terça-feira, 23 de janeiro de 2024

TEM QUE OUVIR: Turnstile - Glow On (2021)

O Turnstile surgiu na década de 2010 não transparecendo tanta confiança. Seus discos, apesar de ótimos, não recebiam críticas tão favoráveis. Possivelmente ninguém via com muita seriedade aqueles moleques tocando hardcore. Mas com o lançamento de Glow On (2021), terceiro disco do grupo, muito mais lapidado e criativo, o grupo virou um dos prediletos de uma geração sedenta por guitarras altas. A crítica se rendeu ao som do quinteto norte-americano.


Com produção do Mike Elizondo, o álbum reúne camadas sonoras que englobam - além do hardcore - o rock alternativo, indie rock, dream pop, metalcore, r&b, psicodelia, shoegaze e, com maior predominância, o pop punk, vertente que ressuscitou no período, tendo talvez esse álbum como principal expoente. Basicamente eles são o Weezer desta década.

O disco inicialmente chama atenção pela sua capa. Convenhamos, nuvens brancas num fundo rosa nada remetem a um disco de hardcore.

Arpejos fabulosos num sintetizador também não são muito hardcore, mas é assim que começa “MISTERY”, para na sequência receber um riff energético, ótima linha de baixo, refrão melodioso e solo de guitarra tortamente virtuoso. Excelente abertura.

Melhor ainda é o riff de “BLACKOUT”. A faixa se desenvolve em cima de detalhes rítmicos (alguns tocados, outros sequenciados) que engrandecem uma composição simples em estrutura. O refrão transmite emoção através dos berros do vocalista Brendan Yates.

A performance do baterista Daniel Fang em “DON’T PLAY é arrojada e vigorosa, com destaque para o uso do cowbell. Há quase um tempero latino no groove da canção. O riff volumoso e o solo de guitarra (com alavancadas, meio guitarrista shred ruim de thrash metal) é mais um elemento de destaque.

Inicialmente muito mais contida, “UNDERWATER BOI” é de uma beleza pop inesperada. A escolha dos acordes, sua dinâmica crescente, os efeitos de “vento borbulhante” em meio ao arranjo, a melodia do solo de guitarra e o refrão ganchudo fazem da faixa uma das mais especiais do grupo. Vale dizer que ela tem uma participação discreta da Julien Barker.

A intensidade de “HOLIDAY” volta a trazer um clima de euforia jovem ao disco. Guitarras, baixo e refrão altamente pegajosos.

Guardada as devidas proporções, “HUMANOID / SHAKE IT UP” soa como se o Bad Brains tivesse na formação o Wayne Coyne (ou seja, um hardcore psicodélico). A também curtinha “ENDLESS” é mais acessível e melódica, mas igualmente viciante em sua energia.

Por sua vez, “FLY AGAIN” me soa como o que seria uma nova composição do Jane’s Addiction. Ótimo refrão e guitarras.

As guitarras com chorus, o andamento lento e a voz reverberosa em “ALIEN LOVE CALL” chega a destoar do disco (e deste modo, dá variedade e dinâmica ao trabalho). De semelhante há a ênfase melódica, a produção etérea e o apelo emotivo da composição. Muito dessa singularidade se deve a participação do Blood Orange. Inclusive, o artista volta a aparecer em “LONELY DEZIRES”, faixa derradeira que bota o disco lá em cima após a breve, sintetizada e delirante vinheta “NO SURPRISE”.

O ritmo frenético e os timbres repletos de texturas em “WILD WRLD” trazem frescor ao hardcore. Por sua vez, “DANCE-OFF” tem muito rock alternativo, inclusive ao trazer palmas e cowbell no arranjo. O refrão tão explosivo quanto dançante também alimenta essa sensação. Destaque para seu estranho solo de guitarra e poderosa linha de baixo.

De groove solar - quase como um Vampire Weekend pós-pandemia -, “NEW HEART DESIGN” é mais uma faixa acessível que entusiasma qualquer um interessado no rock contemporâneo.

“T.L.C (Turnstile Love Connection)” é indiscutivelmente a faixa mais pesada, rápida e contagiante do disco. Seu refrão poderoso, seguido de berros de “boom! boom! boom!”, provoca uma adrenalina viciante. É ouvir e querer sair dando bicas no ar.

Um disco cheio de força interpretativa, cor, texturas, frescor e canções memoráveis. Um álbum de rock que é fruto do presente.

Juliano, com tantos álbuns clássicos, por que abordar no Tem Que Ouvir um disco que foi lançado há menos de 5 anos? Respondo: É que minha filha não para de ouvir e, como já o reconheço como um clássico, por que adiar o inevitável?

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