sábado, 1 de fevereiro de 2020

TEM QUE OUVIR: Billie Eilish - When We All Fall Asleep, Where Do We Go? (2019)

When We All Fall Asleep, Where Do We Go? (2019) sequer completou um ano de lançamento e eu já o coloco na seção de "clássicos" deste humilde blog. Por mais absurdo que seja, pode ter certeza - e eu sei que vocês terão -, esse é o menor feito deste álbum.


Billie Eilish tornou-se um fenômeno pop numa velocidade típica do novo milênio. Explodiu no YouTube, não nos palcos. Fez da sua imagem (tão importante em tempos de Instagram) um diferencial, trazendo os bizarros/excluídos/alternativos novamente para os holofotes. O quão genuíno foi essa "jogada" não importa. A arte também é construída.

Após alguns singles viralizados, criou-se expectativa para sua estréia em disco. Para minha surpresa, o resultado foi sui generis. É verdade, a aura pop-dark já estava em voga, principalmente a partir do sucesso da Lorde, mas ao contrário da neozelandesa, a música da Billie me soou muito mais cativante e ousada.

Um dos principais êxitos do álbum é a produção do Finneas O'Connell, irmão da Billie. Ele com 22 anos, ela com incríveis 17. Ambos os únicos responsáveis pela composição e produção do disco, gravado num quarto na casa dos pais. Em tempos de música assinada por trocentos produtores e com muita grana envolvida, este fato rende no minimo uma ótima publicidade. O astral dos irmãos na feitura do disco está representado na curtíssima introdução "!!!!!!!". Mas vamos aos verdadeiros destaques:

"bad guy" é um amontoado de ideias ganchudas que fazem da faixa um hit instantâneo: kick de EDM, linha de baixo cativante, simples estalar de dedos e melodia grudenta de synth. Tudo com timbres abafados, como se estivessem ecoando atrás da porta de uma balada num porão. Claro, a interpretação "mortona" da Billie, com vozes sobrepostas e "retorcidas", também é sensacional. Rola até um "duh" memetizado. Tremenda faixa pop.

"xanny" soa quase como uma balada jazzistica. Isso ao menos nos momentos em que um baixo saturadíssimo não está corroendo nosso canal auditivo. Sua voz ultra processada soa lindamente humana. Já na letra, o velho estilo junkie é visto como uma idiotice.

Lembram quando a Taylor Swift tentou trazer dubstep para suas produções? Pois então, a Billie faz isso com êxito no refrão explosivo de "you should see me in a crown", com direito a graves capazes de causar abalo sísmico.

Já num clima quase de west-coast hip hop, com seu solar synth em meio a um beat pesado, "all the good girls go to hell" vira uma espetacular faixa pop.

É incrível como alguém tão jovem possa transmitir tanta maturidade quanto em "wish you were gay", uma faixa sobre relacionamentos impossíveis com viés comicamente dramático. Não por acaso a artista consegue se comunicar tão bem com sua geração. Fora que o violão, a melodia, a sonoplastia e a performance vocal são cativantes.

Por mais que estejam apenas iniciando a carreira, já tornou-se muito particular da dupla Billie/Finneas a construção grave, espaçada, saturada, dark e cochichada (quase um ASMR distorcido) de canções como "bury a friend". Em tempos onde tudo já foi feito, eles são donos de uma estética.

O tom depressivo (e até mesmo suicida) de "Listen Before I Go" soa dolorosamente honesto. Seu instrumental inteligente e profundo ajudou muito nisso. O mesmo vale para a lindíssima "i love you", de clima não menos que exuberante.

"goodbye" encerra o álbum num tom de anomalia pop. Um disco que deixa explícito o porquê de ter chamado tanta atenção: é instrumentalmente rico, abstrato e inusitado; liricamente honesto e condizente com a juventude; e o mais importante, é interpretado por uma jovem garota que, mesmo diante da escuridão, irradia luz.

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