sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

TEM QUE OUVIR: Philip Glass - Koyaanisqatsi (1983)

Existe uma dificuldade em reconhecer discos de trilha-sonora original como obras musicais que falam por si só. Não que os tais compositores não sejam valorizados, mas o "formato álbum" parece não convencer os críticos. Diante disso, trago ao "Tem Que Ouvir" deste humilde blog o cultuado Koyaanisqatsi, trilha-sonora do filme homônimo composta pelo aclamado Philip Glass.


Embora negue o termo, a obra do Philip Glass é comumente rotulada como música minimalista. Entende-se isso por composições que fazem uso de repetição melódica e formas estáticas de desenvolvimento.

O filme produzido pelo diretor Godfrey Reggio traz uma tensão contemplativa e caótica através de imagens grandiosas. Ainda que seja importante e gratificante a experiência visual, a música do Philip Glass fala por si só. Talvez por ter sido composta simultaneamente com a produção do vídeo, há uma interação tão perfeita entre as obras que uma remete a outra em separado.

A fúnebre "Koyaanisqatsi" abre o álbum (e filme) trabalhando o deslocamento sutil de arpejos e vocalização de origem indígena tensionando o nome da obra. A bela "Organic" emenda tal experiência temerosa com graciosidade.

Enquanto a orquestração de "Clouds" eleva a tensão sobre algo ainda desconhecido, os arpejos velozes de "Resource", que trabalham tão bem intervalos dissonantes em alta velocidade, fazem um paralelo a grandes formas geométricas desconexas que, em infinitude, parecem consoantes. No filme, isso é retrato na projeção de prédios amontoados entre si e perfeitamente harmonizados em suas vidraças repetitivas; em carros do mesmo modelo, embora de diferentes cores, lado-a-lado num estacionamento; ou até mesmo na produção veloz e mecânica de alimentos processados.

É belo o arranjo e a performance vocal polifônica da "Vessels", que inevitavelmente remete a composições da ars antiqua. Seus arpejos acelerados em timbre sintético trazem um aspecto contemporâneo a algo "antiquado". O deslocamento melódico e harmônico é não menos que brilhante. Tal concepção reaparece na longa "The Grid", dona de inovação formal impressionante.

"Prophecies" amarra o final com seu inicio, explorando mais uma vez a infinitude através de círculos melódicos que se repetem.

Mesmo que a obra do Philip Glass esteja ligada ao nicho da música erudita contemporânea, com Koyaanisqatsi o artista tornou-se ainda mais conhecido e celebrado. Sua influência é incalculável.

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