quarta-feira, 9 de outubro de 2019

A guitarra na música pop contemporânea

Assim como o rock, que de tempos em tempos é decretado morto - e consequentemente é "salvo" por alguma banda da vez -, a guitarra vive a mesma sina. O último a duvidar das possibilidades criativas do instrumento foi o Pete Townshend, que embora dispense apresentações, vale lembrar ser um senhor de 74 anos, logo, está defasado (se não artisticamente, mas enquanto alguém que pensa o futuro).

Diferente da bateria (que dita o ritmo/pulsação da música mainstream, independente do gênero) e do baixo (presente do country ao dubstep com destaque nas mixagens, seja ele orgânico ou sintetizado), a guitarra foi posta de lado na música popular atual. Harmonicamente, sintetizadores e violões atendem sua função. Já os solos de guitarra praticamente não existem mais. O fato de ser um instrumento tão atrelado ao rock e, consequentemente, o fato do rock ter perdido espaço entre a juventude, explica essa extinção. E de certo modo, até prefiro isso, já que poucas coisas são mais bestas que artistas do pop contemporâneo dando ênfase à guitarra para trazer uma "atitude rockeira".

Vale lembrar que a guitarra é um instrumento com mais de meio século. Sendo assim, é natural que transformações estejam escassas. Instrumentos mais antigos como o violino, piano ou saxofone também não sofrem mais tantas inovações.

Dito isso, listarei seis banda/artistas que continuam levantando a bandeira da guitarra com uma linguagem contemporânea. Ou seja, nada de ficar emulando porcamente o Led Zeppelin (ouviu, Greta Van Fleet!), mas sim trazendo personalidade e criatividade para o instrumento. Deixem nos comentários quem para vocês faz o mesmo. Privilegiem artistas que despontaram nos últimos dez anos.

St. Vincent
Falou de guitarra na segunda década do século XXI, tem que mencionar a St. Vincent. Adoro a ponte que ela faz entre o art rock e o pop. Seus timbres ultra saturados se aproximam do sintetizador, o que traz um frescor ao instrumento. Seu fraseado também é bem criativo.

Guthrie Govan
Figurinha já carimbada, Guthrie Govan é dos guitarristas tecnicamente mais fantásticos que conheço. Não sei o que ele não é capaz de tocar. Do virtuosismo divertido do Aristocrats aos momentos liricamente profundos com o Steven Wilson, o músico esbanja competência sem soar careta.

King Gizzard & The Lizard Wizard
Todos já sabem que o King Gizzard é das bandas de rock mais legais e criativas da atualidade. Isso se dá pela constante busca por novos sons, trafegando pelo garage rock, progressivo, rock psicodélico, jazz e, mais recentemente, até mesmo pelo blues e thrash metal (!!!). Em termos de guitarra, vale se atentar ao disco Flying Microtonal Banana (2017) que, como entrega no nome, faz uso de instrumentos microtonais. Eis como o rock pode apontar para o futuro trazendo ecos do passado.

Polyphia
Pensei em falar sobre o Tosin Abasi, mas como ele é sempre citado quando o assunto é a guitarra contemporânea, preferi destacar o Polyphia, grupo dos talentosos e novíssimos Timothy Henson e Scott LePage, que compartilham com o Tosin a mesma visão/linguagem complexa do instrumento. Ainda que produzindo math rock, eles não soam tão "quadrados" e sintéticos quanto outros grupos do estilo. A música deles tem uma fluidez mais natural. Vale reforçar que o disco New Levels New Devils (2018) traz a participação de outros dois nomes importantes para o cenário guitarristico atual, o shred Jason Richardson e a fantástica Yvette Young.

Julian Lage
Não, a guitarra jazz não está morta. O maior exemplo disso é o Julian Lage, guitarrista de conhecimento formal, mas que adora aplicar uma linguagem mais ácida no instrumento. Seu fraseado é ousado e encantador. Excelente improvisador. Vale destacar que ele já se meteu em parcerias com o John Zorn, Nels Cline, dentre outros.

black midi
Banda revelação de 2019. O debut Schlagenheim é um espetáculo e tem causado grande burburinho, tanto que eles se apresentam no palco do Mercury Prize. Atitude, criatividade e eficiência numa mistura de noise rock, progressivo, jazz rock e math rock. Se preparem para melodias angulares, ritmos quebrados, dissonâncias e timbres ferozes.

Mateus Asato
Para finalizar, um orgulho nacional. Mateus Asato tem como admiradores John 5 e o John Mayer. Ele fez das redes sociais um palco e hoje debulha ao lado da Jessie J nos maiores festivais do mundo. Seu fraseado é rico e bastante particular. Um jovem de personalidade que vem construindo uma carreira impressionante.

Muitos ainda merecem menção: Tosin Abasi, Yvette Young, Kaki King, Anthony Pirog, Daniel Bachman, Bombino, Rick Graham, Mary Halvorson, Kiko Dinucci, Mathew Stevens, Ty Segall, Pedro Martins, Cory Wong... não deixem de ouvi-los.

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