quarta-feira, 17 de agosto de 2016

TEM QUE OUVIR: Gang Starr - Step In The Arena (1991)

Fosse o Miles Davis ou A Tribe Called Quest, algo no começo da década de 1990 direcionou os ventos a favor da junção do jazz com o rap. Todavia, se teve quem reinou nessa fusão foi o Gang Starr.


Se no primeiro disco o grupo passou despercebido, em Step In The Arena (1991) o duo voltou as origens do hip hop para apresentar um trabalho que salta aos ouvidos. Duas pickups e um microfone, ferramentas básicas, mas que nas mãos certas transformam-se no que de melhor já foi produzido no estilo.

Letrista fenomenal, além de MC de flow fantástico, Guru dominava a palavra como poucos. Ao contrário do clima gangsta que estava em voga, ele voltou sua energia para a clássica abordagem contestadora do hip hop em detrimento da descartável temática de objetificação das mulheres e culto ao dinheiro. Seus textos são descritivos, retratando em enredos a dura vida urbana dos jovens negros americanos.

O lendário DJ Premier é um gênio da produção. Seu flerte com o jazz e soul é ultra criativo. É também visceral, com direito a beats pesados, scratches gritantes e samples que fogem do óbvio. Quem acha que DJ não é músico deve se atentar imediatamente ao trabalho desse criador inquieto. Não por acaso ele desenvolveu inúmeras parcerias importantes no decorrer da sua carreira, vide seu trabalho com o Nas.

O piano e a orquestração suja de "Name Tag" serve de apresentação do duo, enquanto "Step In The Arena" embarca o ouvinte via beat irresistível, com agudo ganchudo/persistente e baixo swingado. É espetacular ouvir viradas de bateria dialogando com scratches. 

Há um clima soul em "Form Of Intellect", vindo desde a levada de bateria, do baixo, da guitarra chorosa e dos metais. Todos inseridos com personalidade na montagem do Premier.

O beat de "Execution Of A Chamb" é daqueles pra jogar o ouvinte pra trás. O peso/dureza da batida é equilibrado por um groove insano de baixo, ruídos de difícil identificação e um piano de estranha melodia.

Gosto de enxergar "Who's Gonna Take The Weight?" como estando na linha evolutiva do funk. Por sua vez, vagarosa "Beyond Comprehension" combina com aconchego de um sofá e uma "bomba".

De grave poderoso, "Check The Technique" pode danificar falantes. Já a solar "Lovesick" tem potencial de levantar uma festa, colocando todos para dançar.

"Take a Rest", "Just To Get A Rep" e "The Meaning Of The Name" são mais alguns destaques onde a dupla esbanja qualidade e entrosamento.

Embora tenham uma carreira regular, com outros bons discos - inclusive em projetos individuais -, esse álbum evidencia toda a extensão e riqueza do grupo num momento ainda de desenvolvimento do gênero. O hip hop não seria o mesmo sem eles. Seminal. 

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