domingo, 4 de outubro de 2020

TEM QUE OUVIR: Taylor Swift - 1989 (2014)

Já assumi diversas vezes que a Taylor Swift é um dos meus guilty pleasures. E convenhamos, é um "gosto duvidoso" bem fácil de se ter. Ela é linda, carismática, canta bem, comercialmente muito bem sucedida e até mesmo premiada pela crítica, vide por exemplo seus Grammys, inclusive o de melhor disco do ano, sendo um deles justamente por 1989 (2014), a consolidação da artista como estrela pop.

A cantora é desde muito jovem uma típica "namoradinha da América", dona de canções nada ameaçadoras calcadas na mais diluída country music. Todavia, no álbum Red (2012), ela deu uma guinada para um som mais universal, pop e jovem, sendo 1989 o amadurecimento desta estética. A abertura do álbum com "Welcome To New York", fortemente calcada no synthpop, entrega esse direcionamento mais cosmopolita.

Diferente de outras divas pop desta geração, que trazem em sua imagem um forte engajamento social - Beyoncé no caso do racismo, Rihanna com o feminismo, Lady Gaga com a homofobia -, tanto a obra artística quanto a postura da Taylor é muito mais "banal". É o perfeito pop rasteiro que prefere desabafar os dilemas pessoais do que refletir os problemas do mundo. É o pop confessional no auge dos hormônios juvenis.

Assinando a produção e a coautoria da maior parte das composições está o sueco Max Martin, estrela anônima do pop, dono de inúmeros hits que ficaram no primeiro lugar das paradas. Por mais questionável que seja sua fórmula de produção, é indiscutível que ele sabe criar poderosos ganchos melódicos e beats envolventes. Ele entende o que os adolescentes querem ouvir.

"Blank Space" é um grande exemplo do potencial pop do disco. No clipe Taylor aparece tão histérica quanto charmosa. O mesmo vale para sua interpretação vocal. A produção pulsante aposta em timbres mais sintéticos, com direito a um baixo grave/dark no refrão. A melodia, as dobras de vozes, a produção reverberosa e a dramaticidade da Taylor são altamente pegajosas.

É explicita a referência oitentista em "Style", sendo que há até mesmo um balanço disco que o Daft Punk adora explorar. O refrão é o mais puro pop rock MTVesco 00's.

"Out Of The Woods" é dos momentos mais inspirados da Taylor. O refrão é muito cativante. Vale notar como timbres oitentistas aplicados numa mixagem contemporânea soam estrondosos. Gosto muito da mixagem. Muitos desses méritos se deve as mãos do Jack Antonoff na gravação.

É possível entender faixas como "All You Had To Do Was Stay" e "How You Get The Girl" (ótimos timbres e levada) como bubblegum pop dos mais bobinhos, mas que funcionam dentro do todo.

Falando em bobeira, o que dizer do super hit "Shake It Off"? De cara uma batida bem legal, com um timbre de bateria orgânico que parece se espalhar pela sala de gravação. Dá até para ouvir o som da pele frouxa reverberando. Todavia, dado como as coisas são, pode ser tudo mentira (a tecnologia no áudio também está aí para enganar o ouvinte). E o que dizer desse timbre de "sax esganiçado"? Acho bem legal! A letra é bestinha, mas a maneira solar com que a Taylor canta deixa a música bem divertida. Pensando tecnicamente, observe as dobras vocais e a interpretação cheia de detalhes.

"I Wish You Would" é dona daquele bpm de EDM padrão dá música pop atual. A canção deságua num refrão bem legal. O "flow" lembra um pouco as músicas das Haim (amigas de Taylor, interação possível). Boa produção, altamente sintética (no bom sentido). Novamente há colaboração do Antonoff.

Outro grande hit do álbum é "Bad Blood", de produção tão simples quanto intoxicante, pré-refrão poderoso e refrão potente. Seria mais que o suficiente, mas tem mais! Há uma versão com participação do Kendrick Lamar, o que sem dúvida agrega valor a obra.

Pode parece absurdo, mas existe algo de "U2 encontra Lana Del Rey" (!?!) no clima das produções de "Wildest Dreams" e "This Love", gerando algo atmosférico, sexy e belo.

A construção de "I Know Places" revela um certo requinte composicional. Por sua vez, "Clean" fecha o álbum de maneira surpreendente, com timbres cristalinos e densos. Belo arranjo e interpretação vocal.

Pessoalmente, vale dizer que nem só de Frank Zappa vive o homem. As vezes a gente é pego por produtos de menor valor que são tão eficientes que é besteira negar ou fugir. A música tem esse poder. No caso da Taylor, o enorme sucesso revela que seu carisma não atingiu somente a mim.

3 comentários:

  1. Para meu gosto, a Taylor Swift era muito melhor em seus discos anteriores em que ela fazia aquelas músicas e clipes "ingênuos e bem comportados" ao estilo country. Já em 1989 ela radicalizou e se tornou mais apelativa e provocadora. Parece que aquela imagem inocente dos tempos de canções como "You Belong With Me" e "Love Story" infelizmente ficou para trás... É uma pena mesmo!

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    1. Curiosamente eu acho que essa "radicalização" apelativa e provocadora veio com o Reputation, que penso ser bastante irregular. Embora ela tenha aberto mão da sonoridade country e perdido muito da imagem inocente, acho tanto o Red como, principalmente, o 1989, musicalmente bem mais eficientes do que ela tinha feito até então. É pop na medida.

      Mas é questão de gosto mesmo.

      Abraço.

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    2. Tudo bem, chefe... Para mim os anos de glória da Taylor foram mesmo os anos "country". Mas cada um tem suas preferências mesmo. Abração para você também!

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