segunda-feira, 28 de agosto de 2017

TEM QUE OUVIR: The Jimi Hendrix Experience - Axis: Bold As Love (1967)

Uma das perguntas mais divertidas e difíceis de ser respondida entre os que gostam de música é "qual o seu disco predileto do Jimi Hendrix?". O questionamento faz sentido já que o genial guitarrista, em seus apenas quatro anos de carreira, sequer teve tempo de dar bola fora. Todos seus discos são espetaculares. Embora considere a escolha cruel, fico com Axis: Bold As Love, seu segundo álbum, ainda sob encargo do trio Experience.


Lançado em 1967, mesmo ano do clássico disco de estreia Are You Experienced?, o grupo esbanja musicalidade, agora não mais restrita ao flower power, embora o clima psicodélico ainda estivesse lá, vide "Up From The Skies".

O elo entre peso e groove presente no riff de "Spanish Castle Magic" é uma das maiores amostras do poder de um power trio. É chover no molhado destacar a fluência do Hendrix enquanto solista nesta faixa.

A consciência pop do guitarrista se faz valer na maravilhosa "Wait Until Tomorrow", uma balada divertida e cheia de balanço. Já a lendária cozinha formada por Mitch Mitchell (bateria) e Noel Redding (baixo) tomam conta no ritmo delirante de "Ain't No Telling".

Não é incomum encontrar quem considere "Little Wing" a melhor faixa já gravada pelo Jimi Hendrix. Nela está nítida a qualidade dele em unir guitarra base e solo numa coisa só. Sua introdução majestosa é uma aula para qualquer guitarrista.

Os experimentos de estúdio, assim como a espontaneidade da execução, se fazem valer na jazzistica "If 6 Was 9". Já os sons invertidos e sobrepostos em "You Got Me Floatin'" são enlouquecedores. O mesmo vale para a produção cristalina e a abordagem cósmica na interpretação de "Castles Made Of Sand".

O trio volta a soar poderoso em "She's So Fine" (cantada por Noel Redding) e "Little Miss Love" (com direito a bends e alavancadas impressionantes, além de um groove cavalar).

Para encerrar o disco, a espetacular "Bold As Love", distribuindo a elegância do Hendrix como compositor, cantor e guitarrista. Clássico!

sábado, 26 de agosto de 2017

A guitarra está em boas mãos

Recentemente, duas matérias da revista Guitar Player americana me chamaram atenção. Uma tratava sobre a queda brutal que teve as vendas de guitarra. Outra foi sobre talentosos músicos da nova geração. No meio deste conflito, confesso que a segunda matéria me interessou mais.

Entre tantos nomes que a revista trouxe, alguns talentosos guitarristas saltaram aos meus ouvidos. Sem mais delongas, compartilharei eles aqui com vocês:

Marcus King
Com um ótimo disco lançado em 2016 (citei nos post sobre "melhores lançamentos" do ano passado) produzido pelo já consagrado Warren Haynes, esse garoto vem chamando atenção por sua nova abordagem ao velho southern rock. Ele canta bem, compõe bem e, claro, toca o fino da guitarra. Veja a maturidade do seu solo (quase jazzistico) no vídeo abaixo. Impressionante!

Plini
Outro que lançou um bom disco em 2016. Seu estilo fica entre o djent e o fusion moderno, com interessantes passagens progressivas e virtuosas. 

Jared James Nichols
Nunca tinha ouvido falar desse rapaz. Olhei para cara e devo confessar que julguei. Achei que era mais uma cópia do Zakk Wylde. Engano meu. Não que essa não possa ser uma de suas influências, mas sua pegada bluseira e sua técnica sem palheta é de linguagem própria. Ted Nugent ficaria orgulhoso.

Molly Tuttle
Além dessa moça cantar muito bem, seu vocabulário musical dentro do violão country impressiona, tanto nas bases quanto nos solos. Boa descoberta!

sexta-feira, 25 de agosto de 2017

ACHADOS DA SEMANA: Alan Lomax, Son House e Savoy Brown

ALAN LOMAX
Conheci essa semana o trabalho do Alan Lomax, um pesquisador musical americano que, já na década de 1940, fez importantes registros sonoros, incluindo os presentes num disco chamado Negro Prison Blues And Songs, contendo a mais genuína canção dos plantadores de algodão (work songs) e presidiários americanos. Trabalho historicamente importante e de grande valor musical. Impressionante!

SON HOUSE
Pegue o The Essential do Son House e escute. O mais brilhante delta blues. Não há muita coisa melhor que isso. Juro.

SAVOY BROWN
Subestimada banda inglesa. Blue Matter (1969) é discão!

Obs: caramba, só agora me toquei como "andei bluseiro" essa semana.

sexta-feira, 18 de agosto de 2017

ACHADOS DA SEMANA: David Helfgott, Buzzov•en, Jorge Antunes e Daryl Hall

DAVID HELFGOTT
Assisti essa semana um documentário sobre esse brilhante pianista. Apesar de especialista em interpretações da era romântica, muito me chamou atenção o desprendimento que ele tem com as obras, chegando até mesmo a improvisar. Um profunda e natural incursão da música erudita com o jazz. Fora que, apesar de todos os problemas de saúde, ele parece ser uma pessoa adorável.

BUZZOV•EN
Sore (1994), clássico do sludge. É um chute na bunda.

JORGE ANTUNES
Li muitas matérias essa semana sobre o disco desse artista ser o primeiro de música eletrônica brasileira. Experimental até o osso, mas muito interessante.

DARYL HALL
Secred Songs (1980), primeiro disco solo do Daryl Hall. A produção é do Robert Fripp. Diante dessa informação não pude deixar de ouvir. É muito bom. Pra quem curte as inventividades do art rock, é prato cheio.

quinta-feira, 17 de agosto de 2017

TEM QUE OUVIR: Milton Nascimento - Minas (1975)

Quando se fala em Milton Nascimento, muitos lembram com adoração do clássico Clube da Esquina (1972), disco que envolveu uma série de talentosos músicos mineiros, mas que tem seus méritos em grande parte atribuídos ao Bituca. Todavia, sua discografia solo, mais especificamente na década de 1970, guarda outras pérolas preciosas envolvendo tais parcerias. A maior delas talvez seja Minas (1975).


De capa linda, o álbum é a primeira parte de um contexto que seria completado no ano seguinte com o também majestoso Geraes (1976). Vale atentar-se ao fato da palavra "minas" ser a junção das duas primeiras silabas de seu nome e sobrenome.

Filho da escola sonora mineira, Milton se envolve tanto com a mais tradicional música brasileira - com direito a elementos do barroco mineiro -, até o genuíno rock progressivo brasileiro. Um dos melhores exemplos dessa combinação se dá na inacreditável "Gran Circo", com direito a bateria virtuosa de Paulinho Braga. 

Se "Minas" evidencia a fantástica tessitura vocal de Milton e adorável melodia, a progressiva "Fé Cega, Faca Molada" é um trabalho muito mais de conjunto, com destaque para o vocal tão adorável quanto de taquara rachada do Beto Guedes e o baixo imponente do Novelli.

A harmonia sofisticada de "Beijo Partido" tem as mãos do genial Toninho Horta. Seu clima bucólico é de introspecção poética. Já a letra de "Saudade Dos Aviões Da Panair" (Fernando Brant) recebeu uma ambientação instrumental construída com refinamento. É um espetáculo de arranjo!

Entre outros destaques, é preciso citar "Ponta de Areia", um dos momentos mais elevados da melodia mundial, primeiramente executado por um coro de características infantil, posteriormente solfejado em falsete pelo Milton. Seria injusto também não lembrar a produção do Ronaldo Bastos e o piano Wagner Tiso na épica/experimental "Trastevere". E atente-se também ao arranjo orquestrado/progressivo/contemplativo de "Idolatrada". Eis também a exuberante "Paula E Bebeto", composta por Milton em parceria do Caetano Veloso, que vai e volta durante todo o disco.

Clássico absoluto, que evidencia não só a profundeza estética da música brasileira, mas traz também uma estranha saudade das grandes gravadoras, que por mais sacanas que fossem, investiam dinheiro em trabalhos de brilhantismo sonoro sem o qual jamais existiriam.

MINHA NAMORADA E MEUS DISCOS MERDA: Pérola Negra, de Luiz Melodia

Com o recém falecimento do Luiz Melodia, foi inevitável não reouvir diversas vezes o maravilhoso Pérola Negra, disco de estreia do cantor/compositor carioca. Por ser um dos meus álbuns prediletos da música brasileira, achei que a Re também ia gostar (e tem como não?).

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por Rena Alves, do Maria D'escrita

Dias atrás o Ju pediu que eu analisasse um clássico que, por mais que eu já tivesse ouvido falar, nunca tinha escutado. Tratava-se de Pérola Negra, álbum do Luiz Melodia.

Admito que demorei alguns dias pelo medo de cometer gafes, pois sei da importância do artista e de sua obra. Lembrei das músicas que já escutado do Luiz Melodia e o medo passou.

Antes das músicas, queria dizer que a capa me chamou tremenda atenção. Achei linda!

O disco começa com “Estácio, Eu e Você”, que eu já conhecia. Sempre achei fofa, sempre cantarolei somente o refrão. Gostosinha.

“Vale Quanto Pesa” começa e me encanta mais, não sei dizer o porquê, mas o gingado é algo que eu ouviria por dias sem parar.

“Estácio, Holly Estácio” é triste, do tipo de música que acho bonita, mas dificilmente me apego. Infelizmente com ela não foi diferente. Com certeza o problema não está na música, que tem uma letra linda, e nem no Estácio, lugar que não conheço, mas que despertou curiosidade durante a música. O problema está nos meus gostos mesmo.

“Pra Aquietar” confirma algo que já pensava há alguns minutos. Luiz Melodia pode ter muitas influências, as quais desconheço, mas já ouvi muito por aí que se espelha nesse ritmo dele. É um rockinho anos 70, né?

De maneira estranha, “Abundantemente Morte” ganha minha atenção e eu me encanto com o canto falado sobre a morte que chamamos de vida.

Ahhh, essa música eu conheço! Linda, incrível. “Pérola Negra” deve ser a mais famosa música do Luiz Melodia. Me abstenho dos comentários.

Quando li “Magrelinha” não tinha ideia de que música se tratava, acontece que na primeira frase eu já me senti familiarizada. Já sentiram algo bom ao ouvir uma música? Claro que já! Essa sou eu escutando “Magrelinha” e sabendo que ela é ela.

“Farrapo Humano” é maneira, animadinha, mas não se destacou, para mim.

Adorei “Objeto H”, que música gostosa de se ouvir. E amei a frase “um dia volto e digo você não foi comigo porque não leu o meu signo”. Engraçadinha.

Para finalizar o disco “Forró de Janeiro” chega trazendo alegria. Parece que já ouvi a música antes, mas não tenho certeza. Um belo forró para um belo disco. Não acho que haveria melhor maneira de terminar.

Falando em terminar, me despeço com alegria. Luiz Melodia salvou minha quarta e talvez muito mais.

Nota: 10

sexta-feira, 11 de agosto de 2017

ACHADOS DA SEMANA: Darkthrone, The Golden Palominos e Glen Campbell

DARKTHRONE
Devo confessar que nunca tinha escutado o cultuado A Blaze In The Northen Sky (1992), que muitos dizem ser o primeiro autentico disco de black metal norueguês. 10 anos atrás eu teria achada engraçado, há 5 uma piada, mas hoje acho verdadeiramente bom. Agressivo, soturno e denso. 


THE GOLDEN PALOMINOS
Segue a ficha técnica de quem participa do debut deste grupo: Fred Frith, Bill Laswell, Arto Lindsay, John Zorn, dentre outros. Impossível não despertar a curiosidade. O resultado encontrado são grooves livres, ruidosos e desconcertantes. Eu gosto.

GLEN CAMPBELL
Com sua recém morte, foi inevitável não ir atrás de seus videos debulhando na guitarra. Embora tenha virado uma estrela da música americana, ele teve um longo passado enquanto músico de estúdio. Era um guitarrista impressionante.

terça-feira, 8 de agosto de 2017

TEM QUE OUVIR: Aphrodite's Child - 666 (1972)

Discutir sobre qual é a melhor ópera rock é uma constância entre todos que gostam do estilo. Ainda que o resultado fique sempre entre clássicos do The Who e Pink Floyd, uma banda grega conseguiu com seu derradeiro trabalho ser cultuada entre nomes como Julian Cope, integrantes do Yes e até mesmo o Salvador Dali. Me refiro ao espetacular 666 (1971) do Aphrodite's Child.


Liderado pelo vocalista Demis Roussos e com o trabalho celestial do multi-instrumentista Vangelis Papathanassiou - que depois ficou conhecido por suas trilhas sonoras, vide Blade Runner (1982), além de trabalhos de new age -, o grupo faz uma adaptação para o Apocalipse de João. Tal empreitada durou mais de 18 meses em estúdio e rendeu esse álbum duplo.

Se o começo com "Babylon" é empolgante (ótima linha de baixo!), a coisa só se agrava na espetacular "The Four Horsemen", dona de vocais singulares e a grandiosa bateria de Loukas Sideras.

A instrumental "The Lamb" é um ode progressivo sem comparativo. O mesmo vale para a linda "Aegian Sea", de profundidade sonora enlouquecedora, além de belíssimo solo de guitarra com doses nada moderadas de psicodelia .

No segundo disco, o delírio de "Altamont" é condizente com a época. Já a paranoica "The Wedding Of The Lamb" é o que aconteceria se a cena krautrock fosse grega. 

Não dá para passar indiferente diante do orgasmo da atriz Irene Papas em "", capaz de deixar Jane Birkin com inveja. Tudo para desaguar no épico cacofônico "All The Seats Were Occupied". Finalizando solenemente, a balada "Break".

Esse sui generis disco é hoje um clássico, sendo considerado pela revista Record Collector o melhor do selo Vertigo. Verdade ou não, eis o juízo final definitivo da história da música.

Reflexões pós show do Joe Satriani

Neste último fim de semana tive a oportunidade de assistir a um show do Joe Satriani. A última vez tinha sido há mais de 10 anos. Confesso que nem pretendia ver mais seus shows. Não por ter deixado de admira-lo, só não é mais o tipo de som que me interessa. Felizmente, um evento gratuito (Samsung Blues Festival), num dia e local agradável (Parque do Ibirapuera) e até mesmo com um bom show de abertura (Artur Menezes), mudou meu trajeto.

Ao final do show fiquei com algumas reflexões sem propósito e que pouco interessam às outras pessoas, mas que ainda assim vou compartilhar aqui:


O Satriani é inegavelmente um guitarrista talentoso. E isso não tem a ver com sua técnica, que por sinal, está bastante defasada se comparada a outros virtuoses atuais do instrumento (Tosin Abasi, por exemplo). A grande qualidade do Satriani é ter identidade sonora. Bote neste pacote seu fraseado, timbres, técnicas características, approach melódico e, claro, composicional.

Que outro guitarrista de rock instrumental tem em seu repertório músicas tão legais quanto "Summer Song", "Satch Boogie", "Flying In A Blue Dream" e "Surfing With The Alien"? E isso não é mera opinião de um guitarrista ruim (eu), caso contrário ele não teria vendidos tantos discos, inclusive para o público "não instrumentista". O grande mérito dessas composições é o apelo melódico dos temas.

Ressaltada a grande qualidade melódica do Satriani, é interessante também observar que ele caiu num território onde nem sempre é possível acertar, vide o tema da fraquíssima "If I Could Fly", não por acaso plagiada pelo também fraquíssimo Coldplay. Ao tentar apresentar o que se espera dele, o Satriani vem errando feio. Afinal, sejamos honestos, qual foi o seu último grande disco? Chuto o homônimo Joe Satriani de 1995.

Pensando nisso, lembrei que, entre guitarristas, é comum alguém dizer que o Yngwie Malmsteen virou uma cópia de si mesmo (o que não deixa de ser verdade), mas por que o mesmo não é dito sobre o Satriani? E digo mais, por que não é dito sobre 95% dos grandes guitarrista? Do jeito que falam do Malmsteen, parece que todos mantém a inventividade de um Jeff Beck. Mas a verdade é que, assim como acontece com tantos outros grandes instrumentistas, nada que o Satriani faz hoje é novidade. Talvez também seja esperar muito.

Até porque, embora seu possível comodismo seja facilmente perceptível - e até mesmo retroalimentado em seus influenciados -, é interessante observar como a música dele ainda faz uso de elementos nada convencionais na música pop. Por exemplo: por mais associado ao virtuosismo que ele seja, não é interessante como ele faz uso de cacofonias "toscas" (no bom sentido)? Harmônicos ensurdecedores, alavancadas estridentes, padrões de intervalos geométricos e dissonantes, dentre outros truques que ressaltam o barulho, estão no seu repertório de ideias sonoras, embora isso pouca chame atenção dos seus fãs. Tamanho é o uso que ele faz desses recursos que, em determinado momento do show, até lembrei do Sonic Youth (por mais absurdo que pareça ser).

Já sobre sua banda de apoio, por mais que tenha músicos inegavelmente talentosos/virtuoses, vide o Mike Keneally (guitarra e teclados), Marco Minnemann (bateria), Bryan Beller (baixo) - sendo os dois últimos integrantes do ótimo The Aristocrats -, confesso que prefiro a banda anterior do Satriani, formada pelo eficiente Jeff Campitelli (bateria) e o monstro Dave LaRue (baixo).

O enorme timbre de baixo do Bryan somado ao bumbo com pouco kick do Minnemann, virou uma massa de graves que atropelou a guitarra do Satriani em muitos momentos (nada que alguns cortes de frequência não resolveria, o que levanta a dúvida sobre a acústica desfavorável do local ou até mesmo da minha posição). Fora que até mesmo a guitarra do Mike Keneally estava mais alta que a do bandleader. Sem contar que eu não engoli aquele timbre de caixa do Marco Minnemann. Mas aí são detalhes técnicos e de preferências que não tiram os acertos do evento e, muito menos, do cultuado guitarrista.

segunda-feira, 7 de agosto de 2017

NOS 75 ANOS DO CAETANO VELOSO, MINHAS MÚSICAS PREDILETAS DO ARTISTAS

Post dessa semana no Maria D'escrita

Poucos meses atrás, fiz um post sobre o Gilberto Gil em seu aniversário selecionando minhas canções prediletas do artista. Hoje decidi abordar o Caetano no mesmo molde.

Vale reparar como a carreira do Caetano é bem mais regular que a do Gil.

Reforçando que a lista não se trata das "melhores" ou mais importantes canções do compositor baiano, mas sim das minhas prediletas.


Tropicália
"Eu organizo o movimento" é uma das frases que melhor explica o papel do Caetano na cultura brasileira (para o bem e para o mal). Adoro também todo o instrumental cheio de fusões incomuns para a época (música regional, concreta e psicodélica). Tremendo arranjo. É a chegada da vanguarda na canção popular brasileira. Ainda hoje impressionante.

Lost In The Paradise
O lindo arranjo do Duprat, a melodia, a dinâmica crescente, o clima psicodélico (e até mesmo hippie)... gosto muito.

Não Identificado
Uma das melodias mais bonitas do Caetano, recortada pela guitarra espetacular do Lanny Gordin. O refrão é de intensidade absoluta e se contrapõe a delicadeza dos versos. É o seu "momento Jovem Guarda". Ótima gravação.

Acrilirico
Verdade seja dita, mais mérito do Rogério Duprat que do Caetano. Não que a letra (por sinal, bastante inspirada pela poesia concreta) não seja ótima, mas é o arranjo cheio de colagens sobrepostas e a soberba orquestração inicial que saltam aos ouvidos.

You Don't Know Me
Poucos discos brasileiro tem uma abertura melhor que o Transa (1972) - o tal álbum londrino do Caetano -, guiado pelo balanço sexualmente vagaroso de "You Don't Know Me". Adoro o clima espontâneo da gravação.

Qualquer Coisa
Uma letra que não diz nada com nada, mas que vale pela poética sonora das palavras, encaixadas numa ótima melodia. Uma exemplo das complexas métricas que ele cria. O arranjo também é especial (mais uma vez).

Um Índio
Adoro a letra, simples assim. [1]. Emocionante.

Sampa
Carne de vaca, mas tão bem escrita que não consegui deixar de fora.

Oração Ao Tempo
Uma melodia certeira e interpretação singela para uma letra lindíssima. O cancioneiro popular no auge da beleza.

Cajuína
Um pequeno verso narrando poeticamente o emocionante encontro do Caetano com o pai do Torquato Neto. De chorar de tão bem escrito.

Outras Palavras
Encaixar uma letra tão inventiva num arranjo pop (e funky) é para poucos. Sem contar que tem aquele vibrato vocal tão legal e característico do Caetano.

Rapte-me, Camaleoa
A Maria Gadú quase conseguiu estragar minha relação com a canção, mas basta ouvir o baixo (Arnaldo Brandão) e a craviola (Perinho Santana) da versão original que eu volto a adorar a música. A Outra Banda da Terra é foda.

Ele Me Deu Um Beijo Na Boca
Sete minutos de delírio pop.

Queixa
Conheci ainda quando criança através de alguma novela. Achava um saco. Hoje adoro. A Outra Banda da Terra tá soando redondíssima.

Uns
Adoro a letra, os acordes de guitarra, as vozes sobrepostas. É uma produção criativa.

Eclipse Oculto
Seria essa sua melhor canção pop? É possível. Alto astral total, à la "Canary In A Coalmine" (The Police).

O Quereres
Adoro a letra, simples assim. [2]. E o baixo do Arnaldo Brandão também.

Língua
A gravação é um tanto quanto cafona e datada, mas quando ouvi pela primeira vez a letra me impressionou de cara, qualidade essa que não perdeu força. Gosto da participação da Elza Soares.

Eu Sou Neguinha?
Um dos raros exemplos de reggae interessante feito no Brasil.

O Estrangeiro
O arranjo, a letra, os timbres... acho tudo muito criativo e complexo.

Circulado de Fulo
Um ótimo exemplo da influência moura na música nordestina. Adoro a melodia e a letra.

Ela Ela
Experimento poético e vocal somado as barulheiras guitarristicas do Arto Lindsay. Interessante pensar que o Caetano talvez tenha sido o artista brasileiro que melhor entendeu a cena no wave.

Santa Clara Padroeira da Televisão
Mais uma letra excelente num instrumental de clima envolvente. Adoro os violões.

O Cu do Mundo
Mais uma do Circulado (1991). Vou evitar elogiar a letra e destacar o baixo do Tavinho Fialho e a guitarra do Arto Lindsay. Como curiosidade, tem participação tanto da Gal Costa como do Gilberto Gil no coro.

Outro
Poderia colocar várias do (2006), mas deixo essa como a melhor e mais representativa do Caetano do século XXI, o Caetano moderno, indie e, de certa forma, rockeiro.

sexta-feira, 4 de agosto de 2017

ACHADOS DA SEMANA: Shellac, Lee Morgan, Breach e Eric Dolphy

SHELLAC
Sempre que possível escute Shellac. Steve Albini é o cara!

LEE MORGAN
Assisti no Netflix o filme sobre sua vida, I Called Him Morgan. É não menos que ótimo. De imediato fui na minha coleção de discos desenterrar seus trabalho solo e ao lado do Art Blakey e Dizzy Gillespie.

BREACH
Fui apresentado ao grupo tendo em mente que eles são uma espécie de "Neurosis europeu". Se não em sonoridade, ao mesmo em atitude e influência. It's Me God (1992) fez minha cabeça logo de cara. Foda!

ERIC DOLPHY
Sou um prego mesmo. Fui conhecer Out To Lunch (1964) só agora. Clássico do jazz. Alias, é uma fusão preciosa do jazz com a música erudita. Impressionante.

terça-feira, 1 de agosto de 2017

TEM QUE OUVIR: Pantera - Far Beyond Driven (1994)

Por favor, escutem a faixa de abertura do Far Beyond Driven (1994) do Pantera e, se possível, me respondam: como é que esse álbum chegou ao topo das paradas nos EUA? É verdade que, mesmo que o auge do heavy metal tenha ficado para trás, o grupo texano já vinha causando burburinho há alguns bons anos. Todavia, o peso de "Strenght Beyond Strenght" aponta um novo rumo não só para a banda, mas para o heavy metal.


Clássicos como "5 Minutes Alone" e "I'm Broken", ambos com ótima rotação na MTV, ajudam a explicar o alcance do álbum, ainda que as músicas não façam concessão ao mainstream, sendo na verdade exemplos da força da banda.

Embora calcado no thrash metal, faixas como "Becoming" mostram que o grupo trazia novidades sonoras ao estilo. Muito disso graças a dobradinha formada pelos irmãos Vinnie Paul (bateria) e Dimebag Darrell (guitarra), que despejam em seus riffs uma sintonia rítmica que resulta num paredão indestrutível. Isso pode ser conferido na brutal "Slaughtered".

Seria injusto também não citar o baixo preciso de Rex Brown, que dispensa uma guitarra base mesmo no solos de guitarra. Alias, que solos! Todos virtuosos, inventivos e nervosos, vide "Throes Of Rejection", dona de final apoteótico.

O vocalista Phil Anselmo é imponente nas destruidoras "25 Years" e "Use My Third Arm". Já no curioso cover de "Planet Caravan" (Black Sabbath), ele se mostra versátil com sua voz limpa.

Produzido/mixado pelo Terry Date e com masterização do Ted Jensen, esse é o disco definitivo não só do Pantera, mas do metal moderno.