domingo, 22 de novembro de 2020

TEM QUE OUVIR: Foo Fighters - Wasting Light (2011)

É comum, ao menos entre aqueles que pesquisam música com maior devoção, compreender com naturalidade o distanciamento do rock da cultura popular jovem. Paralelo a isso, é possível apontar diversos artistas/grupos que no cenário alternativo continuam trazendo relevância estética ao gênero. Entretanto, esse balanço natural precisa de suas exceções para confirmar a regra. O Foo Fighters talvez seja a principal.

Trazendo na liderança um personagem carismático, com antecedente que lhe garante prestígio e um talento nato paro compor hits com a cara do rock de arena geração 2010's, faltava ao grupo um disco sólido para consolidar a banda no primeiro escalão do rock, visto que desde o The Colour And The Shape (1997), a banda do Dave Grohl patinou com álbuns medianos, embora de singles certeiros. Wasting Light (2011) cumpriu essa missão com excelência.

Em tempos de produção pasteurizada e artificial, o quinteto com três guitarras na formação (coisa rara) se reuniu na garagem do Dave Grohl, com um periféricos analógicos e o produtor Butch Vig (que não trabalhava com Dave desde o Nevermind) para conceber um álbum mais orgânico, volumoso e visceral. É uma mentalidade meio "dad rock", mas que quando bem feita pode render bons frutos. É esse o caso.

Essa crueza se revela logo nas primeiras notas de "Bridge Burning", faixa de riffs e berros tão virulentos quanto palatáveis. Os versos crescem conforme a canção evolui, desaguando num ótimo refrão. É interessante notar a versatilidade interpretativa do Dave Grohl nesta música.

A ótima cozinha formada por Taylor Hawkins (bateria) e Nate Mendel (baixo) brilha em "Rope", canção com groove certeiro, acentuações rítmicas bem desenvolvidas e belas dobras vocais. Há ainda um intenso solo de guitarra.

A qualidade do Dave para compor canções de perfil pop se acentua em "Dear Rosemary". Entretanto, diferente do que o grupo já fez no passado, ela soa melódica e acessível sem perder a potência sonora. Atenção para a participação do Bob Mould nos backing vocals.

"White Limo" é bastante agressiva para os padrões do rock mainstream contemporâneo. Há timbres saturadíssimos e urgência na execução. Por sua vez, a sequência com "Arlandria" é muito mais radiofônica, dona de versos delicados (e até mesmo confessional) e refrão altamente fixante. A música é perfeita para grandes festivais.

Mais um momento arrebatador se dá em "These Days", faixa que tão bem combina silêncio e explosão, só que diferente do Nirvana, com perfil ainda mais pop. Tremendo refrão.

"Back & Forth", "A Matter Of Time" (belo balanço de guitarras ríspidas com linda melodia vocal) e "Miss The Misery" são das poucas canções que ousam na estrutura e, também por isso, são dos momentos mais interessantes do disco numa revisão.

A linda "I Should Have Known", com participação do Krist Novoselic no baixo e inclusão de mellotron, acordeon e violoncelo no arranjo, é dos momentos mais pessoais do Dave Grohl enquanto letrista e interprete. Impossível não pensar no suicídio do Kurt Cobain ao escutar a canção.

O single "Walk" fecha o disco com astral elevado, apesar das entrelinhas. O refrão (e pré-refrão) são altamente contagiantes. Entretanto, Dave canta o verso "I never wanna die" com tanta fúria que parece novamente uma extensão do sentimento que carrega desde a morte do Kurt.

Com um punhado de canções fortes (tanto na intensidade dos timbres, execução e entrega emocional, quanto no fator "memorável/comercial"), Wasting Light atingiu em cheio uma geração que gosta mais de Foo Fighters que Nirvana. Sinal dos tempos. Mérito todo do Dave Grohl.

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