quarta-feira, 12 de novembro de 2025

TEM QUE OUVIR: Boris - Pink (2005)

Falar que a música do Japão é uma tendência na indústria musical ocidental seria forçar a barra. Por outro lado, sempre tiveram artistas referência em típicos específicos de som: Yellow Magic Orchestra, Ryuichi Sakamoto, Toshiko Akiyoshi, Loudness, Merzbow, Shonen Knife, Kyary Pamyu Pamyu, Otoboke Beaver, além de inúmeros nomes do hypadissimos city pop (Masayoshi Takanaka, por exemplo). Mas pessoalmente, uma banda sempre esteve em maior rotação aqui em casa, não necessariamente por ser japonesa, mas por levar aos limites a energia no rock. É o Boris, trio prolifero que tem no prestigiado Pink (2005) um marco em sua enorme discografia.

Na época, já com nove discos na bagagem, o grupo formado por Takeshi (voz e baixo-guitarra de dois braços), Wata (guitarra e parede de amplificadores Orange no limite do volume) e Atsuo (baterista naturalmente anfetaminado) pareceu com esse disco reunir num caldeirão toda sua eloquência em gêneros como sludge metal, stoner, drone, rock psicodélico e noise rock. Como se não bastasse, fizeram isso com uma maturidade que deu a eles boas composições, onde riffs memoráveis e passagens carismáticas geraram canções que crescem além do esporro sônico.

A longa "Farewell", faixa que abre o disco, já é um inicio especial. Na introdução, notas parecem gotejar, preparando o ambiente para um shoegaze/dream pop/post-rock cavernoso. A progressão harmônica lenta, movida por acordes espaçados e bateria enorme, cria uma beleza atmosférica em perfeito equilíbrio com a linda melodia vocal. Impressionante.

O que fazer depois de um inicio desses? Explodir a cabeça do ouvinte com um hipnótico cheio de fuzz e wah-wah. É isso que é "Pink", canção veloz e cheia de guitarras enlouquecidas e amontoadas. 

Se ao ouvir "Woman On The Screen" você não quiser sair correndo descontroladamente, então você estar morto por dentro. Uma performance não menos que catártica e abrasiva. Vale aqui reparar como, embora pesado e enorme, a produção é orgânica, expondo a força braçal da execução.

A escola do hardcore/punk rock japonês inunda a imunda "Nothing Special". O baixo parece uma motosserra, há constantemente uma microfonia ao fundo e uma corrosividade timbristica doentia. Foda!

Em "Blackout" o clima se agrava. É um sludge-drone infernal, denso, terroso, primitivo. Parece uma queda ao centro da Terra. Isso com uma captação exemplar, que forma uma massa sonora impenetrável.

A breve "Electric" chega a soar divertida e grooveada. É uma canção instrumental guiada por um riff stoner não menos que contagiante.

Embora seja um atropelo, com direito a um amontoado de sons saturados, da pra decodificar algo de psicodélico/garage em "Pseudo Bread", faixa com um dos refrães mais legais do disco. Já em "Afterburner" dá pra visualizar o que seria o Jimi Hendrix tocando no Black Sabbath.

A virulência punk volta a dominar "Six, Three Times". Inclusive num timbre de guitarra que é puro chiado. Eu adoro! Chega a ser engraçado colocar na sequência a relaxante e ambient "My Machine". Mas não se engane, é o fervor nirvanistico em longa duração de "Just Abandoned Myself" que fecha o álbum. 

Com esse disco o Boris ganhou o mundo dos sons alternativos. O indie abraçou, o metal abraçou. Viraram símbolos de vigor, peso e grandeza sonora. Basta ouvir o Pink uma única vez para ver que é mais que justificável.

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