O filme produzido pelo diretor Godfrey Reggio traz uma tensão contemplativa e caótica através de imagens grandiosas. Ainda que seja importante e gratificante a experiência visual, a música do Philip Glass fala por si só. Talvez por ter sido composta simultaneamente com a produção do vídeo, há uma interação tão perfeita entre as obras que uma remete a outra em separado.
A fúnebre "Koyaanisqatsi" abre o álbum (e filme) trabalhando o deslocamento sutil de arpejos e vocalização de origem indígena tensionando o nome da obra. A bela "Organic" emenda tal experiência temerosa com graciosidade.
Enquanto a orquestração de "Clouds" eleva a tensão sobre algo ainda desconhecido, os arpejos velozes de "Resource", que trabalham tão bem intervalos dissonantes em alta velocidade, fazem um paralelo a grandes formas geométricas desconexas que, em infinitude, parecem consoantes. No filme, isso é retrato na projeção de prédios amontoados entre si e perfeitamente harmonizados em suas vidraças repetitivas; em carros do mesmo modelo, embora de diferentes cores, lado-a-lado num estacionamento; ou até mesmo na produção veloz e mecânica de alimentos processados.
É belo o arranjo e a performance vocal polifônica da "Vessels", que inevitavelmente remete a composições da ars antiqua. Seus arpejos acelerados em timbre sintético trazem um aspecto contemporâneo a algo "antiquado". O deslocamento melódico e harmônico é não menos que brilhante. Tal concepção reaparece na longa "The Grid", dona de inovação formal impressionante.
"Prophecies" amarra o final com seu inicio, explorando mais uma vez a infinitude através de círculos melódicos que se repetem.
Mesmo que a obra do Philip Glass esteja ligada ao nicho da música erudita contemporânea, com Koyaanisqatsi o artista tornou-se ainda mais conhecido e celebrado. Sua influência é incalculável.
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