quinta-feira, 14 de março de 2019

TEM QUE OUVIR: Kate Bush - Hounds of Love (1985)

A década de 1980 foi definitivamente o período mais criativo da música POP (com letras garrafais). Dentre inúmeros artistas que possam ser citados para defender essa tese, Kate Bush chama atenção por seu trajeto sui generis. Avessa a grandes turnês e entrevistas, concentrou as energias em sua obra discográfica. Hounds Of Love (1985), seu quinto trabalho, é o ponto alto de sua carreira.


Se antes a artista causava estranhamento e dúvidas na critica, aqui foi tudo tão bem amarrado que não teve com não se render a ela. Embora auto-produzido e assinando todas as composições, a ficha técnica é repleta de músicos e engenheiros de áudio talentosos. Aqui ela buscou elementos da música folclórica - abusando de instrumentos como balalaica, didjeridu, fujara, bouzouki, bodhrán e gaita de fole irlandesa -, mas com uma sonoridade contemporânea.

O hit "Running Up That Hill (A Deal With Good)" abre o disco com seu refrão fantástico, arranjo pouco ortodoxo (com direito a camadas de vozes), melodia de synth memorável e bateria grandiosa à la Phil Collins, embora de batida “cavalgada” um tanto quanto “heavy metal”.

O som percussivo tão reverberoso quanto musculoso se estende por "Hounds Of Love", elevado por uma cama de sintetizadores e um ritmo pesado em staccato. Atenção mais uma vez para o arranjo vocal.

As vozes sobrepostas na dançante "The Big Sky" evidenciam a grande cantora que a Kate Bush é, tanto no que diz respeito ao seu timbre singular, quanto a interpretação radiante. Adoro o som agressivo do baixo. Na verdade, o arranjo como um todo soa impressionantemente enorme.

Se em "Mother Stands For Comfort" é a interpretação dramática, sonoplastia criativa, uso de theremin e o baixo fretless soberbo que chamam atenção, "Cloudbusting" se basta "apenas" pela composição (embora o arranjo também seja ótimo). Espetacular melodia!

A balada "And Dream Of Sheep" abre o Lado B de forma mais reflexiva, embora não menos graciosa e poderosa. Tremenda performance. O mesmo vale para "Under Ice", de teatralidade vocal absurda. Ela soa como uma bruxa gélida.

Ainda há tempo no disco para a abstrata (pra não dizer maluca) "Walking The Witch", a celta "Jig Of Life", a orquestração fantástica/cinematográfica de "Hello Earth" e o violão erudito do John Williams na balada pop "The Morning Fog".

Rotular este álbum como sophisti-pop, synthpop, art pop e/ou chamber pop não é o suficiente para traduzir a magia exuberante aqui presente. Um dos discos mais criativos da música popular e que, incrivelmente, fez enorme sucesso comercial.

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