quarta-feira, 2 de junho de 2021

TEM QUE OUVIR: John Lennon - John Lennon/Plastic Ono Band (1970)

O processo de separação dos Beatles foi um tanto quanto traumático para o John Lennon, o que acentuou conflitos internos não somente de seu passado recente, mas de quando era uma criança. Tudo isso foi retratado em John Lennon/Plastic One Band (1970), um dos álbuns mais confessionais de todos os tempos.

Após trabalhos experimentais de qualidade duvidosa ao lado da Yoko, esse é o primeiro disco solo do Lennon formado por canções. Para isso ele voltou para Inglaterra e se isolou consigo mesmo, chamando para acompanhá-lo apenas o Klauss Voormann (baixo) e um tal de Ringo Starr (bateria). As guitarras e pianos são do próprio Lennon. Essa instrumentação enxuta, captada de forma tão majestosa quanto crua, ressalta ainda mais a força das composições.


Com uma letra direta ao ponto, "Mother" soa dilacerante. Ele discorre sobre a falta de sua mãe (que morreu quando ele ainda era uma criança) e o abandono do seu pai. Na época o artista havia conhecido a terapia primal, que consistia em externar traumas reprimidos através de berros, sendo que ele colou em prática a técnica no final da canção. Beira o assustador.

O clima não melhora em "Hold On". Apesar da linda melodia, da apaixonante guitarra com trêmulo e da singela interpretação, a letra é mais um momento de tristeza falsamente superada. Balada espetacular!

A crueza sonora de "I Found Out" faz da performance do trio a mais rockeira no álbum. A execução de todos é acachapante. Na letra, Lennon renuncia a tudo que foi apontado como salvação para humanidade, fosse as drogas, Krishna ou Jesus Cristo. Essa atitude é ressaltada de forma ainda mais explicita em "God", onde ele bota até Hitler e os Beatles no balaio. A cultura nos anos 60 é mais uma vez aniquilada. 

Lennon encarna Dylan na espetacular "Working Class Hero", onde ele consegue com apenas voz e violão soar revolucionário. Fora que a melodia é espetacular.

Ao piano, "Isolation" é daquelas canções arrebatadoras. Adoro os vocais dobrados no refrão, a condução harmônica e bateria minimalista do Ringo. Tudo parece flutuar no ar.

A voz distante em "Remember" é uma transposição da letra para a mixagem. Já em "Love", o microfone parece captar o som do piano à quilômetros de distância da fonte. Nada disso é por acaso, visto que a produção do álbum ficou a cargo do não menos lendário Phil Spector.

Com berros animalescos, guitarras saturadíssimas, clima de jam, baixo pulsante e uma bateria de sonoridade estragada, "Well Well Well" expõe o maior nome do rock daquela época imerso na essência do gênero.

A derradeira "My Mummy's Dead" vem para pôr uma tampa no caixão das dores. Ou ao menos tentar. Tal vulnerabilidade deste disco levou a música pop à um novo patamar de composição.

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