domingo, 10 de março de 2019

TEM QUE OUVIR: Burzum - Filosofem (1996)

Muito se fala sobre o "true norwegian black metal". As lendas envolto as queimas de igrejas, homicídios e tantas outras atitudes pavarosas se sobressaem ao material sonoro criado. Dito isso, vale a pena dar uma chance ao álbum Filosofem do Burzum, contendo gravações de 1993, mas lançado somente em 1996, quando seu criador já esteva preso.


O Burzum é o grupo liderado pelo Varg Vikernes. É ele que compõe e toca todos os instrumentos. Sua postura firme com relação a música e a cultura norueguesa, que envolve muito do paganismo e da misantropia, resultou numa linguagem sonora e filosófica bastante particular e questionável.

A produção do disco é lo-fi na essência. Muito pelo baixo orçamento, mas principalmente por um conceito sonoro, que levou o Vark a utilizar os piores microfones disponíveis para a captação do áudio. Tal atitude contribui para o resultado alcançado.

Ao contrário de muitos dos grupos contemporâneos de black metal, o Burzum aposta em climas fúnebres da música ambient. Teclados proporcionam a cama harmônica e ecoam melodias com traços da música tradicional nórdica. Isso fica bastante evidente em "Dunkelheit", faixa que abre o disco. Já os bumbos velozes, riffs de guitarra em tremolos com progressão de acordes mínimas (e num timbre que é quase um chiado), além vocais esganiçados, ditam o clima denso de "Jesus' Tod".

A faixa "Erblicket Die Töchter Des Firmaments" apresenta um estranho equilíbrio entre timbres ríspidos/mórbidos com melodias singelas. Já a guitarra dissonante e voraz de "Gebrechlichkeit I" cria um atmosfera bastante particular. Conforme o Vark vocifera algo incompreensível, é possível visualizar a escuridão do inferno.

Em seus mais de 25 minutos, "Rundgang Um Die Transzendentale Säule Der Singularität" invoca mais uma vez a tradição nórdica através da música ambient. Quem a ouve isoladamente não é capaz de associar ao black metal. Todavia, sua sequência com "Gebrechlichkeit II" congela nosso ossos através de um drone de aura florestal e soturna.

Vale frisar que não compactuo com a linha ideológica do Varg Vikernes, principalmente no que diz respeito as questões raciais. Muito pelo contrário, me considero um inimigo de seu pensamento politico. Entretanto, esteticamente, o resultado que ele alcançou com o Burzum em Filosofem é de atrativa peculiaridade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário