quarta-feira, 30 de junho de 2021

TEM QUE OUVIR: Legião Urbana - Dois (1986)

Legião Urbana é daqueles bandas "ame ou odeie". Sentimentos provocados em grande parte por seus fãs xiitas. Entretanto, é fácil reconhecer a importância dos dois primeiros álbuns do grupo. Se o debut traz a estética pós-punk para um recém popularizado rock nacional, o segundo tem um acabamento sonoro e composicional muito melhor resolvido. Dois (1986) é um clássico do tal BRock.

"Daniel Na Cova dos Leões" abre o disco com ecos de Smiths. Essa referência passa pela letra, guitarras (no solo ruidoso há aromas de Gang Of Four), linha de baixo, teclados e crueza rítmica. Seu refrão é poderoso, principalmente devido a inspirada melodia, além da voz do Renato Russo estar no auge da expressividade.

Embora nitidamente influenciado pelo pós-punk inglês, é legal notar um elemento folk com ar brasileiro na bonita "Quase Sem Querer". Embora não ache uma letra tão complexa para ficar se debruçando filosoficamente - já vi fazerem isso -, é inegável que ela se comunica muito bem com sua geração.

A voz grave e dark do Renato em "Acrilic On Canvas" é uma curiosa simbiose entre Ian Curtis e Jerry Adriani. Uma total contramão ao rock solar da Blitz e o humor do Ultraje À Rigor.

O super hit "Eduardo e Mônica" dispensa apresentação. É uma canção acústica de letra extensa, sem refrão e que ainda assim fez estrondoso sucesso, desgastando todas as qualidades da composição. Não dá mais para ouvir.

Dado Villa-Lobos, sempre acusado de ser um guitarrista fraquíssimo, entrega em "Tempo Perdido" uma das melhores guitarras do rock nacional do período. Se fosse o Johnny Marr seria valorizado. Como um todo é uma bela canção, cheia de desilusões que fizeram dela um hino da época.

A energia punk rock, tão associada ao grupo em sua origem ainda em Brasília, fica explicita em "Metrópole". Mesmo a estranha "Plantas Embaixo do Aquário" tem essa mesma estética. Por sua vez, o lado trovador solitário do Renato dá as caras em "Música Urbana 2".

As longas "Andrea Dória" e "Fábrica", por melhores que sejam, se perdem nos delírios criativos e emotivos do Renato. Ao contrário de "Índios", faixa que encerra o álbum com uma das letras e interpretações mais fortes do cantor.

Acredito que o som da banda ficou posteriormente muito presunçoso, sendo que a qualidade dos integrantes não correspondia a onde eles pretendiam chegar. Todavia, vale relembrar o Dois com atenção e coração aberto.

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