sábado, 25 de maio de 2024

Resumão da música do Rio Grande do Sul

Todos já sabem da catástrofe que aconteceu no Rio Grande do Sul. Uma tragédia humana, social e ambiental gerada por uma política neoliberal desastrosa. Sem políticas públicas eficientes, a população está sendo socorrida pela solidariedade civil. Inúmeros campanhas estão sendo feitas para amenizar os problemas. Se possível, participe de alguma e não deixe de politizar o que é político.

Isso posto, no último fim de semana rolou um Altas Horas em homenagem às pessoas e a música do Rio Grande do Sul. Deixando de lado toda a boa vontade do programa, chamou minha atenção ver ali nomes como Luka e Armandinho, que valor algum tem para a cultura nacional e/ou local (falo isso de ponto de vista artístico, não humano). Outras ausências foram sentidas (independente da disponibilidade ou não das pessoas). Dito isso, decidi fazer minha listinha de artistas que representam a música do estado. Um ponto de vista limitado, mas também abrangente. Vale essa lista não só para direcionarmos atenção a região neste momento difícil, mas também porque há uma constante desvalorização tipicamente identitária ao estado, atribuindo a população toda uma politica reacionária e separatista que não condiz com a realidade.

Dito isso, vamos a música:

Lupicínio Rodrigues
Um dos grandes nomes da canção nacional. Compôs e interpretou majestosamente algumas das músicas mais tristes do repertório nacional. Inventou inclusive o termo dor-de-cotovelo, que tão bem traduz sua obra, imersa na lamentação. Fez samba-canção, marchinhas e até mesmo do Hino do Grêmio. Um gigante.

Elis Regina 
O Rio Grande do Sul seria suficiente relevante para a música popular brasileira se tivesse nos dado apenas a Elis Regina, para muitos - e talvez também para a mim - a maior cantora deste país. Uma cantora que, com muito orgulho, “cheirava a churrasco”.

Gaúcho da Fronteira
Um daqueles personagens folclóricos da música brasileira. Embora nascido no Uruguai, tornou-se representante legítimo da música dos pampas. Ele traz muito do vanerão, sempre manifestado com humor, carisma, talento na sanfona e aquela vestimenta típica da região (bombacha e tudo mais que tem direito). Não é um som pra ouvir a todo momento, mas vale conhecer.

Renato Borghetti
Um dos grandes instrumentistas não somente do Rio Grande do Sul, mas do país. Virou referência da gaita-ponto. Falou em música nativista, eu lembro dele.

Yamandu Costa
Virtuoso que é, o Yamandu revolucionou o violão brasileiro (o que não é pouca coisa), com sua abordagem intensa, veloz e de enorme brilhantismo. Talvez o grande violonista que tive a oportunidade de assistir ao vivo.

Frank Solari
Já que estou na música instrumental, vale falar do Frank Solari, um dos guitarristas brasileiros que mais ouvi quando adolescente. Nessa linguagem de rock instrumental, é um dos grandes do país. Isso porque ele é técnico, mas também muito perspicaz na construção das suas músicas. Ele é um bom compositor. Escutei muito e recomendo o álbum Acqua (2003). Ao que consta, o Bob Dylan chegou a colocar seu disco entre os prediletos do ano.

Kiko Freitas
Aqui vale destacar esse baterista brilhante que tocou o Frank Solari. Acho que posso afirmar que é meu baterista brasileiro predileto. Seu trabalho ao lado do João Bosco e do Nosso Trio é majestoso. Vale dizer que ele é filho do Telmo de Lima Freitas, cantor e compositor importantíssimo da música nativista gaúcha. Lembro também que ele foi professor do Aquiles Priester. Mestre dos ritmos brasileiros.

Os Brasas
Grupo que soa como um rebote da Jovem Guarda. Não falo de maneira pejorativa, muito pelo contrário, já que as canções me soam muito melhor arranjadas e desenvolvidas, com influência direta do rock americano e inglês, só que dentro das limitações nacionais do período. Muito daquele aspecto retrô inerente ao rock gaúcho produzido no novo milênio, tem aqui sua origem sonora. Luís Vagner chegou a fazer parte da banda

Luís Vagner, Guitarreiro
Falando nele, eis um dos maiores nomes do reggae e samba-rock brasileiro, sendo inclusive admirado pelo Jorge Ben. Ótimo compositor e guitarrista. Adoro aquele disco homônimo lançado em 1976.

Liverpool / Bixo da Seda
O Liverpool foi uma das grandes bandas do rock brasileiro. Liderada pelo Fughetti Luz e Mimi Lessa, lançou ótimos trabalhos, como o disco Por Favor, Sucesso (1967), muito bem ambientado a música psicodélica que ocorria no mundo. Quem gosta de Mutantes não pode ignorar. Posteriormente a banda virou o Bixo da Seda, com uma abordagem mais progressiva, mas igualmente apreciada pelos fãs do rock setentista. Vale lembrar que depois eles acabaram servindo de banda de apoio para As Frenéticas.

Almôndegas
Grupo que revelou Kleiton e Kleidir. Eles tiveram como grande mérito ambientar a música regional, a MPB e o rock no mesmo espaço. Essa fórmula acabou inspirando outros grupo da Rio Grande do Sul como Engenheiros do Hawaii e Nenhum de Nós.

Kleiton & Kledir
A mesma estética que havia no Almôndegas, ganhou sucesso nacional através do Kleiton & Kledir. Eles são ótimos compositores populares, tendo sido gravados por Simone, Belchior, Chitãozinho & Xororó, dentre inúmeros outros. Adoro “Deu Pra Ti” e “Nem Pensar”.

Vitor Ramil
Irmão do Kleiton e Kledir, Vitor Ramil se estabeleceu como um dos principais compositores do país. Seu trabalho envolve muito do regionalismo, mas manifestado naturalmente via canções estilisticamente variadas. Sempre esteve rodeado de ótimos arranjadores e compositores. Tambong (2000) é um dos discos que mais gosto dele, mas vale destacar também o Tango (1987) e A Paixão de V Segundo Ele Próprio (1984).

Bebeto Alves
Assim como Vitor Ramil, também inseriu na sua canção diversos elementos regionais. Até por isso, já vi jogarem ele no campo da world music (não sendo milongas, nem MPB, foi isso mesmo). Vale a pesquisa. Vale também lembrar que ele é o pai da Mel Lisboa.

Nei Lisboa
Aquele típico cantor-compositor que é gigante apenas entre seus locais, tendo se tornado referência no pop rock. Não conheço tão bem, mas o suficiente pra reconhecer seu talento.

Cheiro de Vida
Só conheço o disco homônimo lançado por eles em 1984, que acho um espetáculo. Embora tenha aquela sonoridade oitentista bem pasteurizada no que diz respeito a produção, o trabalho merece destaque por abordar a música instrumental brasileira dentro de um contexto fusion. Como só poderia ser dentro desse estilo, todos os integrantes tocavam muito bem.

Garotos da Rua
Uma das grandes bandas do Rio Grande do Sul quando o assunto é rock nacional. O som deles é bastante cru e direto. Foi fundado e liderado pelo ótimo guitarrista e cantor Bebeco Garcia.

Os Replicantes
Os maiores representantes do punk rock do sul do país. O Futuro é Vortex (1986) é um clássico. Na linha de frente da banda estava o Wander Wildner, figura icônica do rock nacional, dono de carreira solo relevante.

TNT
Banda sensacional que continha na formação o Flávio Basso e o Márcio Petracco, esse último um tremendo guitarrista slide. É um rock n’ roll básico (embora bem construído), divertido e muito exitoso. Chato ficar falando isso, mas é melhor que muita banda do período que ficou enorme nacionalmente.

Os Cascavelletes
Banda safada (no bom sentido) pela qual passaram Flávio Basso, Nei Van Soria (dois dissidentes do TNT) e Frank Jorge. Era divertida, com rock n’ roll tão bobinho quanto contagiante. Eles tocando “Eu Quis Comer Você” no programa da Angélica é dos momentos mais antológicos do rock nacional (e da TV brasileira). Vale lembrar que o Ratos de Porão chegou a regravar “O Dotadão Deve Morrer”.

Júpiter Maçã
O supracitado Flávio Basso, Júpiter Maçã ou Jupiter Apple. Além do trabalho com o TNT e Cascavelletes, sua carreira solo tomou um rumo ousado, trazendo elementos de psicodelia genuinamente malucos. A Sétima Efervescência (1997) é um clássico, mas Hisscivilization (2002) e Uma Tarde Na Fruteira (2007) não ficam pra trás não.

Graforréia Xilarmônica
Pós Cascavelletes, Frank Jorge montou o Graforréia, banda que saiu pelo selo Banguela, sendo assim um nome expoente do cenário alternativo noventista. Coisa de Louco II (1995) é um disco muito interessante, misturando milongas, Jovem Guarda, no wave e funk-rock torto. Lembro que a primeira vez que ouvi “Patê” fiquei de cara. Desconfio que todo mundo conhece “Nunca Diga”, “Amigo Punk” e “Eu”.

DeFalla
Banda histórica que trazia na formação os grandes Edu K, Biba e Castor. Vale muito escutar com atenção os primeiros quatro discos do grupo, visto que em cada fase eles tomavam um rumo diferente. Uma das bandas prediletas do Marcelo D2.

Krisiun
Simplesmente uma das maiores bandas de metal no Brasil, internacionalmente talvez só menor que o Sepultura. Um trio poderoso que foi fundamental no desenvolvimento do death metal, trazendo ainda mais velocidade e peso ao gênero.

Cidadão Quem
Uma espécie de Skank do Rio Grande do Sul, no sentido de ser aquele pop rock certinho. O Duca Leindecker é muito admirado enquanto compositor. Confesso não fazer minha cabeça.

Cachorro Grande
Teve uma época que as bandas do Rio Grande do Sul viraram as queridinhas da MTV. Bidê ou Balde, Ultramen e Cachorro Grande estavam direitos na programação da emissora. Até um Acústico MTV Bandas Gaúchas saiu. Dessas, Cachorro Grande sempre foi a que mais me interessou. Inclusive vi inúmeras vezes ao vivo. Era uma bandaça. Marcelo Gross é um tremendo guitarrista e o Beto Bruno um ótimo frontman.

Fresno
Os guardiões do emo nacional. O Lucas é das principais figuras do rock nacional, queira você ou não. Banda ainda na ativa e relevante.

Walverdes
Uma das boas bandas do rock alternativo nacional da virada do milênio. Muitas vezes eles apresentavam um som bastante encorpado, beirando o stoner. Lembro de ter escutado muito o Anticontrole (2001).

Pata de Elefante
Rolou também na primeira década dos anos 2000, uma nova onda de bandas de rock instrumental não pedantes. O Pata de Elefante foi a grande representante vinda do sul do país. O som deles é bem redondo. Continuam na ativa, embora recebendo pouca atenção.

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