quinta-feira, 9 de março de 2023

TEM QUE OUVIR: GZA - Liquid Swords (1995)

De todos os discos lançados pelos membros do Wu-Tang, se eu tiver que recomendar algum para um iniciante ou desavisado, seria o Liquid Swords (1995) do GZA (The Genius), atrativo já desde a capa.

 

Embora seja o segundo álbum solo do rapper, esse é o primeiro pós-Wu-Tang e com a produção do RZA. Com isso, o flow elegante do GZA já está mais maduro e se soma a convidativas batidas, além de samples de funk, soul e artes marciais. Chiados de vinil e lâminas de espadas de samurai nunca combinaram tão bem.

Abrir o disco "Liquid Swords" é tiro certo. O refrão pegajoso, os acordes acentuados, o ritmo vibrante, a interpretação convicta... o êxito em forma de rap.

A sombria "Duel Of The Iron Mic" traz o embate para o ringue de MC's, com direito a ODB, Masta Killa e Inspectah Deck passando o microfone, cada um com sua personalidade gritante. 

A batida seca e o baixo sinistro em "Living In The World Today" dão sustentação para os versos fluidos do rapper. Aqui vale lembrar que o GZA é o membro mais velho do Wu-Tang e o menos deslumbrado pela fama, de forma que essas características são refletidas em seu estilo de rimar. 

A produção de "Gold" é espetacular, tanto na construção do beat quanto na escolha dos timbres. Ela é pesada, suja e larga, com direito a algo como um coro de vozes ao fundo.  

O single "Cold World" tem inúmeras qualidades, a começar pelo memorável refrão, que inclusive chegou a ser revisitado pelo D'Angelo. Seu baixo bate no peito enquanto algo parece gotejar em nosso crânio. Faixa poderosa.

Com RZA, Ghostface Killah e Killah Priest, "4th Chamber" é das faixas mais ferozes do álbum. Por cima de uma melodia "western-oriental" e timbres saturados, os rappers empilham versos ensanguentados. Pra ouvir suando frio.

Já no groove congelante de "Shadowboxin'" é o Method Man que surge meticulosamente, rimando sem dar margem para gracinhas.

A banca volta com Raekwon, Ghostface Killah e U-God em "Investigative Reports", que devo assumir me parecer um dos beats menos inspirados do RZA. Ao menos o flow do rappers não deixa a peteca cair.

Por sua vez, "Swordsman" tem uma atmosfera peculiar, parecendo um delírio em meio ao som reverberoso e "frouxo" da batida. Metais esganiçados sampleados somam em estranheza. Espetacular.

O cromatismo melódico de "I Gotcha Back" deixa o ouvinte ligado, flutuando nos versos com o temor de ser atingido a qualquer momento por uma balada perdida. Não tem escapatória, ao menos a pedrada é inevitável.

Denso e sombrio, Liquid Swords ganha pontos pela maturidade e consistência dos envolvidos. É uma sequência formidável de faixas pulsantes.

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