quinta-feira, 17 de agosto de 2017

TEM QUE OUVIR: Milton Nascimento - Minas (1975)

Quando se fala em Milton Nascimento, muitos lembram com adoração do clássico Clube da Esquina (1972), disco que envolveu uma série de talentosos músicos mineiros, mas que tem seus méritos em grande parte atribuídos ao Bituca. Todavia, sua discografia solo, mais especificamente na década de 1970, guarda outras pérolas preciosas envolvendo tais parcerias. A maior delas talvez seja Minas (1975).


De capa linda, o álbum é a primeira parte de um contexto que seria completado no ano seguinte com o também majestoso Geraes (1976). Vale atentar-se ao fato da palavra "minas" ser a junção das duas primeiras silabas de seu nome e sobrenome.

Filho da escola sonora mineira, Milton se envolve tanto com a mais tradicional música brasileira - com direito a elementos do barroco mineiro -, até o genuíno rock progressivo brasileiro. Um dos melhores exemplos dessa combinação se dá na inacreditável "Gran Circo", com direito a bateria virtuosa de Paulinho Braga. 

Se "Minas" evidencia a fantástica tessitura vocal de Milton e adorável melodia, a progressiva "Fé Cega, Faca Molada" é um trabalho muito mais de conjunto, com destaque para o vocal tão adorável quanto de taquara rachada do Beto Guedes e o baixo imponente do Novelli.

A harmonia sofisticada de "Beijo Partido" tem as mãos do genial Toninho Horta. Seu clima bucólico é de introspecção poética. Já a letra de "Saudade Dos Aviões Da Panair" (Fernando Brant) recebeu uma ambientação instrumental construída com refinamento. É um espetáculo de arranjo!

Entre outros destaques, é preciso citar "Ponta de Areia", um dos momentos mais elevados da melodia mundial, primeiramente executado por um coro de características infantil, posteriormente solfejado em falsete pelo Milton. Seria injusto também não lembrar a produção do Ronaldo Bastos e o piano Wagner Tiso na épica/experimental "Trastevere". E atente-se também ao arranjo orquestrado/progressivo/contemplativo de "Idolatrada". Eis também a exuberante "Paula E Bebeto", composta por Milton em parceria do Caetano Veloso, que vai e volta durante todo o disco.

Clássico absoluto, que evidencia não só a profundeza estética da música brasileira, mas traz também uma estranha saudade das grandes gravadoras, que por mais sacanas que fossem, investiam dinheiro em trabalhos de brilhantismo sonoro sem o qual jamais existiriam.

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