segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

TEM QUE OUVIR: Talk Talk - Spirit Of Eden (1988)

O trajeto do Talk Talk é dos mais impressionantes da música pop. O grupo ascendeu popularmente no segundo disco através do hit "It's My Life" (regravado posteriormente pelo No Doubt). Elevou os limites da new wave/synthpop com o ótimo The Colour Of Spring (1986), o terceiro álbum da banda. Mas foi no quarto lançamento, o magnífico Spirit Of Eden (1988), que o grupo criou uma identidade singular que eternizaria sua obra.


Se anteriormente a produção Tim Friese-Greene já havia sido importante para moldar a sonoridade do grupo, aqui ele foi ainda mais fundamental. Ele participou desde o processo de composição ao lado do Mark Hollis. Somado a isso, o grupo ficou horas trancado em estúdio improvisando, resultando em vasto material gravado. O processo de pós-produção organizou tudo de forma única e cerebral, desprendido de qualquer gênero. Para muitos, eis a criação do post-rock.

A introdução atmosférica de "The Rainbow" remete a casas de jazz à meia luz. Um clima noir esfumaçado, que logo é tomado por uma guitarra brilhante, baixo pulsante e o som fosco de uma caixa reverberosa sem esteira. A voz suave e plena aponta para o que seria feito posteriormente no trip hop. Há ainda passagens furiosas de gaita. Uma abertura e tanto para o disco!

Não só a instrumentação, mas também a concepção sinfônica de "Eden", é a cara do que grupos como Mogwai e Sigur Rós viriam a fazer. Já em "Desire", em meio a momentos tão pop quanto intensos, há também climas com referência de música ambient e minimalista.

É não menos que graciosa a forma com que os instrumentos se completam em "Inheritance", soando perfeitamente metódica, assim como de interpretação espontânea. Vale se atentar para o baixo acústico do Danny Thompson, assim como a inclusão de oboé e clarinete no arranjo, além de uma guitarra com as válvulas do amplificador fervendo e uma levada jazzistica de bateria.

Já a utilização de um coral sacro ao lado dos experimentos eletrônicos do Hugh David em "I Believe In You", expõem a exuberância da criação sem limites do Talk Talk.

Três anos depois a banda lançou o também espetacular Laughing Stock, mais ai é história para um próximo "Tem Que Ouvir".

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