O The Undertones foi um dos primeiros nomes a despontar da Irlanda do Norte. Por lá, abraçaram um direcionamento menos sisudo e mais próximo a juventude comum norte-irlandesa, que queria beber, farrear, encontrar garotas(os) e ser notada. Mesmo quando adotava um tom rebelde, era mais pueril. Até na vestimenta não escondiam os suéteres. Sem problema, no punk é preciso ser autêntico e isso eles eram. Tanto que, para muitos, eles inventaram o pop punk (junto do Buzzcocks). Na época, nada mais que um tom mais melódico do punk rock 77's, com referências de power pop e do movimento mod (e, com isso, da música soul).
Esse espetacular disco de estreia - distribuído pela Sire Records -, foi lançado após o sucesso do single de "Teenage Kicks", uma das músicas predileta do John Peel, tendo sido inclusive tocada em seu funeral. Esse entusiasmo do lendário radialista desencadeou na gravação do álbum, mas curiosamente, a faixa não esteve presente na primeira versão do disco, falha corrigida pouco depois em novas prensagens. Canção simples e eficaz, que parece adequar ao período punk o que os Beatles faziam em sua origem.
Também não presente na primeira prensagem, "Get Over You" é um rock n' roll certeiro.
Mas é a energética "Family Entertainment" que abre o disco. É o perfeito embrião do pop punk. Esse direcionamento não é por acaso, é formal. Refrão memorável, bateria marcada no surdo e backing vocal cativante. Uma fórmula triunfante.
A limitação na dinâmica presente em "Girls Don't Like It" se contrapõe a excelência power pop composicional. Poderia ser uma faixa do Cheap Trick.
Curtinha e de riff/estrutura ramoniaco, "Male Model" entusiasma qualquer um que tenha apreço pelo rock. Já a quase bobinha "I Gotta Getta" surpreende os mais ávidos em fúria punk por seu tecladinho inocente. Por sua vez, "Wrong Way" parece angariar ambos elementos na composição.
"Jump Boys" é elevada via convicção interpretativa do Feargal Sharkey. Destaque também para o solo de guitarra e baixo em paralelo. Se for pensar bem, é uma canção tão básica quanto ambiciosa (dentro do punk rock).
Por mais que eu adore as guitarras de "Billy's Third", é em "Jimmy Jimmy" que o John O'Neill brilha, neste caso por seu faro melódico para construção de refrães memoráveis. Não por acaso a faixa foi um single de sucesso no período.
Tão irônica quanto solar, a curtinha "Here Comes The Summer" é o que aconteceria se o Beach Boys fosse uma banda punk.
No ano seguinte, o grupo ainda lançaria o espetacular Hypnotised, mas aí é assunto para um próximo "Tem Que Ouvir".
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