segunda-feira, 19 de agosto de 2019

TEM QUE OUVIR: Erykah Badu - Mama's Gun (2000)

Dentre tantos subgêneros que englobam a música pop, no novo milênio, a transformação do r&b foi das mais surpreendentes. A vertente sofreu uma mutação sonora através de timbres e atitude extraídos do hip hop, isso sem abrir mão do groove. Um dos nomes responsáveis por essa oxigenação do estilo é o da Erykah Badu, que lançou em 2000 o seu segundo trabalho, o excelente Mama's Gun.


Claro, Lauryn Hill e Missy Elliott já haviam pavimentado o r&b contemporâneo, mas a força interpretativa da Badu tinha um diferencial humano que logo a colocou no topo. Colabora para essa desenvoltura sonora sua incursão pelo coletivo Soulquarians, repleto de artistas talentosos e fundamentais para a estética aqui alcançada.

Na época, a feminilidade negra da Badu enferveceu via maternidade, fruto de seu relacionamento com o André 3000 do Outkast. Isso se confirma não somente no nome do disco, mas também em suas composições, vide a deliciosa e imponente "Bag Lady".

Mas é a quase rockeira - e extremamente grooveada - "Penitentiary Philosophy" que abre o álbum. A faixa retrata a batalha e paixão das esposas dos carcerários.

Em "Didn't Cha Know", em cima de uma linha de baixo densa, a voz de Badu soa sexy e charmosa. Em "My Life" sobressaí o direcionamento/balanço pop, embora o arranjo de cordas e metais traga doses extras de sofisticação para a canção. Ambas tem a produção assinada pelo lendário J. Dilla.

Enquanto rapper, "...& On" é um exemplo do talento da artista. Já na balada "A.D. 2000", seu canto delicado expõe versatilidade. Na longa "Orange Moon" há até mesmo um forte elemento jazzístico.

Mas nem só a Badu merece crédito. Em "Cleva", Pino Palladino (baixo) e Questlove (bateria) distribuem groove enquanto o veterano Roy Ayers despeja brilho com seu vibrafone. Já o som da bateria e do piano rhoades em "Booty" é de fazer balançar a alma. É o funk na célula tronco, mais uma vez com colaboração do J. Dilla.

O final do álbum beira o absurdo. Primeiro com a celestial "Time's A Wastin", para logo depois a épica "Green Eyes" fechar a tampa com swing, arranjo grandioso, clima cinematográfico e influência das divas do jazz. Uma aula de bom gosto. Uma amostra de inteligência no pop contemporâneo. 

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