O pop deste milênio foi dominado por grandes mulheres. Entretanto, talvez nenhuma reúna tantas qualidades quanto a Janelle Monáe. Do visual reluzente e cheio de personalidade, passando pela incrível voz, talento para compor e facilidade de transitar por diferentes gêneros, ela é um exemplo de artista completa. Tudo isso fica explicito em sua majestosa estreia, The ArchAndroid (2010).
Embalando um enredo arrojado - que une a cultura africana com androides de ficção cientifica -, este trabalho transgride o convencionalismo pop. Mas mais interessante que o seu conceito, é a cativante ponte sonora entre funk, rap, jazz, electro e r&b que a artista propõe. O resultado é um "neo-soul-psicodélico" altamente envolvente
O disco é dividido em duas suítes (curiosamente numeradas por II e III). Ambas se iniciam com "Overtures" de beleza cinematográfica. Em comum nas duas partes está o brilhantismo das composições.
Há tanto o elemento tribal afro no coro de vozes quanto um flow de rapper em "Dance Or Die". Instrumentalmente são tantas camadas de cores e grooves que é inviável apontar cada qualidade, até porque é sua amalgama o grande esplendor do arranjo.
Impossível não lembrar do Michael Jackson diante do groove e da linda melodia de "Locked Inside", um POP perfeito digno das letras garrafais. Já em "Sir Greendown", são as girl groups 60's que encarnam na voz da Monáe, ainda que com elementos de psicodelia.
A produção tão moderna quanto cristalina de "Cold War" traz vigor para o beat e profundida espacial para a canção. Na sequência, "Tightrope" se firma como o grande single do álbum. Atenção para a participação do Big Boi (produtor executivo do álbum), o baixo pulsante, ritmo dançante e a fumaça sessentista.
A interpretação segura e elegante da Janelle Monáe em "Oh, Maker" expõe sua grande voz. Por sua vez, a detetivesca, "rockeira" e humorada "Come Alive (War Of The Roses)" transmite a versatilidade da artista.
Fechando a primeira parte, a acidez psicodélica reina na estranha "Mushrooms & Roses". De arranjo orquestrado à la Marvin Gaye, "Neon Valley Street" apresenta novamente o canto dilacerante da Monáe.
O desenvolver tão intricado quanto aconchegante de "Say You'll Go" retrata o quão ambicioso é o álbum. Seu desfecho com a absurda, jazzistica e sinfônica "BeBopByeYa" faz jus a todo o restante.
Apesar de inegável riqueza, a audição de The ArchAndroid é fluida, visto o balanço, bom gosto e a performance inspirada da Janelle Monáe, uma artista que, passado uma década, ainda não deu nenhuma bola fora.
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