quinta-feira, 31 de março de 2016

Decupando "Pump Up The Volume - A História da House Music"

Dias atrás assisti o ótimo documentário Pump Up The Volume, que narra a história da música eletrônica, começando pelas boates de disco music, passando por suas raízes em Chicago, partindo para a ascensão da house music em Nova Iorque e, posteriormente, no Reino Unido. Disso compilei alguns sons e acrescentei algumas outras faixas, que ajudam a narrar essa rica história. Com áudio junto, as minhas prediletas:

Larry Levan, Frankie Knuckles e Tee Scott

Cybotron - Techno City (1984)
Marco da música pré-house, pré-techno. Meio synthpop, bebendo tanto do Kraftwerk quanto do Afrika Bambaataa. É a house em desenvolvimento inicial e espontâneo.

Jesse Saunders - On & On (1984)
O primeiro destaque da chamada chicago house partiu de alguns malucos que escreveram, gravaram e prensaram o próprio disco para tocarem nas festas da região. DIY ao extremo. A faixa "On & On" é assinada pelo Jesse Saunders. É das melhores do estilo? Claro que não, mas inspirou outros diversos artistas a arriscarem suas próprias produções.

Chip E - Time To Jack (1985)
Com a house music começando a chamar a atenção em toda Chicago, choveram moleques juntando linhas de baixo contagiantes com bumbos pesados e letras nonsense. "Time To Jack" é um exemplo.

Steve 'Silk' Hurley - Music Is The Key (1985)
Entre a evolução sonora e o crescimento da popularidade do estilo, vieram outras pérolas como essa, de ritmo pulsante, sintetizadores luminosos e melodiosa linha vocal.

Jamie Principle (com produção do Frankie Knuckles) - Your Love (1986)
Neste momento, em Chicago já haviam DJs importantíssimos reciclando a disco music tanto em rádios quantos em festas, vide Larry Levan (Paradise Garage), Frankie Knuckles (The Warehouse), Ron Hardy (Muzic Box), François Kevorkian (Studio 54), Farley Jackmaster Funk e os todos caras da rádio Hot Mix 5. Disso saiu a vibração para a criação daquilo que ficou conhecido como house music. "Your Love" é um hino genuíno do gênero.

Larry Heard (Mr. Fingers) - Can You Feel It? (1986)
Quando soar dançante não era mais o suficiente e a necessidade de explorar a música pela música falou mais alto, nasceram hinos como "Can You Feel It?", de sofisticação impressionante e, pela primeira vez, completamente sem voz.

Marshall Jefferson - Move Your Body (1986)
Nessa de expandir os limites da house music, Marshall Jefferson misturou um ritmo dançante com timbre de piano acústico, melodias vocais pop e jogou para fora de Chicago um estilo que agora virara universal, chegando com força na Inglaterra.

Farley Jackmaster Funk feat. Darryl Pandy - Love Can't Turn Around (1986)
Com um cantor de vozeirão - que mais parecia um reverendo gay - somando forças com artistas rodados da cena de Chicago, nasceu esse peculiar hit da música eletrônica.

Phuture - Acid Tracks (1987)
Se nenhuma grande gravadora se interessava em lançar discos do estilo, nada mais lógico e ousado que criar o próprio selo. Assim nasceu a Trax. Junto com ela veio diversos sequenciadores, sintetizadores e outros apetrechos eletrônicos que levaram a música eletrônica para novas direções. Em "Acid Tracks" é som do Roland-303 que salta aos ouvidos. O responsável por traz da obra é o desbravador DJ Pierre. Nascia a minimalista e delirante acid house.

T-Coy - Carino (1987)
Com certa resistência dos mais preconceituosos (e não digo somente no quesito musical, mas também racial e sexual), mas com aprovação de diversos DJs, que enfureciam a noite em danceterias inglesas, a house music deixou de ser exclusiva de Chicago e britânicos passaram a produzir suas próprias obras. Essa é uma das primeiras. Curiosamente, dona de uma latinidade peculiar.

Joe Smooth - Promised Land (1987)
Com a house dominando a noite inglesa, mais precisamente em Manchester, os artistas de Chicago fizeram uma tour por lá. O grande destaque dessa viagem foi Joe Smooth, que acabou deixando como como semente esse hino da house music.

Rhythim Is Rhythim - Strings Of Life (1987)
Foi via o jovem Derrick May que a house sofreu uma mutação elaborada e ainda mais agressiva, se transformando no que viria a ser a música techno oriunda de Detroit. "Strings Of Life", a obra-prima singular deste período, foi explicada pelo Derrick como "o encontro do Kraftwerk com George Clinton num elevador separados apenas por um teclado". Faz sentido.

Inner City - Big Fun (1988)
Regado a ácido e agora com anos de aperfeiçoamento, a Inglaterra tomou de assalto a música techno e fez seu próprio verão do amor em 1988. A trilha sonora foi essa música, uma típica acid house repleta de vocais melódicos.

A Guy Called Gerald - Voodoo Ray (1988)
Como uma espécie de mantra hipnótico, a delirante "Voodoo Ray" fez o ácido das festas eletrônicas ficar mais intenso. Dona de ritmo minimalista e melismas vocais com traços indianos, nada se igualava a obra do Gerald Simpson, posteriormente integrante do 808 State.

Bomb The Bass - Beat Dis (1988)
Também na Inglaterra, o produtor Timothy Simenon, sob o pseudônimo de Bomb The Bass, lançou o disco Into The Dragon (1988), uma pérola da dance music, que elevou em muito as produções de house, deixando-as mais dinâmicas, atraentes e pulsante. É uma maravilha. A clássica "Beat Dis" retrata muito bem o artista. 

The Todd Terry Project - Weekend (1988)
Voltando para os EUA, uma entre tantas músicas que faziam a trilha sonora dos clubs da época, já que house music era barrada nas rádios americanas. Com o peso das batidas do hip hop, Toddy Terry chamou atenção de quem descriminava a house. Pesado, hard, cru e com o pé nas origens de Chicago.

Ten City - That's The Way Love Is (1989)
Marshall Jefferson foi o DJ de Chicago que melhor entendeu os ingleses. Em busca de montar o grupo definitivo que representasse o som de Chicago - pretensioso, não? -, formou o Ten City, que presenteou a Inglaterra com canções de sensibilidade pop e instrumentação "orgânica".

Danny Rampling
Foi a partir de uma ida de alguns jovens ingleses para o aniversário de um ainda jovem Paul Oakenfold em Ibiza, que a Europa entendeu definitivamente a música que viera de Chicago. E isso ocorreu com ajuda de muito ecstasy e da mistura bombástica de estilos feita pelo pouco lembrado DJ Alfredo. Esse clima foi levado de volta para Inglaterra. Nascia a pequena danceteria Shoom, o berço da cultura rave. O DJ principal do local: Danny Rampling.

S'Express - Theme From S'Express (1989)
Raves a milhão e um novo club aberto a cada semana. O estilo clubber se faz presente em Londres, regado por drogas e roupas excêntricas. No falantes, alimentando a cena, esse tema da S'Espress.

Adamski - NRG (1989)
As festas acid chamaram atenção na mídia e viraram caso de policia para os tabloides, curiosamente ajudando a fomentar o movimento e fazendo com que ainda mais jovens quisessem fazer parte daquilo. As festas ficaram maior que a música. O dinheiro começou a entrar como nunca na e-music. 

Happy Mondays - WFL Think About The Future Mix (1989)
E claro que os grupos de rock alternativo de Manchester iriam se atentar a tudo isso. Aproveitaram o banho ecstasy para trazer a psicodelia de volta ao rock. Auxiliando as bandas: Paul Oakenfold. Eis a cena de Madchester. Com o rock adentrando a cena house, logo brancos e negros estavam se unindo por uma causa: dançar até o amanhecer.

Masters At Work - Chic Mystique (1992)
Aqui vale um salto temporal pra dizer que, só três anos mais tarde, que a música eletrônica alcançou verdadeiro sucesso comercial nos EUA. Isso via o Masters At Work, que faziam remixes para hits da parada pop americana.

Black Box - Ride On Time (1989)
Na Inglaterra, a house chegava ao Top Of The Pops através de DJs italianos com sample da disco music e uma modelo dublando os vocais da faixa. Tudo para tornar a coisa mais rentável.

Orb - Little Fluffy Clouds (1990)
Mas nem tudo era meramente comercial, vide a riqueza sonora do Orb. Ambient house, acid house, downtempo... novas vertentes da música eletrônica que ressaltavam sons hipnotizantes da natureza. Eis o Chill Out.

Orbital - Chime (1990)
O duo Orbital também levou a arte eletrônica para novo patamar, ressaltando o que realmente importava. Através de novos sequenciadores, ainda havia muito a se criar dentro da dance music inglesa.

Shut Up And Dance - 10 Pounds To Get In (1990)
Independente da fusão com outros estilos, a house evoluía por si só através dos ritmos complexos do Shut Up And Dance. Nada mais de "bate estaca" em 4/4, o groove quebrado do hip hop chegara de vez ao estilo. Daí vieram jungle, uk garage, house hardcore e outras subvertentes. Para muitos apenas a evolução natural da house music.

Joey Beltram - Energy Flash (1990)
Enquanto isso, na América, um moleque que cresceu ouvido a chicago music vira um dos grandes nomes da música eletrônica. Eis o techno na pura essência, embora ainda sem a "criação" do gênero.

Carl Cox - I Want You (Forever) (1991)
Beliscando a música techno e o que viria a ser o drum and bass, Carl Cox lançou essa cacetada e logo se tornou um astro em Ibiza. 

Goldie - Terminator (1992)
Movidos por drogas, festas darks, aumentando o bpm e trazendo timbres cada vez mais pesados, a cena inglesa estava entrando em combustão. Contribuindo para essa insanidade sonora e sensorial, Goldie cria uma nova subvertente, o drum and bass.

Goldie - Inner City Life (1994)
Quando Goldie entregou essa pérola, ficou visível para todos: a música eletrônica chegara ao ápice. Linhas de baixo e batidas sampleadas não eram mais suficientes. A sofisticação de Goldie levou a música para outro patamar artístico. Logo Madonna e U2 também queria fazer parte disso. A e-music chegou ao pop.

Leftfield - Open Up (1995)
O Leftfield por sua vez levou para os palcos a presença de uma banda e fez dos show de e-music um espetáculo como qualquer outro. Com essa capacidade, sons aborígenes, dub e reggae também faziam parte do repertorio do grupo. Até John Lydon se rendeu ao som da banda. Fez enorme sucesso na Inglaterra.

Housey Doingz - Gobstopper (1996)
Com o surgimento de subgeneros, apareceram variações especificas da house music. Para muitos, essa faixa do Terry Francis com o Nathan Coles representa o nascimento da tech house, ou seja, a fusão do techno com a house.

Tori Amos - Professional Widow (Remix do Armand Van Helden) (1996)
E claro, gravadoras visando o lucro, bancaram que DJs dessem uma turbinada com remixes para canções pop insossas. Tudo agora tinha que ter cara de club, mesmo quando feito em estúdio. Aqui ao menos o resultado é bacana.

Theo Parrish - Sweet Sticky (1998)
Esse produtor de Detroit sabe como soar tão estranho quanto dançante. Um dos maiores representantes do deep house. Garimpar discos é com ele mesmo. Ainda hoje um nome importante no cenário eletrônico. 

Sasha - Xpander (1999)
Um clássico da fusão da house com o trance, isso num formato bastante palatável, apontando para uma das vertentes que o estilo caminharia daqui em diante.

Isolée - Beau Mot Plage (2000)
Esse produtor alemão brilhou nessa faixa ultra bem construída. Sua primeira parte traz sintetizadores kraftwerkianos numa melodia/ritmo palatável. Já na metade final a coisa fica mais "borbulhante", pulsante e densa. Rola interação com o glitch. É comumente chamada de microhouse.

Alan Braxe - Intro (2005)
Lembrei da compilação The Upper Cuts (2005), que reúne trabalhos deste produtor francês que tão bem trouxe a disco music de volta para house. Mas falando da pura house music, "Intro" é uma pérola.

Luomo - Market (2005)
O produtor Vladislav Delay num trabalho que atende por gêneros como microhouse e deep house. Para mim, apenas a música eletrônica em grande momento. Dançante, elaborada e… “charmosa”. É som de casa noturna de rico, talvez pela sofisticação quase lounge. Eu gosto bastante do disco Vocalcity (2005)

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