quinta-feira, 29 de junho de 2023

TEM QUE OUVIR: Janet Jackson - Rhythm Nation 1814 (1989)

No Brasil, a Janet Jackson sempre foi ofuscada pela enormidade do Michael Jackson e por "eventos polêmicos" de nenhuma importância. Todavia, não é nenhum absurdo dizer que ela foi tão fundamental quanto o irmão para o desenvolvimento da música pop. Em termos de ruptura sonora (e não necessariamente de "excelência"), talvez até mais. Rhythm Nation 1814 (1989) exemplifica isso através de sua influência e qualidade musical.


Com produção da dobradinha Jimmy Jam and Terry Lewis, o álbum parece dar continuidade a fusão musical de pop, r&b, funk, dance e rock que o Prince havia feito até então. Alguns timbres eletrônicos herdados do hip hop contribuem nessa amalgama, gerando um subgênero que ficou conhecido como new jack swing.

Logo de cara, a faixa "Rhythm Nation" revela a montagem épica e futurista, com direito a ritmo complexo e baixo pulsante (extraídos do Sly And The Family Stone). A força interpretativa de Janet traz luz e calor para a canção. Tremenda produção, sustentando uma canção de cunho político.

Construído com interlúdios, o disco ganha uma grandiloquência cinematográfica que não soa presunçosa, mas ambiciosa.

Chego a duvidar do caráter de quem não seja jogado pra trás diante "State Of The World". Esse synth bass saturado ao lado da voz doce da Janet soa espetacular. Isso sem mencionar o ganchudo refrão (e pré-refrão, de bonito caminho melódico/harmônico). Groove, peso e eficiência pop numa mesma faixa.

Fico impressionado com a energia rítmica de "The Knowlegde", que chega a remeter a música industrial, tamanha a intensidade dos timbres. Vidros quebrados, ruídos de natureza não identificado e uma variedade de sintetizadores são programados de forma dançante. Por sua vez, Janet utiliza do mesmo approach de somar linha de vozes, só que explorando a delicadeza interpretativa.

"Miss You Much"e, principalmente, "Love Will Never Do (Without You)" soam como o que o Michael Jackson gostaria de ter feito no período (com direito aos característico gritinhos), mas que passou longe. Por sua vez, "Escape" me remete a Madonna. Em comum, todas são excelentes faixas pop e fizeram enorme sucesso.

Não é difícil pensar num rapper rimando em cima do poderoso beat de "Alright", embora a melodia vocal de interpretação solar tenda a atenuar isso. O uso de sample e manipulação das vozes no final da canção aponta um caminho para o pop contemporâneo.

A produção do Jellybean Johnson no hit "Doja Cat" destoa ao trazer influência do hard rock do período, com direito a solo shred, posteriormente regravado na versão do clipe pelo Nuno Bettencourt (Extreme). Deste modo, confesso que não acho que a canção envelheceu tão bem, embora seja bem interpretada, de riff poderoso e tenha servido de influência para muito do que foi feito no crossover do pop com o rock. Christina Aguilera que o diga.

Diminuindo a adrenalina e invocando sentimento, as baladas finais ("Lonely", "Come Back To Me" e "Someday Is Tonight") exalam romantismo e sensualidade. Há dose extra de cafonagem? Sem dúvida. Porém, é tudo tão bem arranjado, harmonizado, interpretado (que voz!) e de sonoridade tão cristalina que é difícil falar mal. Composições irresistíveis que dão um tom intimo para o desfecho do álbum. 

Além das qualidades musicais, a enorme popularidade do disco é fator decisivo para coloca-lo entre os melhores discos da década de 1980, lançado no apagar das luzes. 

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