terça-feira, 5 de março de 2019

TEM QUE OUVIR: The Louvin Brothers - Tragic Songs Of Life (1956)

Uma imagem enganosa permeia a mente de quem reconhece a música country apenas por sua fórmula inofensiva que de tempo em tempo chega ao mainstream (exemplos recentes: o inicio da carreira da Taylor Swift e a elogiadissima Kacey Musgraves). Todavia, há uma atitude marginal que resultou nos melhores momentos do gênero e fez dele tão influente na música popular, sendo fundamental inclusive para o nascimento do rock n' roll. Tal aura destrutiva pode ser representado pelo canto melancólico dos irmãos Charlie e Ira Louvin. Lançado pela Capitol, Tragic Songs Of Life (1956) é um clássico do estilo.


Enquanto Charlie tinha uma voz barítono, Ira era um alto tenor. Ambos de timbres nasalado, de forte sotaque caipira e interpretação contidamente precisa. Há muita semelhança melódica nas dobras vocais do duo (caracterizada como close harmony) com as encontradas nas autênticas duplas sertanejas brasileiras. A triste "I'll Be All Smiles Tonight" é um perfeito exemplo disso.

O ritmo acelerado de "Let Her Go, God Bless Here" (na linha bluegrass) expõem a qualidade da dupla ao violão (mérito do Charlie) e, principalmente, ao bandolim (mérito do Ira).

O teor lírico chama atenção na sombria "Mary Of The Wild Moor" e na fúnebre "My Brother's Will". Isso para não mencionar "Kentucky". Impossível saber quando assassinos da região tiveram uma bebedeira embalada pela canção após uma desilusão amorosa.

Vale ainda se atentar para a tradicional "In The Pines", que fez muito sucesso na versão do Nirvana. As folclóricas "Katie Dear" e "Knoxville Girl" também dão as caras.

Mais tarde toda essa atmosfera nebulosa desaguou no cultuado álbum Satan Is Real (1959), que trouxe o duo aos olhos da uma nova geração interessada em memes. Todavia, é mesmo Tragic Songs Of Life a epítome da música country americana.

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