terça-feira, 29 de março de 2016

TEM QUE OUVIR: Chico Science & Nação Zumbi - Afrociberdelia (1996)

Em março choveram homenagens ao Chico Science, que se estivesse vivo faria 50 anos. Pensando nisso, recapitularei o espetacular Afrociberdelia (1996) da Nação Zumbi, que embora não seja tão cultuado quanto o clássico Da Lama Ao Caos (1994), sempre me pareceu melhor acabado.


Embora com vendas pouco expressivas, a banda oriunda de Recife (PE) já havia começado sua revolução musical que rendera aclamação entre artistas e a mídia especializada, além de uma ruptura comercial do eixo Rio-São Paulo, fortificando uma identidade cultural brasileira mais abrangente.

Ainda calcando sua sonoridade na fusão de sons regionais nordestinos - principalmente o maracatu -, com heavy metal, dub e hip hop, além de letras que misturam literatura de cordel com surrealismo, a Nação Zumbi aperfeiçoou sua fórmula única nas composições, execução e produção.

Se "Crianças de Domingo" é de autoria do Cadão Volpato (Fellini) - revelando um intercâmbio com o cenário alternativo do Sudeste -, por sua vez, a emblemática "Maracatu Atômico" é do Jorge Mautner e Nelson Jacobina. A versão da Nação passou massivamente na programação da MTV Brasil, tendo sido o último clipe a ser exibido pela emissora, tamanha sua importância. Um símbolo do movimento Manguebeat. Outra canção emblemática é "Manguetown", dona de letra não menos que fantástica e interpretação voraz do Chico Science.

"Sangue de Bairro" e "Enquanto O Mundo Explode" formam uma dobradinha ultra pesada que, de certa forma, se comunica com o que o Sepultura vinha fazendo até então. Muito disso é mérito do guitarrista Lúcio Maia, que também brilha nos riffs e grooves de "Etnia".

É interessante observar em "Macô" a ponte entre gerações e estilos feita pelas vozes do Gilberto Gil e Marcelo D2, além de sample de Jorge Ben.

O peso das alfaias em "O Cidadão do Mundo" se costura muito bem com a consistente cozinha formada pelo Pupilo (bateria) e Dengue (baixo). É uma seção rítmica poderosa.

Entre tantas pérolas dentro desse mangue, não seria possível deixar de citar o balanço funky/afrobeat de "Um Passeio No Mundo Livre", a poesia concreta de "Samba do Lado" (com participação do Fred 04), a sombria "Corpo de Lama" e a paulada "Um Satélite Na Cabeça". 

Infelizmente, menos de um ano após o lançamento do disco, Chico Science morreu num trágico acidente de carro. Restou a lenda o seu legado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário