segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

TEM QUE OUVIR: Lou Reed - Berlin (1973)

Lou Reed é um criador especial. Desbravou diversos territórios desde quando fazia parte do Velvet Underground. Alcançou o sucesso comercial com o impecável Transformer (1972). Foi extremamente influente no barulhento/experimental Metal Machine Music (1975). Nunca deixou de apresentar discos ousados, ainda que isso pudesse afastar o público do seu trabalho, vide o que ocorreu no sombrio Berlin (1973).


Embora não tenha alcançado sucesso comercial, Berlin é daquelas obras - e são tantas na carreira de Lou Reed - de culto justificável. Seu conjunto de canções formam uma ópera rock amarga, que retrata não exatamente personagens (embora nomeados como tais, vide Caroline e Jim), mas sim o próprio o Lou Reed, um ser autodestrutivo, viciado, depressivo, de atitudes desprezíveis e pensamentos obscuros. E é justamente essa personalidade sombria que dá sentido as letras e a sonoridade final do álbum.

Para produzir a obra, Lou Reed chamou Bob Ezrin, que havia trabalhado recentemente com Alice Cooper. O time de músicos que tocam no disco beira ao inacreditável: Michael Brecker, Dick Wagner, Steve Hunter, Tony Levin, B.J. Wilson, Aynsley Dunbar, Steve Winwood e Jack Bruce. De todos esses músicos, é justamente o Jack Bruce que rouba a cena, vide seu timbre encorpado de baixo e linhas freneticamente melódicas em faixas como "Men Of Good Fortune" e "Caroline Says I".

No que se refere a poesia, em meio as drogas ("How Do You Think It Feels") e violência ("Caroline Says II") - temas corriqueiros na obra de Lou Reed - chegamos ao máximo do seu talento na chocante "The Kids" - o quão desesperador é aquele choro de criança! - e no suicídio da personagem Caroline (alter ego fictício de Lou) em "The Bed". 

Musicalmente, poucas canções são páreo para beleza melódica de "Berlin" e a intensidade de "Lady Day" e "Sad Song", ambas de arranjos tão sofisticados que beiram a loucura. Mérito do Bob Ezrin.

Berlin é uma obra tão perturbadora quanto encantadora. Infelizmente, o público não estava preparado para tanto.

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