sexta-feira, 29 de março de 2024

TEM QUE OUVIR: The Isley Brothers - 3 + 3 (1973)

Um dos grupos de maior sucesso na história é o The Isley Brothers. Sucesso esse representado pelo êxito comercial e artístico. Os Beatles regravaram "Twisted & Shout" por conta deles, o Ice Cube os sampleou… não é pouca coisa.

Surgido ainda na década 1950, enquanto um trio vocal - Ronald Isley, Rudolph Isley, O'Kelly Isley Jr. -, eles ajudaram a moldar o r&b, soul, funk, gospel e rock. Já na década de 1970, com dez álbuns e diversos singles na bagagem, somou-se ao trio original dois irmãos mais novos e um intruso - Ernie Isley, Marvin Isley e Chris Jasper -. 3 + 3 (1973), o primeiro lançamento do grupo pela Epic, inaugurou essa fase - o titulo do álbum faz referência a essa nova formação -, renovando a sonoridade, o público e colocando-os no centro da música norte-americana.


A capa do disco já revela o caráter de instrumentistas dos integrantes agregados. Numa época onde as gravadoras tinham bandas de apoio para produzir o instrumental de seus artistas - principalmente na soul music -, isso foi um enorme diferencial, que deu ainda mais autoridade e personalidade ao grupo.

Logo de cara em "That Lady", a guitarra chorosa e ácida do Marvin - embebida em fuzz e completamente influenciada pelo Jimi Hendrix -, aponta os rumos desta nova fase. Isso enquanto o gigante Ronald traz sua voz tão aveluda quanto aguda, de charme arrebatador. Um clássico.

É incrível a interseção do Isley Brothers com a música pop/folk/"branca" do James Taylor na versão de "Don't Let Me Be Lonely Tonight". Uma performance apaixonada, ressaltada por um arranjo/captação que dá espaço para cada instrumento. Soberbo. 

De ritmo pulsante, poderoso som de clavinet e refrão irresistível, "If You Where There" é uma aula de bom gosto pop.

Há uma magia solar em "You Walk Your Way", canção de excelente melodia, progressão de acordes inteligente, ótima linha de baixo (do Marvin) e com os tremendos arranjos vocais que tão bem caracterizaram o som do grupo no início.

O groove de "Listen To The Music" (sim, aquela mesmo orginalmente do Doobie Brothers) ganha aqui sua forma mais azeitada. Violão, bateria, clavinet, órgão... todos transbordam swing. 

O que o Ronald canta em "What It Comes Down To" (e justiça seja feita, seus irmão também no refrão) é uma loucura. Não por acaso a canção fez enorme sucesso.

Vale lembrar que o Robert Margouleff e o Malcolm Cecil, ao mesmo tempo que desenvolviam o trabalho com o Stevie Wonder, também compartilhavam seus dotes de engenharia de áudio e conhecimento de equipamentos eletrônicos com os Isley Brothers, vide o uso de sintetizadores por todo o disco, mas com destaque para "Sunshine (Go Away Today)". É uma cacetada soul.

Entre os principais hits do grupo está "Summer Breeze", originalmente gravada pelo Seals and Crofts, aqui uma elegante balada ao piano, acentuada por uma guitarra cortante (e com um solo épico ao final), mas acima de tudo, interpretada vocalmente com técnica, emoção e elegância. 

A capacidade composicional do grupo é colocada acimada de qualquer aprovação na derradeira "The Highways Of My Life", linda em texto, melodia e harmonia. Fora a performance matadora de piano e moog (Chris Jasper) e baixo (Marvin). 

Muitos grupos passaram por diferentes fases, mas acho que o Isley Brothers é dos raros casos em que a segunda se sobressaiu a primeira. A comprovação desta tese está aqui.

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