quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

TEM QUE OUVIR: Beth Orton - Central Reservation (1999)

Alguém atento a música do momento, mas desligado do que ocorreu há 20 anos, pode ter uma grata surpresa ao ouvir o álbum Central Reservation (1999), segundo trabalho da Beth Orton. É que ele traz diversos elementos que apareceram recentemente nos aclamados discos da Laura Marling, Adrianne Lenker, Phoebe Bridgers, Kacey Musgraves e até mesmo da Taylor Swift. A diferença é que esse repertório já passou no teste do tempo.

Embora com excelentes guitarras do Ben Harper, é a voz de leveza pop da Beth em "Stolen Car" que dita o ritmo palatável da canção. O refrão é altamente radiofônico e memorável. Não por acaso foi um sucesso na Inglaterra.

Num aconchegante 3/4, com belo arranjo de cordas e piano do lendário Dr. John, "Sweetest Decline" reafirma a doçura interpretativa da artista. A influência da Joni Mitchell é explícita.

A produção de "So Much More" é não menos que chique. Contribuindo para isso está como a canção reverbera no ambiente, o fraseado jazzistico ao piano e até mesmo alguns detalhes abstratos/etéreos no arranjo.

A longa "Pass In Time" é não menos que emotiva, tanto pela letra que aborda a perda da mãe, quanto pela interpretação vocal aparentemente frágil. Na canção há backing vocals do Terry Callier, violinos e um profundo baixo acústico. 

O improvável flerte do folk com a música eletrônica, hoje comumente conhecido como folktronica, se faz valer em "Stars All Seem To Weep". É uma faixa vagarosa e pop, guiada por um beat irresistível e ótimo motivo melódico sintetizado. As mãos do Ben Watt (Everything But The Girl) estão presentes na produção.

Ben Harper volta a dar as caras em "Love Like Laughter", canção de certa ironia lírica. Já na dobradinha "Blood Red River" e "Devil Song" vale destacar a presença do Ted Barnes, o grande responsável pelo calor acústico/orgânico/folk não somente destas faixas, mas de todo o disco.

Destaca-se ainda "Couldn't Cause Me Harm", que soa como adaptação "acústica" e "solar" do trip hop; a voz catedrática e acessível em "Feel To Believe"; e a versão final de "Central Reservation", com um ar noturno que parece destoar do resto do disco, mas que soa como uma proposta interessante de produção (mais uma vez mérito do Ben Watt).

Transitando entre o indie, folk, pop e eletrônica, Central Reservation ainda reverbera entre outros artistas e faz sentido para um público que até então não o conhece.

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