Naquela onda de singer-songwriters que tomou conta da cena musical no início da década de 1970, Randy Newman foi muito mais reconhecido por suas composições que pela interpretação. Não por acaso ele posteriormente foi trabalhar na indústria do cinema - como esquecer suas composições para Vida de Inseto e Toy Story? -. Entretanto, seu talento enorme - alimentado por ótimos instrumentistas, arranjadores e técnicos de áudio -, gerou o não menos que soberbo álbum Sail Away (1972).
A abertura com a homônima "Sail Away" é de melodia lindíssima e arranjo cinematográfico tão majestoso que é até difícil de vê-la como uma canção politizada. Mas ela ganha pontos ao abordar de maneira não panfletária o tráfico de escravos cometido pelos EUA.
Com tremendo arranjo de metais (com direito a trombones pulsantes), banjo e piano, "Lonely At The Top" traz um divertido clima vaudeville.
Calcada numa estrutura gospel, mas com elegante arranjo de cordas, a curtinha "He Gives Us All His Love" é de grande beleza. Atenção para interpretação pausada, contida e perfeita do Randy Newman.
Não sei quem gravou a ótima linha de baixo de "Last Night I Had A Dream" (provavelmente o Chris Ethridge), mas a ótima guitarra slide não deixa esconder as mãos do Ry Cooder. Eis uma tremenda balada rockeira ao piano.
Em "Simon Smith And The Amazing Dancing Bear", mesmo não tendo grande capacidade técnica vocal, Randy soa como um crooner. Já seu piano tem muito de ragtime. Ambos os elementos trazem vida para a composição.
"Old Man" é mais uma perfeição musical, parecendo abraçar o ouvinte, ainda mais diante de uma gravação tão cristalina.
A irônica "Political Science" é uma forma ácida e inteligente de fazer uma crítica política. Frank Zappa invejaria, Martin Scorsese usaria num filme. É demais!
É impressionante como o arrojado arranjo de "Burn On" não tira a doçura e, até mesmo, o carisma quase circense da canção.
Mais uma vez calcada no piano, "Dayton, Ohio - 1903" é mais uma amostra da excelência melódica do compositor.
Posteriormente um sucesso via a voz de Joe Cocker, "You Can Leave Yout Hat On" já soava aqui sexualmente convidativa. Na verdade, até mais, visto que sua gravação é mais orgânica e quente.
O desfecho via "God's Song (That's Why I Love Mankind)" é dramático e denso, deixando uma pulga atrás da orelha.
Disco belíssimo.
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