quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

TEM QUE OUVIR: Elvis Costello - My Aim Is True (1977)

"Os jornalistas musicais gostam do Elvis Costello porque eles se parecem com o Elvis Costello". Por mais que essa frase do David Lee Roth seja a primeira coisa que me vem a mente quando olho para a capa do álbum de estreia do Costello, quando o disco toca outros pontos falam mais alto.


Costello é um perito do rock. Filho de cantor, tem em seu DNA a música pop das girl groups e o rock inicial do Buddy Holly, do qual pegou até mesmo o visual. Todavia, viveu a ascensão do pub rock e do punk rock, sendo que no auge deste movimento, lançou esse disco que alia doçura composicional com crueza interpretativa, explicada tanto como um reflexo da cena em voga, quanto pelo baixo orçamento e poucas sessões de gravação.

Logo no início, a urgência da curtinha/preciosa "Welcome To The Working Week" já salta aos ouvidos. Seu ritmo é extremamente cativante, principalmente no empolgante refrão.

Na sequência há um clima pop-garageiro em "Miracle Man". Atenção para o bom trabalho de guitarras e o reverb na voz, que dá uma ambientação rústica à gravação. 

A divertida/sacana "No Dancing" tem excelente melodia e refrão poderosos. Isso sem mencionar o beat à la Ronettes, a interpretação vocal dramática e o coro de vozes. Soaria pastiche não fosse feito com tanta personalidade e conhecimento de causa.

Interessante o encontro do blues com a new wave na irresistível "Blame It On Cain". Por mais simples que seja, a banda se mostra bastante azeitada na execução.

Nunca um branquelo geek soou tão soul music quanto em "Alison", uma linda balada impecavelmente interpretada, tonando-se um dos principais hits do cantor. Adoro a progressão harmônica, a linha de baixo, a melodia, a guitarra "country-jazzy" respondendo ao canto... Uma pérola.

Falando em jazz, aquela vertente mais urbana e "primitiva" dá as caras em "Sneaky Feelins", faixa de carisma irradiante.

(The Angels Wanna Wear My) "Red Shoes" soa vibrante em sua simplicidade. Tem muito de power pop/jangle pop nela. 

"Less Than Zero" é a faixa que melhor representa a gravadora e produtor do disco: Stiff Records e Nick Lowe, respectivamente. Há algo de reggae à la Clash, mas feito antes da banda punk. Dizer que é o berço da sonoridade da 2 Tone também não é absurdo. 

Por sua vez, "Mystery Dance" é o revival do rock n' roll da década de 1950 antes mesmo de Cramps e Stray Cats. 

Posteriormente, Costello se envolveu em diversas parcerias, formou o Attractions e tornou-se um dos mais importantes compositores do rock inglês. Mas em nenhum outro momento ele soou tão espontâneo quanto aqui.

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