terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

TEM QUE OUVIR: Moacir Santos - Coisas (1965)

Não é exagero dizer que o Moacir Santos é o maior músico brasileiro da história. Seu trabalho, embora muito menos conhecido, pode ser equiparado ao de Villa-Lobos, Pixinguinha, Tom Jobim, dentre outros craques que formam um time de imensurável talento e prestígio musical. 

Nascido no Pernambuco, Moacir atuou enquanto arranjador, compositor e maestro. Era um verdadeiro multi-instrumentista, dominando com categoria o saxofone, piano, violão, trompete, clarinete, bateria, dentre outros instrumentos. Além disso, foi professor de nomes como Baden Powell, Paulo Moura, João Donato, Nara Leão, Roberto Menescal e Sérgio Mendes. Entre seus parceiros estava o Vinícius de Moraes. Isso tudo sem mencionar seus admirados confessos, vide Milton Nascimento, Gilberto Gil, Djavan, João Bosco, Letieres Leite, Mario Adnet e Ed Motta. Diante disso, motivos não faltam para conhecer seu trabalho, com destaque para o cultuado álbum Coisas (1965), eleitos pela revista Rolling Stone o 23º melhor disco brasileiro de todos os tempos.

"Coisa Nº 4" abre a bolacha trazendo um colorido de metais por cima de um ritmo de herança africana. Adoro a linha de baixo feita por um trombone, servindo de riff para a composição.

Calcada na bossa nova (ou mesmo no samba jazz), "Coisa Nº 10" é de balanço e clima não menos que solar. Ótimo groove de bateria, tema majestoso e grande performance ao piano.

O quase hit "Coisa Nº 5" é um tema cheio de tensão, muito por conta do riquíssimo arranjo que cresce em meio aos metais e percussões. Seu ritmo traz elementos de música de marcha, valsa e procissão. Já a melodia é lúdica, remetendo a trilha de desenho animado, principalmente quando a composição cai num 3/4. Impressionante a riqueza e variedade de momentos dentro de uma faixa de menos de 3 minutos.

O jazz poucas vezes soou neste período tão brasileiro quanto em "Coisa Nº 3", uma faixa pianistica guiada pelo ritmo do coco. Há talvez por isso certo elemento cênico na composição.

Piano, vibrafone, bateria, guitarra, flauta, sax e trombone se encontram com graciosidade em "Coisa Nº 2" formando uma amálgama jazzistica. Nunca se atingiu a sonoridade grandiosa de uma big band com tão "pouco".

Há algo cinematográfico em "Coisa Nº 9", quase como uma seresta jazzistica sob a luz do luar.

O maracatu é visitado na deslumbrante "Coisa Nº 6", com direito há alguns dos melhores solos (todos bem curtinhos) do álbum. 

Já em "Coisa Nº 7", o genial Wilson das Neves traz o ritmo do samba em sua bateria primorosa. O solo virtuoso de piano beira o absurdo.

Adoro os timbres graves de "Coisa Nº 1", faixa de enorme balanço e arranjo bastante singular. Atenção para o violão bossa nova. A maneira com que a composição se desenvolve é de grande sabedoria.

Regina Werneck colabora na derradeira "Coisa Nº 8", faixa com ótimos solos de guitarra e de trompete com surdina, além de percussões misteriosas. Belo encerramento.

O desenvolvimento progressivo das composições e a qualidade da captação/arranjo faz deste disco um ponto de luz a se guiar. Uma pérola já lapidada da música brasileira.

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