Me sinto um impostor ao incluir um disco do Ghost na minha "coluna" de "clássicos" aqui do blog. Isso porque eu fui incisivo ao criticar o grupo quando ele surgiu. Eu não conseguia ver a maravilha que alguns enxergaram no Opus Eponymous (2010), álbum de estreia da banda. Ainda hoje considero tanto as composições quanto a produção do disco bem fracas. Mas se já no segundo álbum houve uma melhora, no terceiro, Meliora (2015), os suecos demonstram que tinham muito a oferecer.
O que sempre achei legal no Ghost é sua estética. Gostava do nome, logo, capas e, principalmente, da imagem dos integrantes em cima dos palcos, que trazia de volta aquela "fantasia" dos "personagens" tão bem desenvolvida no tal shock rock setentista, vide Alice Cooper e Kiss.
Entretanto, a mistura de Blue Öyster Cult com Mercyful Fate não me parecia bem sucedida musicalmente. Foi somente com o Meliora que senti que, no meio desse "teatro de terror", havia também um enorme êxito sonoro e, principalmente, um sagaz e divertido descompromisso ao abordar temas mórbidos, que nessa altura do heavy metal passaram a ser tratados com uma seriedade besta. O Ghost lembrou que o Diabo não precisa ser a antítese para os males do cristianismo, ele pode também simplesmente ser nosso amigo (risos com blasfêmia).
Logo na abertura do disco, o sintetizador catedrático e a melodia cinematograficamente mórbida da introdução de "Spirit" já encanta, mas é o desenvolver da faixa com interpretação dramática, coro de vozes num espetacular refrão, órgãos barrocos e solo de guitarras num arranjo de twin guitar que trazem ainda mais personalidade para o som do grupo. Tais características já eram muito exploradas dentro heavy metal, mas aqui são expostas com uma desenvoltura pop impressionante.
O baixo na introdução de "From The Pinnacle To The Pit" é musculoso, ao menos tempo que revela uma produção não necessariamente agressiva. É na verdade bastante palatável, ainda que sólida. A canção cresce devido o ótimo riff, melodia de guitarra atraente e arranjo bem resolvido, trazendo mais uma vez um coro de vozes num tom épico e dramático. Grande faixa!
Convido a todos que não gostaram da estreia da banda a ouvir com atenção "Cirice" e perceber a evolução composicional da banda. A música tem uma introdução cheia de suspense, riff grave, bateria monstruosa/monolítica, linda passagem de piano, solos de guitarra e teclados bem construídos e excelente melodia de voz cantada com paixão, inclusive no elegante refrão. Pontos para o Papa Emeritus III.
O lado mais "comercial" do Ghost é exposto com qualidade impressionante através de "He Is", dona de letra de "devoção maligna" engraçada, refrão extremamente ganchudo, arranjo soberbo e melodia maravilhosa.
Por outro lado, quem acusa o grupo de "ser metal" somente no conceito certamente não ouviu faixas como "Mummy Dust", que mistura riff de thrash metal com teclado setentistas e vozes sinistras bem legais. Há também um elemento "operístico" em sua metade final.
Há muito de Deep Purple em "Majesty", o que pode atrair os fãs mais ortodoxos de rock para o som do grupo. O resultado é bem bom, principalmente no refrão. Já a melodia de "Absolution" poderia perfeitamente ser cantada pelo King Diamond. A faixa tem riff poderoso e refrão radiofônico, que fixa na cabeça do ouvinte de imediato. Ótima composição.
Fechando o disco está a teatral "Deus In Absentia", faixa com qualidade tanto de hino religioso (vide seu final) quanto de rock de arena (vide seu refrão).
Com mais apelo comercial que qualquer outra banda de metal desta década, o Ghost reuniu em Meliora um repertório que justifica seu alcance. Uma obra exitosa não mais somente no conceito, mas principalmente na força das canções.
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