sábado, 13 de abril de 2024

TEM QUE OUVIR: Tortoise - TNT (1998)

O post-rock já não era mais novidade no final na década de 1990. Entretanto, pouco grupos levaram essa ambição tão afundo quanto o Tortoise. Desprendido de estruturas conhecidamente atreladas ao rock, mas sem abrir mão da instrumentação e atitude intrínseca ao estilo, o grupo chegou ao seu auge criativo no cultuado TNT (1998).


Logo de inicio, o baterista/produtor John McEntire se coloca no centro de "TNT" através de um groove jazzistico, perfeitamente preenchido por guitarras arpejadas e um solo de corneta do Rob Mazurek. Tudo de forma improvavelmente acolhedora. 

Falando em guitarras, vale dizer que esse é o primeiro disco com o Jeff Parker e o último com David Pajo. Vale lembrar também que, independente das inclinações de cada integrante, o grupo ficou caracterizado pelos músicos revezarem os instrumentos durante a construção das composições. Inclusive, a ideia de sobrepor gradativamente novos elementos, como obras inicialmente não fechadas, é outra peculiaridade deste trabalho.

Com manipulações de pós-produção em cima da sonoridade orgânica dos músicos, "Swung From The Gutters" em sua metade final soa como se o Miles Davis tivesse embarcado no krautrock.

Não é possível pensar "Ten-Day Interval" desconsiderando a música minimalista do século XX. Sua figura rítmica/melódica repetitiva na marimba (invocando um tempero oriental), alimenta tudo que a cerca. 

O cinematográfico/bucólico violão na abertura de "I Set My Face To The Hillside" inicialmente guarda certa brasilidade. Todavia, quando melodia é entoada na guitarra (e com trêmulo) ela ganha um ar "italiano". Uma espécie de gaita só acentua essa percepção. Ennio Morricone manda um abraço. Sua metade final toma um caminho gracioso.

Não sei o quanto os caras do Radiohead ouviram esse disco, mas "The Equator" prevê algumas sonoridades eletrônicas que o grupo britânico viria a explorar. Por sua vez, "A Simply Way To Go..." parece ter um raciocínio de elaboração da música eletrônica, só que fazendo uso de instrumentos convencionais.

A concepção de "The Suspension Bridge at Iguazú Falls" revela muita inspiração e capacidade técnica - a polirritmia hipnótica de "Four-Day Interval" não me deixa mentir sobre os conhecimentos formais do grupo -, englobando diferentes texturas e climas em seu arranjo muito bem desenvolvido. Adoro as guitarras, o synth e a percussão latina.

Com uma progressão de acordes iluminada, ritmo discreto de house, violão de nylon e slide guitar, "In Sarah, Mencken, Christ, and Beethoven There Were Women and Men" não se parece com nada. Na verdade soa como seria o lounge se ele desse certo.

Em seu final, o disco dá um mergulho no eletrônico, vide a estranha "Almost Always Is Nearly Enought", o longo drum and bass-orgânico de "Jetty" e a derradeira "Everglade", com sua aura inebriante que fica entre o ambient e o jazz. Tipicamente post-rock.

Mais um detalhe que vale mencionar é a icônica capa do disco. Um desenho simples (no total estilo Daniel Johnston), mas que virou um emblema pra banda.

Embora cheio de inventividade, a criação parte de um conceito muito bem formulado, o que torna a audição do álbum uma agradável experiência. Fazia tempo que o (post-) rock instrumental não proporcionava isso.

domingo, 7 de abril de 2024

ACHADOS DA SEMANA: Alceu Valença, Sarah Vaughan, Inocentes, Os Replicantes e Noporn

Alceu Valença
Cinco Sentidos (1981). Acho curioso como aprendemos a naturalizar o som do Alceu, que se analisado racionalmente, é uma mistureba maluca. Composicionalmente tem o pé no forró, mas se desenvolve com trejeitos de reggae, atitude (e guitarras) de rock e apelo pop nacional. Isso tudo com carisma, naturalidade e uma banda de apoio sensacional (Paulo Rafael, Mu, Wilson Meireles, Antonio Santanna, dentre outros). Pra ouvir na boa, fazendo um rango, tomando uma cerveja, em família.

Sarah Vaughan
Semana passada foi comemorado (nem tanto o quanto se devia) o centenário do nascimento da Sarah Vaughan. Em casa separei para ouvir seu disco lançado em 1955 em parceria com o trompetista Clifford Brown. É uma performance vocal mais exuberante que a outra. Afinação, timbre, dicção, vibrato (por vezes até “exagerado”), capacidade de improvisar… que cantora! Vale ainda dizer que o baterista é o grande Roy Haynes (sempre ele!).

Inocentes
O raciocínio foi simples: o que os Inocentes, uma das bandas mais legais do punk rock nacional, estavam produzindo na época grunge? Cheguei no disco Subterrâneos (1994), muito menos “punk” e bem mais rock n’ roll. Tem até algo de hard, mas não hard 70 ou farofa, tá mais pra um hard… Soundgarden. Isso, claro, com uma produção mais simples e abordagem mais crua. Ótimas guitarras e baixos (inclusive, acho que era o Mingau nessa época). Álbum bem legal.

Os Replicantes
O Futuro É Vortex (1985). Falando em punk rock nacional, lembrei deste clássico. Dos discos mais divertidos, inspirados e espontâneos daquela safra do rock brasileiro. Simples assim. Muito legal reouvir e perceber que ele não perdeu a força.

Noporn
Noporn (2005). Conhecia o Noporn só de nome. Fiquei sensibilizado com a quantidade de pessoas que lamentaram a morte da Liana Padilha, apontando sua importância para a cena eletrônica brasileira. Embora o som do duo não seja minha praia (principalmente devido o “canto falado”), gostei da produção (inclusive, assinada pelo Dudu Marote) e me intrigou como o grupo não conseguiu quebrar a barreira do cenário alternativo, sendo que ao abordar temas contemporâneos envolto aos gêneros, poderia ter hypado muito mais. Destaque para “Janelas” (com guitarras do Scandurra). Várias faixas caem bem na pista.

sexta-feira, 29 de março de 2024

TEM QUE OUVIR: The Isley Brothers - 3 + 3 (1973)

Um dos grupos de maior sucesso na história é o The Isley Brothers. Sucesso esse representado pelo êxito comercial e artístico. Os Beatles regravaram "Twisted & Shout" por conta deles, o Ice Cube os sampleou… não é pouca coisa.

Surgido ainda na década 1950, enquanto um trio vocal - Ronald Isley, Rudolph Isley, O'Kelly Isley Jr. -, eles ajudaram a moldar o r&b, soul, funk, gospel e rock. Já na década de 1970, com dez álbuns e diversos singles na bagagem, somou-se ao trio original dois irmãos mais novos e um intruso - Ernie Isley, Marvin Isley e Chris Jasper -. 3 + 3 (1973), o primeiro lançamento do grupo pela Epic, inaugurou essa fase - o titulo do álbum faz referência a essa nova formação -, renovando a sonoridade, o público e colocando-os no centro da música norte-americana.


A capa do disco já revela o caráter de instrumentistas dos integrantes agregados. Numa época onde as gravadoras tinham bandas de apoio para produzir o instrumental de seus artistas - principalmente na soul music -, isso foi um enorme diferencial, que deu ainda mais autoridade e personalidade ao grupo.

Logo de cara em "That Lady", a guitarra chorosa e ácida do Marvin - embebida em fuzz e completamente influenciada pelo Jimi Hendrix -, aponta os rumos desta nova fase. Isso enquanto o gigante Ronald traz sua voz tão aveluda quanto aguda, de charme arrebatador. Um clássico.

É incrível a interseção do Isley Brothers com a música pop/folk/"branca" do James Taylor na versão de "Don't Let Me Be Lonely Tonight". Uma performance apaixonada, ressaltada por um arranjo/captação que dá espaço para cada instrumento. Soberbo. 

De ritmo pulsante, poderoso som de clavinet e refrão irresistível, "If You Where There" é uma aula de bom gosto pop.

Há uma magia solar em "You Walk Your Way", canção de excelente melodia, progressão de acordes inteligente, ótima linha de baixo (do Marvin) e com os tremendos arranjos vocais que tão bem caracterizaram o som do grupo no início.

O groove de "Listen To The Music" (sim, aquela mesmo orginalmente do Doobie Brothers) ganha aqui sua forma mais azeitada. Violão, bateria, clavinet, órgão... todos transbordam swing. 

O que o Ronald canta em "What It Comes Down To" (e justiça seja feita, seus irmão também no refrão) é uma loucura. Não por acaso a canção fez enorme sucesso.

Vale lembrar que o Robert Margouleff e o Malcolm Cecil, ao mesmo tempo que desenvolviam o trabalho com o Stevie Wonder, também compartilhavam seus dotes de engenharia de áudio e conhecimento de equipamentos eletrônicos com os Isley Brothers, vide o uso de sintetizadores por todo o disco, mas com destaque para "Sunshine (Go Away Today)". É uma cacetada soul.

Entre os principais hits do grupo está "Summer Breeze", originalmente gravada pelo Seals and Crofts, aqui uma elegante balada ao piano, acentuada por uma guitarra cortante (e com um solo épico ao final), mas acima de tudo, interpretada vocalmente com técnica, emoção e elegância. 

A capacidade composicional do grupo é colocada acimada de qualquer aprovação na derradeira "The Highways Of My Life", linda em texto, melodia e harmonia. Fora a performance matadora de piano e moog (Chris Jasper) e baixo (Marvin). 

Muitos grupos passaram por diferentes fases, mas acho que o Isley Brothers é dos raros casos em que a segunda se sobressaiu a primeira. A comprovação desta tese está aqui.

ACHADOS DA SEMANA: Nelson Freire / Chopin, Jim Hall, Elvin Bishop, Paralamas do Sucesso e Devotos

Nelson Freire / Chopin
Tenho para mim que um dos primeiros compositores eruditos que tive algum apreço foi o Chopin. O fato dele compor para piano (instrumento rico e adorável) e ser um tremendo virtuoso ajuda muito. Paralelo a isso, lembrei do Nelson Freire, facilmente um dos maiores e melhores instrumentistas da história deste país. Logo, fui ouvir sua interpretação para Sonata No. 3 in B Minor. Tem um disco de 1972 com esse registro. É um espetáculo. Tão técnico quanto lírico.

Jim Hall
Where Would I Be? (1971). Jim Hall, um dos maiores guitarrista de todos os tempos (do primeiro escalão no jazz), aqui num disco com certa influência brasileira, o que se manifesta inclusive pela presença do Airto Moreira (bateria e percussão). É maravilhoso. Interessante analisar o timbre da guitarra, ultra “fechado”, preservando/ressaltando a característica acústica do instrumento, talvez até buscando emular um violão de nylon. Dito isso, um show de performance de todos os envolvidos.

Elvin Bishop
Conhecia esse ótimo guitarrista somente pelo trabalho ao lado da Paul Butterfield Blues Band. Mas cai num disco solo dele, o Let It Flow (1974), e gostei bastante. Tem aquela sonoridade bem americanizada, principalmente ao fundir o blues com a música country. Vale dizer que Charlie Daniels, Dickey Betts e Sly Stone são alguns que participam do trabalho. Na sequência ainda ouvi o Big Fun (1988), que até pela época me soa como uma fase “decadente do blues”, embora tenha sido lançado pela Alligator Records, que na época bombou via artistas como Robert Cray e Albert Collins. Mas sei lá, essa sonoridade oitentista não combina tanto com o blues e, ainda assim, por soar “deslocado”, também tem seu charme. Ambíguo, não?

Paralamas do Sucesso
Severino (1994). Aquele típico disco que a crítica não gostou, que não foi grande sucesso comercial, mas que os fãs e os próprios artistas adoram. Se por um lado não tem interligação nenhuma com o movimento grunge do período, há muito com o rock latino e com a música nordestina. Isso sob produção do Phil Manzanera. Brian May participa numa faixa. Não amo, mas gosto.

Devotos
Uma lei tornou o Devotos patrimônio cultural do Recife. Já eram antes disso, mas não deixa de ser um reconhecimento importante. Banda histórica do punk rock nacional. Logo, fui rever o Agora Tá Valendo (1997), de quando eles ainda assinavam como Devotos do Ódio. É cru, feroz e cheio de personalidade. Acho embaçado.

segunda-feira, 25 de março de 2024

Pitacos sobre o Lollapalooza 2024

Normalmente, durantes festivais e grandes eventos de música, costumo ir twittando minhas constatações para depois reuni-las no blog. Desta vez nem isso fiz. Mas decidi buscar na memória algumas breves impressões que tive do festival. Obviamente assisti tudo pela TV. Não tenho mais idade para me sujeitar a tamanha humilhação.


King Gizzard & The Lizard Wizard, o único show para se lamentar não estar presente.

- Não que eu ache que deva existir uma "camaradagem persuasiva" entre artista e imprensa, mas que vexame foi a Luísa Sonza manifestando ressentimento contra o repórter Gui Guedes né. Típica atitude de quem não sabe lidar com o contraditório.

- E "assisti" o show da Luísa Sonza por cima. Se o fraco repertório, carisma e canto não me espantam, me surpreendi com a produção caída e alta previsibilidade. Pô, perto do que tem feito a Ludmilla, ficou devendo bastante.

- As músicas novas do Marcelo D2 funcionam melhor em disco.

- Não assisti BaianaSystem, The Offspring, Arcade Fire (esse até queria) e Blink 182 (esse também, mas mais pelo ineditismo que pelo som). Fiquei surpreso com os elogios ao Blink (quem foi diz que sentiu a pressão). Surpreso também com muitos se espantando com as cretinices das letras e comentários que eles fazem durante a apresentação. Eles são essa porcaria ai mesmo há três décadas.

- Liguei a TV e tava passando a apresentação da Manu Gavassi. Juro por Deus: não dá pra assistir. Carisma e "performance vocal" inexistente. Mudei com 1 música e meia.

- Vocês chegaram a ver o Hozier? Eu não vi. Queria saber se vale a pena. Já vi coisas bacanas e outras xaropentas dele. As vezes ele manda bem até na guitarra.

- Como li no twitter, "vocalista do Thirty Seconds To Mars é o pior papel do Jared Leto". E achei curioso que ele demitiu toda a banda e agora ficam só ele e o irmão no palco. Quer dizer, em certo momento entram uns fãs e o Marcelo (sim, o lateral esquerdo). Nada faz sentido.

- Todo mundo tem uma banda para gostar e se envergonhar. O Limp Bizkit é a minha. E embora saiba todos os problemas, sejamos sinceros, vocês viram o show? Pô, dentro do que eles se propõem a fazer, eles são muito bons. Pesado, divertido, não se levam a sério, entregam o que o público quer, bem tocado... tudo certo.

- A Re gosta muito de Kings Of Leon, então meio que fui "obrigado" a assistir umas três músicas. O bandinha burocrática hein. Tocam com vontade alguma. Não gosto não.

- Por sorte, a Re liberou a TV pra eu assistir o King Gizzard & The Lizard Wizard. Mesmo com um setlist reduzido (festival é isso aí), foi facilmente não só o melhor show do festival, mas periga ser um dos melhores do ano. Deixaram um pouco de lado a psicodelia e entraram na porrada, com as faixas mais pesadas. Tudo muitíssimo bem tocado. Energia, carisma, canções, técnica... sensacional. Que eles voltem em breve para um show só deles. 

- Ah, acho que foi a primeira vez que relacionei o King Gizzard com Wishbone Ash e Grateful Dead. Tem certa influência em como eles pensam o arranjo de guitarras. 

- Ao que consta, os Titãs fizeram o último show dessa tour de reunião. E por mais que eu goste da banda e tenha adorado assistir um show dessa turnê, já tá na hora de parar mesmo. Já tão no piloto automático novamente. Apresentação cansada.

- Gilberto Gil é um gênio, mas não me emociono com esses shows dele. E olha que o que mais tem é gente emocionada. Acho a banda fraquinha (tem que parar de empregar parente) e o repertório banal. Uma pena. Digo isso com meu máximo respeito e admiração a ele.

- Pessoal adorou o Phoenix. Eu parei de gostar da banda de 2002.

- Sam Smith deve ser um rapaz bacana, entendo a galera gostar (ele tem hits, tem carisma), mas simplesmente não é minha onda. Assisti só três músicas.

- SZA é uma boa cantora e vem construindo uma carreira interessante, mas honestamente não acho que ela já acertou em cheio. É ainda uma promessa.

- Fui na boa vontade, mas Greta Van Fleet não dá. Ao vivo parece ser pior que em disco. Tudo errado, do repertório às roupas. Fora que tocam com mão de alface. Uma dos maiores surtos coletivos é compararem aquilo com Led Zeppelin. Tá mais pra um Slade, só que sem as canções divertidas, a energia, a originalidade e o carisma.

sexta-feira, 22 de março de 2024

ACHADOS DA SEMANA: Robson Jorge, Dream Theater, Pat Metheny e Pretenders

Robson Jorge
Robson Jorge (1977). Finalmente esse disco chegou ao Spotify. Reouvi com sorriso no rosto. Honestamente nem acho que o forte são as composições (embora tenha suas pérolas) e nem a interpretação vocal do Robson (que tem aquele charme “desafinado” à la Cassiano que tanto adoro). Irretocável mesmo são os arranjos (feitos em dobradinha com Lincoln Olivetti), as linhas de baixo do PCB e os grooves do Picolé. Isso sem mencionar o colorido proporcionado por diversos teclados/synths e arranjos de cordas e metais. É pop e é fino.

Dream Theater
Falling Into Infinity (1997). Quando esse disco saiu, foi avacalhado até pelos fãs da banda (o que, pensando bem, pode ser interpretado como algo positivo). Ouvindo agora chego a conclusão que é dos discos do grupo que melhor envelheceu. Que sonzão ele tem né. Talvez o melhor de baixo em toda a discografia. E as composições são bacanas, nem tão centradas no virtuosismo, embora ele ainda esteja lá, claro. Vale dar uma checada.

Pat Metheny
American Garage (1979). Tava reparando aqui que o Lyle Mays é tipo um "Guilherme Arantes do jazz". Dado as devidas proporções, claro. Isso porque suas harmonias são complexamente “confortáveis”, quase que cafona. Não falo de maneira pejorativa, até porque acho lindas. Sem contar que quando ele chega pra improvisar, sai da frente. O Pat então, talvez o maior improvisador da história do instrumento. Destaque também para o baixista Mark Egan. Discão.

Pretenders
Confesso, dá discografia do Pretenders, só conhecia (e gosto) do clássico debut. Mas peguei o Leaning To Crawl (1984) e Get Close (1986) para ouvir, motivado pela presença do ótimo guitarrista Robbie McIntosh. São álbuns de pop rock refinados, mas quase comuns, não fosse o fator Chrissie Hynde, uma cantora e compositora de grande personalidade. Vale lembrar que no Get Close o baixista é o recém falecido T. M. Stevens.

quinta-feira, 14 de março de 2024

ACHADOS DA SEMANA: Gavin Bryars, Toto, Ras Kass, Shylock e Cannibal Ox

Gavin Bryars
The Sinking Of The Titanic. Li sobre essa peça - composta e gravada na década de 1970, mas revisitada na década de 1990 - e fui conferir. É uma obra bastante abstrata, independente da versão. Ela trabalha com fontes sonoras que remontam artisticamente o naufrágio do Titanic. Ambas versões são lindas e arrojadas. Há muita inteligência ao explorar a longa duração das notas e a reverberação dos harmônicos, criando um clima melancólico e tenso. Em alguns momentos parece que dá pra ouvir o navio rachando, se contorcendo. Isso é feito de maneira delicada e nada apelativa. Fora que a melodia é bem marcante. Ainda preciso ouvir mais, mas já deixo registrado caso alguém tenha interesse pelo assunto ou mesmo por música erudita contemporânea. Dá pra chorar.

Toto
Banda clássica, tecnicamente excelente e divertidamente difamada. Mas pra ser honesto, tirando os hits e um DVD que tenho aqui em casa, nunca tinha parado pra ouvir um disco inteiro. E já vi várias pessoas citando seus prediletos. O último foi o Régis Tadeu, que elogiou o Hydra (1979), que é mais progressivo e menos datado. É bom mesmo. Outros que estavam na minha lista era o Tambu (1995), já com o Simon Phillips (bateria) e uma sonoridade cristalina (em execução e timbragem) que se contrapunha aos últimos suspiros da sujeira/organicidade grunge; e o Mindfields (1999), onde eles parecem nada interessados em tendências, investindo num AOR hard-prog com vocais quase setentistas do Steve Lukather . Vale escutar todos com atenção. É cafona, mas tão bem executado que é difícil não admirar.

Ras Kass
Soul On Ice (1996). Não sei como cheguei nesse álbum, mas ele tava salvo aqui, então fui ouvir. Talvez um dos grandes trabalhos de hip hop do período. O flow do cara é bem rebuscado. Fora que ele tem uma acidez política em seus textos que é muito bem vinda. A produção também não faz feio. Disco redondinho.

Shylock
Gialorgues (1977). Prog sinfônico francês. Eu sei, é coisa de cabeludo-careca, mas é muito bom. Atenção para o baterista, que em alguns momentos chega a pecar pelo excesso. Agora, gostaria de saber se quem gosta de post-rock se identifica com esse tipo de som. Acho que tem haver.

Cannibal Ox
The Cold Vein (2001). Disco cultuado por quem curte hip hop alternativo, mas que confesso ainda não tinha dado a devida atenção. Por mais que o duo formado pelo Vordul Mega e Vast Aire tenha qualidades próprias, o que mais chamou minha atenção foi a produção do El-P, que embora tenha a “estética do rap”, parece buscar referência em outros lugares (música eletrônica, rock, pop), soando bem abstrata, profunda e rica.