A soul music é um dos maiores fenômenos musicais do Brasil. Isso desde a década de 1970, quando ocorreu uma ebulição criativa do gênero através de nomes como Gerson King Combo, Tony Tornado, Banda Black Rio, Hyldon e, obviamente, Tim Maia, sendo que esse último colocou sob holofotes um compositor explendido: Cassiano.
Nascido na Paraíba, Cassiano veio ainda jovem para o Rio de Janeiro, onde teve contato com o samba jazz, bossa nova e a soul music. Fundou o grupo Os Diagonais, onde chegou a registrar um disco. Conheceu Tim Maia, que gravou em seu clássico álbum de estreia quatro composições do Cassiano: "Primavera", "Eu Amo Você", "Você Fingiu" e "Padre Cícero". Com essa exposição, conseguiu contratos com gravadoras que permitiu produzir trabalhos próprios, sendo o terceiro deles, Cuban Soul (1976), um clássico da música negra brasileira.
"Hoje É Natal" abre o álbum num tom melancólico, colocando sua voz delicada em meio a um arranjo orquestrado explendido. A melodia, o coro de vozes, a linha de baixo... tudo é um espetáculo. Bate na alma.
Esse tom melodioso segue na linda "Coleção", um sucesso comercial incrível, de letra amorosa e interpretação emotiva. Vale destacar novamente o arranjo de cordas, assim como a linha de baixo do Paulo César Barros (PCB). Posteriormente a música foi regravada pela Banda Eva (ainda na época da Ivete Sangalo).
O perfil dramático das melodias, exemplificado na introdução de "Ana Luiza" via um belo solo de sax, influenciou muito o pagode romântico dos anos 1990. Isso, somado ao tom reverencial que os integrantes dos Racionais MC's sempre demonstraram com Cassiano, revela o alcance que o artista teve entre a camada social mais popular da sociedade.
Do trompetista de jazz Freddie Hubbard ao astro contemporâneo Anderson .Paak, não teve quem não se contaminou pelo groove contagiante de "Onda".
O astral elevado continua na pulsante "Central do Brasil", com direito a baixo encorpado, groove à la Stevie Wonder e ritmo dançante. Adoro a captação orgânica e calorosa da faixa.
É incrível a destreza instrumental esbanjada em "Saia Dessa Fossa", uma composição divertida, repleta de detalhes no arranjo.
Em "De Bar Em Bar", talvez pelo arranjo de metais e o balanço mais pop, é impossível não pensar na disco music que ainda chegaria ao Brasil. Isso, claro, com uma excelência musical acima de qualquer suspeita.
A interpretação vocal do Cassiano volta a saltar aos ouvidos na balada romântica "Salve Essa Flor". Atenção para o refinamento harmônico e melódico do artista.
Fechando o disco, o super hit "A Lua e Eu", uma das grandes canções do pop brasileiro, dona de absurda sensibilidade composicional e interpretativa. Fora qur o arranho é de chorar.
A música negra e verdadeiramente popular brasileira, não restrita a soul music, deve muito a esse astro recluso de genialidade transbordante.
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