PAÍS DO BAURETS
sexta-feira, 19 de abril de 2024
ACHADOS DA SEMANA: Steve Reich, Marvin Gaye, Plebe Rude, Aerosmith e Buffalo Tom
sábado, 13 de abril de 2024
TEM QUE OUVIR: Tortoise - TNT (1998)
O post-rock já não era mais novidade no final na década de 1990. Entretanto, pouco grupos levaram essa ambição tão afundo quanto o Tortoise. Desprendido de estruturas conhecidamente atreladas ao rock, mas sem abrir mão da instrumentação e atitude intrínseca ao estilo, o grupo chegou ao seu auge criativo no cultuado TNT (1998).
Logo de inicio, o baterista/produtor John McEntire se coloca no centro de "TNT" através de um groove jazzistico, perfeitamente preenchido por guitarras arpejadas e um solo de corneta do Rob Mazurek. Tudo de forma improvavelmente acolhedora.
Falando em guitarras, vale dizer que esse é o primeiro disco com o Jeff Parker e o último com David Pajo. Vale lembrar também que, independente das inclinações de cada integrante, o grupo ficou caracterizado pelos músicos revezarem os instrumentos durante a construção das composições. Inclusive, a ideia de sobrepor gradativamente novos elementos, como obras inicialmente não fechadas, é outra peculiaridade deste trabalho.
Com manipulações de pós-produção em cima da sonoridade orgânica dos músicos, "Swung From The Gutters" em sua metade final soa como se o Miles Davis tivesse embarcado no krautrock.
Não é possível pensar "Ten-Day Interval" desconsiderando a música minimalista do século XX. Sua figura rítmica/melódica repetitiva na marimba (invocando um tempero oriental), alimenta tudo que a cerca.
O cinematográfico/bucólico violão na abertura de "I Set My Face To The Hillside" inicialmente guarda certa brasilidade. Todavia, quando melodia é entoada na guitarra (e com trêmulo) ela ganha um ar "italiano". Uma espécie de gaita só acentua essa percepção. Ennio Morricone manda um abraço. Sua metade final toma um caminho gracioso.
Não sei o quanto os caras do Radiohead ouviram esse disco, mas "The Equator" prevê algumas sonoridades eletrônicas que o grupo britânico viria a explorar. Por sua vez, "A Simply Way To Go..." parece ter um raciocínio de elaboração da música eletrônica, só que fazendo uso de instrumentos convencionais.
A concepção de "The Suspension Bridge at Iguazú Falls" revela muita inspiração e capacidade técnica - a polirritmia hipnótica de "Four-Day Interval" não me deixa mentir sobre os conhecimentos formais do grupo -, englobando diferentes texturas e climas em seu arranjo muito bem desenvolvido. Adoro as guitarras, o synth e a percussão latina.
Com uma progressão de acordes iluminada, ritmo discreto de house, violão de nylon e slide guitar, "In Sarah, Mencken, Christ, and Beethoven There Were Women and Men" não se parece com nada. Na verdade soa como seria o lounge se ele desse certo.
Em seu final, o disco dá um mergulho no eletrônico, vide a estranha "Almost Always Is Nearly Enought", o longo drum and bass-orgânico de "Jetty" e a derradeira "Everglade", com sua aura inebriante que fica entre o ambient e o jazz. Tipicamente post-rock.
Mais um detalhe que vale mencionar é a icônica capa do disco. Um desenho simples (no total estilo Daniel Johnston), mas que virou um emblema pra banda.
Embora cheio de inventividade, a criação parte de um conceito muito bem formulado, o que torna a audição do álbum uma agradável experiência. Fazia tempo que o (post-) rock instrumental não proporcionava isso.
domingo, 7 de abril de 2024
ACHADOS DA SEMANA: Alceu Valença, Sarah Vaughan, Inocentes, Os Replicantes e Noporn
sexta-feira, 29 de março de 2024
TEM QUE OUVIR: The Isley Brothers - 3 + 3 (1973)
Um dos grupos de maior sucesso na história é o The Isley Brothers. Sucesso esse representado pelo êxito comercial e artístico. Os Beatles regravaram "Twisted & Shout" por conta deles, o Ice Cube os sampleou… não é pouca coisa.
Surgido ainda na década 1950, enquanto um trio vocal - Ronald Isley, Rudolph Isley, O'Kelly Isley Jr. -, eles ajudaram a moldar o r&b, soul, funk, gospel e rock. Já na década de 1970, com dez álbuns e diversos singles na bagagem, somou-se ao trio original dois irmãos mais novos e um intruso - Ernie Isley, Marvin Isley e Chris Jasper -. 3 + 3 (1973), o primeiro lançamento do grupo pela Epic, inaugurou essa fase - o titulo do álbum faz referência a essa nova formação -, renovando a sonoridade, o público e colocando-os no centro da música norte-americana.
ACHADOS DA SEMANA: Nelson Freire / Chopin, Jim Hall, Elvin Bishop, Paralamas do Sucesso e Devotos
segunda-feira, 25 de março de 2024
Pitacos sobre o Lollapalooza 2024
Normalmente, durantes festivais e grandes eventos de música, costumo ir twittando minhas constatações para depois reuni-las no blog. Desta vez nem isso fiz. Mas decidi buscar na memória algumas breves impressões que tive do festival. Obviamente assisti tudo pela TV. Não tenho mais idade para me sujeitar a tamanha humilhação.
- Não que eu ache que deva existir uma "camaradagem persuasiva" entre artista e imprensa, mas que vexame foi a Luísa Sonza manifestando ressentimento contra o repórter Gui Guedes né. Típica atitude de quem não sabe lidar com o contraditório.
- E "assisti" o show da Luísa Sonza por cima. Se o fraco repertório, carisma e canto não me espantam, me surpreendi com a produção caída e alta previsibilidade. Pô, perto do que tem feito a Ludmilla, ficou devendo bastante.
- As músicas novas do Marcelo D2 funcionam melhor em disco.
- Não assisti BaianaSystem, The Offspring, Arcade Fire (esse até queria) e Blink 182 (esse também, mas mais pelo ineditismo que pelo som). Fiquei surpreso com os elogios ao Blink (quem foi diz que sentiu a pressão). Surpreso também com muitos se espantando com as cretinices das letras e comentários que eles fazem durante a apresentação. Eles são essa porcaria ai mesmo há três décadas.
- Liguei a TV e tava passando a apresentação da Manu Gavassi. Juro por Deus: não dá pra assistir. Carisma e "performance vocal" inexistente. Mudei com 1 música e meia.
- Vocês chegaram a ver o Hozier? Eu não vi. Queria saber se vale a pena. Já vi coisas bacanas e outras xaropentas dele. As vezes ele manda bem até na guitarra.
- Como li no twitter, "vocalista do Thirty Seconds To Mars é o pior papel do Jared Leto". E achei curioso que ele demitiu toda a banda e agora ficam só ele e o irmão no palco. Quer dizer, em certo momento entram uns fãs e o Marcelo (sim, o lateral esquerdo). Nada faz sentido.
- Todo mundo tem uma banda para gostar e se envergonhar. O Limp Bizkit é a minha. E embora saiba todos os problemas, sejamos sinceros, vocês viram o show? Pô, dentro do que eles se propõem a fazer, eles são muito bons. Pesado, divertido, não se levam a sério, entregam o que o público quer, bem tocado... tudo certo.
- A Re gosta muito de Kings Of Leon, então meio que fui "obrigado" a assistir umas três músicas. O bandinha burocrática hein. Tocam com vontade alguma. Não gosto não.
- Por sorte, a Re liberou a TV pra eu assistir o King Gizzard & The Lizard Wizard. Mesmo com um setlist reduzido (festival é isso aí), foi facilmente não só o melhor show do festival, mas periga ser um dos melhores do ano. Deixaram um pouco de lado a psicodelia e entraram na porrada, com as faixas mais pesadas. Tudo muitíssimo bem tocado. Energia, carisma, canções, técnica... sensacional. Que eles voltem em breve para um show só deles.
- Ah, acho que foi a primeira vez que relacionei o King Gizzard com Wishbone Ash e Grateful Dead. Tem certa influência em como eles pensam o arranjo de guitarras.
- Ao que consta, os Titãs fizeram o último show dessa tour de reunião. E por mais que eu goste da banda e tenha adorado assistir um show dessa turnê, já tá na hora de parar mesmo. Já tão no piloto automático novamente. Apresentação cansada.
- Gilberto Gil é um gênio, mas não me emociono com esses shows dele. E olha que o que mais tem é gente emocionada. Acho a banda fraquinha (tem que parar de empregar parente) e o repertório banal. Uma pena. Digo isso com meu máximo respeito e admiração a ele.
- Pessoal adorou o Phoenix. Eu parei de gostar da banda de 2002.
- Sam Smith deve ser um rapaz bacana, entendo a galera gostar (ele tem hits, tem carisma), mas simplesmente não é minha onda. Assisti só três músicas.
- SZA é uma boa cantora e vem construindo uma carreira interessante, mas honestamente não acho que ela já acertou em cheio. É ainda uma promessa.
- Fui na boa vontade, mas Greta Van Fleet não dá. Ao vivo parece ser pior que em disco. Tudo errado, do repertório às roupas. Fora que tocam com mão de alface. Uma dos maiores surtos coletivos é compararem aquilo com Led Zeppelin. Tá mais pra um Slade, só que sem as canções divertidas, a energia, a originalidade e o carisma.