Para muitos Yellow Magic Orchestra não passa de uma obscuridade. E de certa forma é, estando mais próximo do hype cult. Todavia, isso não muda o fato o trio japonês formado pelo Haruomi Hosono, Yukihiro Takahashi e o gigante Ryuichi Sakamoto terem criado e moldado muito da sonoridade feita posteriormente.
Mais que dizer que eles são tão influentes quanto o Kraftwerk pra música eletrônica - ou ao menos perto disso -, é preciso reforçar que, o som alcançado no disco Solid State Survivor (1979), segundo álbum do trio, é tão instigante e desafiador quanto os trabalhos do prestigiado grupo alemão.
Forma a sonoridade do grupo a fusão do synthpop, disco music, j-pop, electro e música tradicional japonesa, retroalimentando as possibilidades dos gêneros.
Lembrando o trabalho do Giorgio Moroder, "Technopolis" faz com que uma melodia antepassada soe futurista. O groove disco/funky (tremendo synth bass!), as vozes robóticas, o clima enigmático... é uma faixa que de cara revela o caráter tão intrigante quanto carismático do trabalho.
O que é esse timbre de sintetizador em "Absolute Ego Dance"? A faixa parece trilha sonora de videogame. Composição e timbres repletos de humor, encobrindo sua complexidade formal. Reparem seu final, onde um beat sorrateiro se revela por trás do arranjo prevendo a música techno.
Já "Rydeen" tem tanto a estética dos jogos eletrônicos quanto de telejornais. Sua melodia traz uma aura de batalha e triunfo. Como sempre, vale se atentar aos timbres sintéticos pouco usuais pra época, embora vale dizer que a bateria soa bastante orgânica (sendo ou não, eu não sei).
A qualidade composicional do Sakamoto fala alto na belíssima "Castalia", onde os teclados criam um coro de vozes soturno. É uma faixa altamente climática, com muito da música ambient, new age e até mesmo erudita. Aposto que tanto o Vangelis quanto o Angelo Badalamenti beberam desta fonte.
Quer a prova definitiva da influência do YMO? Basta lembrarmos que o Michael Jackson fez uma versão para "Behind The Mask", a canção nitidamente mais pop do disco, remetendo até mesmo o trabalho do Daft Punk. Human League e Greg Phillinganes também regravaram a música.
A visão singular do grupo é mais uma vez exposta na versão nada habitual para "Day Tripper" (The Beatles). Seu ritmo mecânico é desconcertante. A interpretação vocal é tão anestesiada quanto carismática. Guitarra e baixo aparecem sem destoar da sonoridade sintética do restante do disco. Atenção ainda para seu final glitch.
A melodia oriental em junção aos timbres eletrônicos em "Insomnia" é uma quimera temporal. Faixa delirante.
"Solid State Survivor" fecha o disco com seu ritmo certeiro quase rockeiro. É o perfeito synthpop. Adoro seu final ruidoso.
Nos pouco mais de 30 minutos, esse trio japonês conseguiu criar uma narrativa singular que ainda hoje soa estimulante.
Nenhum comentário:
Postar um comentário