Em 2001 a banda já tinha feito certo barulho com um EP homônimo. Sabiamente, se afastaram dos holofotes para não eclodir. Sua estreia em disco, o fantástico Fever To Tell (2003), foi maturado e lançado no momento certo.
Instrumentalmente integrando pelos subestimados Brian Chase (bateria) e Nick Zinner (guitarra), além de produzido pelo Dave Sitek (posteriormente integrante do TV On The Radio), o disco, em termos de sonoridades, traz uma estrondosa mistura do indie em voga com sons garageiro, stoner e, até mesmo, uma atmosfera glam (beirando o sleaze). Vale dizer a mixagem é assinada pelo Alan Moulder.
Todavia, o centro do YYY é mesmo a Karen O, uma das principais personagens do rock do período. Isso se dá devido sua voz calorosa, carisma indiscutível e força estética. Sua imagem irradiante é transportada em forma de áudio neste disco.
Em "Rich" temos um sintetizador de melodia estranha servindo de caminho para abertura do disco. Mas logo surge a potência da base formada por bateria (que parece captada com um único microfone), guitarra parrudas (fazendo a vez do baixo com seu timbre grave e saturado) e o vocal esganiçado da Karen O.
Quem não sente vontade de chacoalhar os esqueletos com "Date With The Night" tem algum problema de juízo. A intensidade do riff e o alucinante chimbal são prato cheio pra levantar a pista. Seu refrão berrado, acompanhado de pauladas sônicas na cabeça, assustam o mais desavisado. Noise e dançante.
A performance em "Man" é acachapante. Cada acorde dissonante é respondido com raquetadas nos tambores e pratos. O órgão servindo de cama traz ainda mais a aura do garage rock sessentista.
Em "Tick" a Karen O transparece qualidade vocal sem nem ter material (letra) suficiente pra isso. São os gritinho (e berros), suspiros, grunhidos e divisões rítmicas excitadas que esquentam a canção.
A liberdade composicional do grupo faz com que canções como "Pin" e "Cold Light" fiquem entre o indie engraçadinho e o stoner rock. O timbre de guitarra ferve (fuzz e válvulas no limite). Um estrondo.
A sala do estúdio parece transpirar em "No No No". A Karen O parece usar a banda de escada pra crescer em tamanho. O final da faixa é um devaneio.
No final do disco, "Maps", o principal hit da banda, dona de charmoso videoclipe que passou com frequência na programação da MTV. A composição foi inspirada na relação da Karen O com o Angus Andrew (Liars). Daí vem sua irresistível doçura.
Temos tempo ainda para mais uma canção memorável, "Y Control", de leveza pop, ao mesmo tempo que de guitarras monolíticas. Dá pra imaginar o David Bowie entoando o refrão.
Vimos nessa semana o Yeah Yeah Yeahs desvalorizado por um novo público rockeiro. Nem mesmo os autoproclamados indies parecem lembrar da banda. Nada disso apaga o valor do grupo.
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