terça-feira, 25 de agosto de 2015

TEM QUE OUVIR: Cartola - Cartola II (1976)

Alguns sambistas da velha guarda são hoje lembrados com reverência. Cartola, com justiça, talvez seja o maior exemplo disso. Todavia, sua carreira demorou para decolar. 


Sendo um dos fundadores da Estação Primeira de Mangueira - Escola de Samba que ele canta amores em "Sala de Recepção" -, isso ainda na década de 1920, sumiu do radar da indústria musical e reapareceu somente na década de 1950. 

Seu talento foi marginalizado. Prova disso é que ele só foi conseguir lançar seu primeiro (e fundamental) disco em 1974, justamente pelo pequeno e importantíssimo selo Discos Marcus Pereira. O prestigio tardou, mas veio com força. Logo ele estava trabalhando em mais uma obra, agora com respaldo da crítica/artistas/gravadora. Nascia o clássico Cartola II (1976).

A serena foto da capa apresenta um compositor veterano de vida pacata. Já as composições não tratam de superficialidade, mas sim dos sentimentos de um homem no auge de sua sabedoria.

Diferente do que brota do morro para o asfalto nos tempos atuais - vide o funk carioca (e digo isso sem qualquer moralismo) -, é impressionante o grau de riqueza poética, sensibilidade melódica e sofisticação harmônica. Tudo isso ganhou ainda mais nitidez através dos arranjos do lendário Dino 7 Cordas.

A linda "O Mundo É Um Moinho" - com o violão de um ainda jovem Guinga -, abre o disco sendo uma lição de vida para a juventude em forma de melodia e poesia. A faixa fez sucesso e tornou-se um hino da música brasileira. O mesmo vale para a espetacular "As Rosas Não Falam", capaz de levar as lágrimas um ouvinte desavisado. Emocionante.

Outras canções de sua autoria abrilhantam o disco, vide "Cordas de Aço", "Peito Vazio" e a radiante "Não Posso Viver Sem Ela". O mesmo brilho trazem composições de outros autores, vide "Preciso Me Encontrar" (Candeia) - com direito à um inusitado e sofisticado fagote no arranjo -, e "Senhora Tentação" (Silas de Oliveira), ambas interpretadas singelamente pelo Cartola.

A Revista Rolling Stone Brasil elegeu o disco como 8º melhor da música brasileira. Nada mal para um álbum feito por um senhor de 66 anos.

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