Eis um leigo falando de música erudita. Mas sou leigo em tudo, então devo estender meu atrevimento a outros campos. E como já mencionei aqui no blog quando escrevi sobre os registros da Variações Goldberg do Bach feitas pelo Glenn Gould, sempre me incomodou os álbuns de música erudita não estarem nas matérias de "discoteca básica". É música, é fonograma, é relevante e é cultura pop. Duvida? Ouça os primeiros segundos presentes na quinta 5ª Sinfonia do Beethoven e tente me desmentir. Enquanto álbum, a clássica - em mais de um sentido - gravação da Filarmônica de Berlin, sob regência do Herbert Von Karajan e com lançamento pela Deutsche Grammophon é uma recomendação recorrente.
Sendo a 5ª sinfonia em meia aos 9 emblemáticas obras escritas pelo Beethoven, ela se tornou um símbolo da música erudita. Ou se preferir, música clássica, visto que ela se enquadra ao período do classicismo, embora também seja possível aponta-la como uma das obras de transição para o romantismo. A obra foi escrita entre os anos de 1804 e 1808.
Se a Filarmônica de Berlin parece ser naturalmente pleiteada de carregar o bastião do compositor alemão, por sua vez o maestro Karajan foi para muitos o grande maestro do século XX. Ambos são donos de destreza, magnitude, exuberância e rigidez técnica para tal empreitada.
Embora todos reconheçam a primeiras notas do primeiro movimento da sinfonia - e desculpem minha limitação, mas não consigo dissociar de um tremendo riff de heavy metal, tamanha sua força sônica -, a experiência de ouvir com a devida atenção é sempre impactante. E vale dizer que, embora seja uma gravação da década de 1960, seu registro é esplendoroso. Mérito da regência, da execução, da captação, da acústica e da obra em si, pensada de modo que funciona organicamente na arte de combinar sons. Um começo denso, dramático e de alternância emotiva de dinâmica.
A beleza do segundo movimento apazigua o ouvinte, quase como uma chegada triunfante ao paraíso após enfrentar a morte. As trompas em alguns momentos remetem a uma marcha fúnebre (embora de ar esperançoso). É um hino. Vale aqui dizer que essa foi a primeira sinfonia do Beethoven em tonalidade menor.
O terceiro movimento é o mais curto e também menos impactante, parecendo revistar o tema inicial. Ainda assim, não sou maluco de não me impressionar com as cordas, sejam elas contrabaixos, violoncelos, violas ou violinos, cada um ocupando seu espaço na orquestração com maestria. As madeiras (flauta, oboé, clarinete, fagote) também estão em perfeita interação majestosa. Fora os enormes tímpanos. Retiro o que disse, ela é extremamente impactante!
O desfecho triunfante com o quarto movimento deveria ser capaz de levantar a plateia de um teatro (isso se esse ambiente não fosse tão passivo). Uma enormidade em forma de criação e performance. A palavra é um clichê, mas dado seu caráter quase sacro - se não religioso, sem dúvida artístico -, devo reforçar que ele é capaz de causar arrebatamento. Impressionante.
Agora, mais importante que qualquer consideração minha, é todos ouvirem esse álbum com disposição, além de mente e coração aberto. Sua enormidade abraça o ouvinte e é convidativa, por mais que muitas vezes seja cercada de prepotência de quem não as deve deter.