de mau-caratismo ficar imune ao som que sai dos falantes assim que o disco começa. Com guitarra calorosa, ritmo envolvente, coro vocal encantador e naipe de metais, "You Can Get It If You Realy Want" (Jimmy Cliff) não é tão distante assim da música negra norte-americana, trazendo ecos do rhythm and blues dentro de um contexto caribenho.

De baixo profundo, oriundo das produções de dub, "Draw Your Brakes" aparece sob supervisão do Scotty, que faz do ato de falar em cima de uma reprodução sonora uma arte própria (toasting ou deejaying). Isso tudo muito anos do hip hop. O resultado é tão convidativo quanto inebriante.

Não bastasse esse disco ter difundido o reggae enquanto gênero musical, a cultura rastafári também encontrou aqui uma plataforma de difusão. Isso ocorre diante da irresistível "Rivers Of Babylon" (The Melodians). Os cantores do grupo, assim como na tradição do doo-wop, criam coro de vozes reconfortantes.

Jimmy Cliff pega novamente o bastião em "Many Rivers To Cross", canção altamente melodiosa, calcada na soul music e com uma performance vocal arrasa quarteirão. Que voz!

Os lendários Toots and the Maytals trazem a genuína música jamaicana através das involuntariamente complexas "Sweet And Dandy" e "Pressure Drop", essa última um hino do reggae. Que balanço, que groove, que baixo! Adoro a ranhura orgânica da captação.

Nomeando filme e disco, "The Harder They Come" nasce lendária. Uma música emotiva já na letra, que diante da interpretação do Jimmy Cliff alcança voo mágico. A banda soa redondíssima, a melodia é excelente, a gravação é calorosa. Não tem erro!

"Johnny Too Bad" (The Slickers) é um template do reggae. A guitarra martelada, o baixo grave/pontual, o órgão solar e as vozes cheias de alma. É uma maravilha.

Retratando a cultura rude boy, "007 (Shanty Town)" (Desmond Dekker) é uma pérola crua do rocksteady. 

"Sitting Limbo", com sua progressão blues, é um desfecho pop e americanizado (no melhor sentido dos adjetivos) para o disco. Ah, na verdade há ainda uma versão instrumental de "You Can Get It If You Realy Want" que é prato cheio para DJs.

Grande parte das canções que compõe o álbum são formadas de singles lançados entre 1967-1972, mas que encontram aqui a luz do público. Isso embaladas numa capa que aproximou as questões raciais da Jamaica daquelas retratadas nos filmes de blaxploitation. Documento fundamental da música pop mundial.

sábado, 22 de novembro de 2025

ACHADOS DA SEMANA: Buckingham Nicks, Ten Years After, Primal Scream e Fafá de Belém

Buckingham Nicks
Buckingham Nicks (1975). Finalmente esse álbum foi remasterizado e lançado no streaming. Pra ser honesto, só conhecia a capa, nunca tinha escutado. Da pra entender porquê o Fleetwood Mac foi atrás deles. O Buckingham já tava pronto e a Nicks… ah, ela era linda. É um tremendo álbum de soft/pop rock, embora pensando como folk por conta da produção e arranjos enxutos. 

Ten Years After
O Nuno Mindelis fez um vídeo sobre o Alvin Lee, onde ele mencionou o Watt (1970) como um dos álbuns prediletos gravados pelo guitarrista. De imediato fui ouvir. É aquele blues rock certeiro, inclusive com um refinamento composicional muitas vezes não associado ao gênero. Acompanha cervejas e petiscos. 

Primal Scream
Já ia relembrar o grupo por conta da passagem deles pelo Brasil, mas a inesperada morte do Mani foi que ele levou ao XTRMNTR (2000), provavelmente o disco mais pesado, ríspido e energético do grupo. O que o Mani faz aqui não é brincadeira, tanto na criação das linhas quanto dos timbres. Por mais que tenha a cara da virada do milênio, ele envelheceu muito bem. Discaço!

Fafá de Belém
Muitos não imaginam os ótimos discos que a Fafá de Belém produziu na década de 1970. Banho de Cheiro (1978) é um espetáculo. A base instrumental soa como aquela que acompanhava a Elis Regina no mesmo período, mas aqui os arranjos são do Wagner Tiso e na ficha técnica temos nomes como Luís Alves (baixo) e o Rubinho (bateria). O repertório é ótimo, assim como a performance da Fafá. Tremenda voz! E vale dizer que ela está lindíssima na capa.