quarta-feira, 5 de setembro de 2018

TEM QUE OUVIR: Nick Cave & The Bad Seeds - The Boatman's Call (1997)

Nick Cave é um dos grandes cronistas do rock. Ele narra histórias como poucos. Mas em 1997 ele não estava disposto a terrores externos. Internamente sua alma se perdia, sendo sua produção um reflexo complexo de um homem de coração partido. Se o fim de um relacionamento com a PJ Harvey deixaria qualquer um atormentado, no caso do Nick ao menos aflorou um dos melhores álbuns de sua discografia, o lindo The Boatman's Call (1997).


Sendo as composições extremamente pessoais, os Bad Seeds se reservam o direito de fazer apenas a cama para Nick se dilacerar em baladas pianisticas. Os arranjos enxutos colaboram para narrativa do álbum.

A abertura com "Into My Arms" evidencia sua poética clara e profunda. A melodia é de uma beleza impressionante. Vale até orar para um Deus que ele sequer acredita e que logo depois é posto dúvida em "(Are You) The One That I've Been Waiting For".

A interpretação vocal dramática e o timbre grave atmosférico somado aos teclados fúnebres criam peças apaixonantes, vide "Lime Tree Arbour". A dolorosa valsa "People Ain't No Good" chega a ter força cinematográfica. Nos versos de "There Is A Kingdom" a tristeza de Nick relembra a clássica "Perfect Day" (Lou Reed), enquanto o seu refrão é luminoso.

É óbvio o caráter descritivo das faixas "West Country Girl" (de interpretação tão vigorosa quanto vulnerável), "Black Hair" e "Green Eyes", todas feitas para a PJ. Em "Where Do We Go Now But Nowhere" ele concentra toda a sua energia em lembranças dolorosas.

Um álbum romântico, trágico e sincero, que coloca Nick Cave como um dos principais compositores do seu tempo.

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