terça-feira, 8 de agosto de 2017

Reflexões pós show do Joe Satriani

Neste último fim de semana tive a oportunidade de assistir a um show do Joe Satriani. A última vez tinha sido há mais de 10 anos. Confesso que nem pretendia ver mais seus shows. Não por ter deixado de admira-lo, só não é mais o tipo de som que me interessa. Felizmente, um evento gratuito (Samsung Blues Festival), num dia e local agradável (Parque do Ibirapuera) e até mesmo com um bom show de abertura (Artur Menezes), mudou meu trajeto.

Ao final do show fiquei com algumas reflexões sem propósito e que pouco interessam às outras pessoas, mas que ainda assim vou compartilhar aqui:


O Satriani é inegavelmente um guitarrista talentoso. E isso não tem a ver com sua técnica, que por sinal, está bastante defasada se comparada a outros virtuoses atuais do instrumento (Tosin Abasi, por exemplo). A grande qualidade do Satriani é ter identidade sonora. Bote neste pacote seu fraseado, timbres, técnicas características, approach melódico e, claro, composicional.

Que outro guitarrista de rock instrumental tem em seu repertório músicas tão legais quanto "Summer Song", "Satch Boogie", "Flying In A Blue Dream" e "Surfing With The Alien"? E isso não é mera opinião de um guitarrista ruim (eu), caso contrário ele não teria vendidos tantos discos, inclusive para o público "não instrumentista". O grande mérito dessas composições é o apelo melódico dos temas.

Ressaltada a grande qualidade melódica do Satriani, é interessante também observar que ele caiu num território onde nem sempre é possível acertar, vide o tema da fraquíssima "If I Could Fly", não por acaso plagiada pelo também fraquíssimo Coldplay. Ao tentar apresentar o que se espera dele, o Satriani vem errando feio. Afinal, sejamos honestos, qual foi o seu último grande disco? Chuto o homônimo Joe Satriani de 1995.

Pensando nisso, lembrei que, entre guitarristas, é comum alguém dizer que o Yngwie Malmsteen virou uma cópia de si mesmo (o que não deixa de ser verdade), mas por que o mesmo não é dito sobre o Satriani? E digo mais, por que não é dito sobre 95% dos grandes guitarrista? Do jeito que falam do Malmsteen, parece que todos mantém a inventividade de um Jeff Beck. Mas a verdade é que, assim como acontece com tantos outros grandes instrumentistas, nada que o Satriani faz hoje é novidade. Talvez também seja esperar muito.

Até porque, embora seu possível comodismo seja facilmente perceptível - e até mesmo retroalimentado em seus influenciados -, é interessante observar como a música dele ainda faz uso de elementos nada convencionais na música pop. Por exemplo: por mais associado ao virtuosismo que ele seja, não é interessante como ele faz uso de cacofonias "toscas" (no bom sentido)? Harmônicos ensurdecedores, alavancadas estridentes, padrões de intervalos geométricos e dissonantes, dentre outros truques que ressaltam o barulho, estão no seu repertório de ideias sonoras, embora isso pouca chame atenção dos seus fãs. Tamanho é o uso que ele faz desses recursos que, em determinado momento do show, até lembrei do Sonic Youth (por mais absurdo que pareça ser).

Já sobre sua banda de apoio, por mais que tenha músicos inegavelmente talentosos/virtuoses, vide o Mike Keneally (guitarra e teclados), Marco Minnemann (bateria), Bryan Beller (baixo) - sendo os dois últimos integrantes do ótimo The Aristocrats -, confesso que prefiro a banda anterior do Satriani, formada pelo eficiente Jeff Campitelli (bateria) e o monstro Dave LaRue (baixo).

O enorme timbre de baixo do Bryan somado ao bumbo com pouco kick do Minnemann, virou uma massa de graves que atropelou a guitarra do Satriani em muitos momentos (nada que alguns cortes de frequência não resolveria, o que levanta a dúvida sobre a acústica desfavorável do local ou até mesmo da minha posição). Fora que até mesmo a guitarra do Mike Keneally estava mais alta que a do bandleader. Sem contar que eu não engoli aquele timbre de caixa do Marco Minnemann. Mas aí são detalhes técnicos e de preferências que não tiram os acertos do evento e, muito menos, do cultuado guitarrista.

Nenhum comentário:

Postar um comentário