quinta-feira, 8 de agosto de 2019

TEM QUE OUVIR: Chick Corea - The Chick Corea Elektric Band (1986)

Embora exista um inconsciente coletivo de que o jazz se restrinja a uma sonoridade especifica produzida no passado - principalmente do final dos anos 40 até meados da década de 1960, indiscutivelmente o auge do gênero, independente de suas subdivisões -, o estilo vive em constante mutação. Mesmo quando não está na crista da onda em termos de popularidade, trilha caminhos que saltam aos ouvidos dos mais talentosos instrumentistas. É o caso da estreia do Chick Corea com sua influente Elektric Band.


Lançado em 1986, o álbum involuntariamente remete ao Return To Forever, grupo que o Chick Corea encabeçou na década de 1970 no auge do jazz-rock. Só que aqui o jazz-rock vira fusion, capturando nuances estilísticas e timbrísticas ainda mais diversas. Se comparado ao grupo do passado perde-se espontaneidade, ganha-se meticulosidade técnica. Por contar com músicos ainda jovens na cena jazzistica (embora indiscutivelmente brilhantes), há uma carga de inquietude na execução das faixas.

"Rumble" chega com os timbres sintetizados tão comuns à época elevados ao limite da tecnologia. Não somente o Chick Corea explora os sintetizadores com muita sabedoria, mas também o baterista Dave Weckl, que preenche todos os espaços possíveis com frases percussivas arrojadas.

Enquanto "Side Walk" é guiada por um riff rockeiro, "Cool Weasel Boogie" é muito mais hermética em sua roupagem/groove/cafonísse AOR, sem nunca abrir mão de passagens inspiradas e virtuosas de todos os instrumentistas.

Falando neles, não há como deixar de mencionar o estupendo John Patitucci, que dilacera seu contrabaixo de seis cordas no walking bass pesado de "Got A Match?", com direito a um solo de fluxo impressionante. Isso tudo enquanto o Weckl distribui um groove arrebator em dinâmica levíssima.

Já o guitarrista Scott Henderson passeia pelo seu fraseado rebuscado em "King Cockroach", enquanto "Silver Temple" é muito mais inclusiva ao proporcionar igualdade de brilhantismo a todos os envolvidos.

Há ainda no disco a latinidade de "Elektric City" e as experiências étnicas-eletrônicas de "No Zone" e "India Town".

Embora muitos considerem a sonoridade do álbum pasteurizada e/ou virtuosa demais, não se deixe enganar pela mediocridade. Aqui está algumas das mais impressionantes performances instrumentais da música moderna.

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