quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

ACHADOS DA SEMANA: Harry Belafonte, Loggins And Messina, Kim Carnes, Al Jarreau, Kenny Rogers, Lionel Richie, Huey Lewis, Cyndi Lauper, James Ingram e Tina Turner

Assistir o ótimo documentário A Noite Que Mudou o Pop me levou a procurar alguns cantores que participaram da gravação de “We Are The World”, mas que até então não tinha dado a devida atenção. Segue algumas constatações.

Harry Belafonte
Calypso (1956). Pelo que li, esse foi o primeiro LP a vender mais de 1 milhão de cópias. Se deixarmos nos levar pelo som é justificável, já que ele é solar, divertido, muito bem interpretado e contém a clássica “Banana Boat (Day-O)”. Todavia, chama atenção um artista negro, que traz enorme influência latina e africana em sua música, num país envolto a segregação racial, ter conquista este feito. Uma sugestão: ouçam com seus filhos.

Loggins And Messina
Loggins And Messina (1972). Conhecia o trabalho do Jim Messina pelo Buffalo Springfield e o Poco. Acho ele um guitarrista elegantíssimo, daqueles que parece não arriscar muito, mas que dá sempre a nota certa. Neste duo com o Kenny Loggins isso se acentua, visto que formato mais “soft” para o country rock. Disco redondinho e bem bacana.

Kim Carnes
Sailin’ (1976). Confesso que fui esperando uma caipirice country, mas encontrei um daqueles bons exemplos da música pop/soft americana da década de 1970. Embora a Kim Carnes seja uma excelente intérprete (com direito a certo drive/rouquidão na voz), o que mais gosto é como a mixagem respira, fluindo de acordo com a dinâmica dos arranjos. Adoro o som de bateria (que lembra aquele timbre tosco/orgânico presente em alguns discos da música brasileira deste mesmo período) e, principalmente, a ênfase dada ao baixo na mixagem. E merece, visto que as linhas do David Hood são soberbas (pulsantes, melódicas e brilhantemente discretas). Resumindo, esse disco é um exemplo claro do brilhantismo da Muscle Shoals Rhythm Section e dos produtores Jerry Wexler e Barry Beckett.

Al Jarreau
Minha geração nunca deu o devido valor ao Al Jarreau. Normal, só mais uma entre tantas ignorâncias. Para mudar essa interpretação, basta ouvir o espetacular Look To The Rainbow - Live In Europe (1977), uma das mais brilhantes performances vocais já captadas. Ele apresenta o carisma típico de um astro da canção popular americana, além de alma soul e capacidade de improviso (com direito a schat singing) digno de um cantor de jazz. Isso via sua voz aveludada, linda e de dicção e projeção sonora perfeita. Que cantor! “Take Five” ficou absurda. Ah, vale dizer que o baixista Abraham Laboriel está em sua compacta e excelente banda. Sem mais.

Kenny Rogers
The Gambler (1978). Isso aqui tem cheiro de EUA. E já sabia disso, talvez por isso adiei tanto para ouvir. Mas é bobagem, visto que ele tem uma tremenda voz. Entre os músicos da banda de apoio estão os guitarristas Reggie Young e Pete Drake. Se sua praia for country rock é prato cheio. Bem bom.

Lionel Richie
Lionel Richie (1982). Sua estreia solo. O tal disco que aparece no episódio de Friends. Acho um pop muito charmoso. Tem balanço, arranjos impecáveis e timbres sintetizados que envelheceram muito bem. Entre os envolvidos, Greg Phillinganes, Michael Lang, Michael Boddicker, Paul Jackson Jr., Paulinho da Costa e James Anthony Carmichael. Pop perfeito. Não é meme, é foda, escutem.

Huey Lewis and The News Album
Sports (1983). Tire toda a espontaneidade e criatividade da new wave e coloque doses do classic rock americano. É assim que me soou esse disco, que se por um lado não é ruim, também não me diz nada.

Cyndi Lauper
She’s So Unusual (1983). Disco emblemático de uma época, mas que não havia escutado até então. Conheço os hits, claro, mas as outras canções não chamaram minha atenção. Fora que a produção é muito datada. O mais legal para mim é a capa, que no meu imaginário a Cyndi estava segurando uma ES-335. Talvez fosse essa a intenção mesmo. Agora, uma reflexão que tive é: será que os discos da Olivia Rodrigo (só pra exemplificar uma artista contemporânea de alcance pop, que flerta com o rock e que gosto) vai envelhecer em irrelevância da mesma forma? É possível. E digo mais, sem um “Time After Time” no repertório.

James Ingram
It’s Your Night (1983). Aqui temos um exemplo de álbum altamente datado, mas que envelheceu bem. Alguns fatores levam a isso, mas o principal é que, embora os timbres sejam condizentes com a moda da época, as canções e arranjos não se baseiam exclusivamente nessas tendências. A base são melodias e harmonias bem desenvolvidas, ótimas interpretações vocais e um time de instrumentistas absurdo. Segue a lista de quem está envolvido no disco: Quincy Jones, Rod Temperton, Greg Phillinganes, Jimmy Smith, Ian Underwood, Michael McDonald, Steve Porcaro, Paul Jackson Jr., Larry Carlton, Louis Johnson, Abraham Laboriel, Nathan East, John Robinson, Paulinho da Costa, dentre outros. Absurdo. Tá justificada a elegância pop.

Tina Turner
Private Dancer (1984). Eu já sabia que esse disco tinha sido um enorme sucesso, tendo trazido a Tina para o holofote que não voltou a sair dela. Dito isso, nunca tinha escutado, muito por já saber da sonoridade oitentista pasteurizada. Ouvindo agora, isso se confirma. Tudo bem, os arranjos são redondos, a voz dela está boa… mas é muito som de tiazona. Fico com a Tina das décadas de 1960 e 1970. Dito isso, tem a participação do Jeff Beck em duas faixas (inclusive na hard farofenta “Steel Claw”) então vale ouvir. Agora, jurava que “The Best” era deste disco. Pra vocês verem minha ignorância.

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