Os sons pesados e estranhos tomaram um rumo drástico na década de 1980. Fosse no thrash metal, hardcore, rock alternativo ou industrial, a barulheira tava comendo solta. Diante desse clima, saiu pela Touch and Go Records o Atomizer do Big Black, pérola do noise rock que revelou ao mundo o guardião do gênero, Steve Albini.
Se hoje ele é mais lembrado por produções famosas (Nirvana, Pixies, PJ Harvey, Helmet) e outras nem tanto (Jesus Lizard, Slint, Mogwai), não é possível ignorar seu trabalho enquanto músico que, em maior ou menor grau, influenciou diretamente seus artistas produzidos.
Neste disco ele cantou (berrou), tocou guitarra e programou as baterias, sendo uma amostra desse recurso tecnológico aplicado aos sons pesados (até então associado mais ao rap, pop e música eletrônica).
"Jordan, Minnesota" já começa intensa, não somente por seu ritmo frenético, mas principalmente por sua letra perturbadora que envolve pedofilia. Essa é apenas uma das atrocidades expostas ao longo do disco.
Os harmônicos ruidosos de "Passing Complexion" são estranhos o suficientes para sequer parecer uma guitarra (embora seja). Já o timbre metálico de baixo é de ferocidade impressionante.
Muito mais direta, "Big Black" é uma mutação punk cibernética.
"Kerosene" é daquelas faixas perigosas se escutadas por um louco entediado. Como só poderia ser, a faixa cresce em meio a timbres faiscantes. O calor sobe gradativamente.
Diante de tamanho inferno sonoro (principalmente interpretativo), é fácil entender que "Fists Of Love" fala sobre estupro. Seu instrumental tem camadas/texturas ruidosas, secas e cortantes.
Sempre que ouço a introdução de "Stinking Drunk" penso na bateria inicial de "Smells Like Teen Spirit". Isso posto, aqui a canção evolui com personalidade. O riff é muito legal. Tem muita energia na performance. Isso sem mencionar seu anti-solo, uma ruidera medonha (no bom sentido).
A impassível "Bazooka Joe" é movida por uma perturbação lírica. Interessante como a voz aparece saturada e longe na mixagem. Acompanhado do ritmo e das guitarras, torna-se um metal industrial pronto e consolidado.
Com seu riff de baixo envolvente e coro de vozes, inicialmente "Strange Things" parece ser o mais próximo que eles chegaram de fazer o ouvinte cantar junto. Falsa impressão, visto que a faixa evoluiu em meios a vozes sobrepostas e manipulação de áudio típica de um dub do inferno com maconha mofada.
"Cables (Live)" fecha o disco revelando o poder de fogo da banda em cima do palco. Poucas guitarras soaram tão alto e gordurosas. É pra incomodar.
Lançado no mesmo ano em que o Bon Jovi chegava ao topo das paradas, o Big Black não faz concessões. Se o mundo é uma desgraça, esse disco não será uma fuga da realidade. Álbum estranhamente espetacular e influente.

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