quarta-feira, 5 de agosto de 2015

25 discos para entender o rap

Recentemente, selecionei para o blog Maria D'escrita alguns discos fundamentais para entender o rap. Era para ser 10, foi para 15, pulei para 20 e parei em 25. Nenhum absurdo para um estilo tão amplo e com mais de quatro décadas de existência. Isso porque eu ignorei o "proto-rap", ou seja, artistas/álbuns/músicas que influenciaram o hip hop, mas que não pertencem ao gênero. Exemplo? Escute "Say It Loud, I'm Black & I'm Proud" (James Brown) e "The Revolution Will Not Be Televised" (Gil Scott-Heron) e entenda onde eu quero chegar.

De qualquer modo, a lista ficou suficientemente abrangente. Se você se interessa minimamente por música e cultura pop, escute todos.


01: Grandmaster Flash And The Furious Five - The Message (1982)
O primeiro legitimo disco de hip hop. Da genial capa - representado as ruas do Bronx e a estética visual do movimento - até o último arranhão da agulha no vinil, The Message é um documento antropológico. O groove funkeado de canções como "She's Fresh" e "It's Nasty" cativa até mesmo quem não gosta de rap. Já a frenética "Scorpio" tem o peso e a batida direcionada para o miami bass do Afrika Bambaataa e o p-funk do George Clinton. Mas foi o discurso social de "The Message" que capturou os jovens/negros/pobres de Nova York para o hip hop. Sua letra interpretada no "canto falado" foi instantaneamente assimilada e deu voz a quem até então não tinha. Não por acaso a canção foi escolhida em 2012 pela revista Rolling Stone como a melhor música do hip hop de todos os tempos. O brilhantismo do Grandmaster enquanto DJ está representado na espetacular "The Adventures Of Grandmaster Flash On The Wheels Steel", onde ele faz uma salada musical com trechos de canções do Chic, Queen, Blondie, dentre outros, mixando tudo e aplicando magistralmente varias técnicas, dentre elas o scratch. Histórico!

02: Run-D.M.C. - Run-D.M.C (1984)
Oriundo do Queens (Nova York), o Run-D.M.C. representa a transição do estilo para uma abordagem ainda mais contestadora e agressiva, tanto no discurso quanto nas bases. Embora a produção fosse bastante crua, os ritmos diretos extraídos de bateria eletrônica são brutais. "Hard Times" talvez seja o maior destaque neste sentido. Jam Master Jay pilota as pickups, jogando na cara scratches primorosos, samples pontuais, além de explorar com sabedoria os sintetizados da época, vide o que acontece na faixa que leva seu nome, "Jam-Master Jay". O grupo trouxe também as guitarras do rock para a sonoridade do rap. "Rock Box" é o maior exemplo dessa abordagem. De forma de cantar feroz - com rimas sofisticadas, letras engajadas e entrosamento espantoso - a dupla formada por Rev Run e Darryl McDaniels DMC é impiedosa em "Hollis Crew" e "Sucker M.C.'s". Já "It's Like That" é um hino da primeira geração do hip hop.

03: Afrika Bambaataa And The Soul Sonic Force - Planet Rock - The Album (1986)
Assim como Grandmaster Flash e o DJ Kool Herc, Afrika Bambaataa é um dos alicerces do hip hop, não só devido seu trabalho social com a Zulu Nation, mas também graças a faixa "Planet Rock", lançada originalmente 1982. Todavia, esse disco lançado em 1986, que faz um apanhado dos singles de toda sua carreira até então, é o mais completo para entender sua influência não só para o rap, mas também para o miami bass, techno, house, dance music e até mesmo para o funk carioca. "Planet Rock" é o primeiro hino do hip hop. Seu groove é ultra dançante. Os timbres dos clássicos Roland TR-808 são ainda hoje interessantes. Já os samples retirados da obra do Kraftwerk mostra a grande percepção sonora do Bambaataa. É sensacional pensar que o rap surgiu como uma forma de conscientizar e entreter as classes mais pobres da sociedade via a música robótica alemã. Isso só poderia sair de uma mente inquietante como a do Afrika Bambaataa.

04: Public Enemy - It Takes A Nation of Million To Hold Us Back (1988)
Para produzir rap é necessário elevar o dom da comunicação a níveis estratosféricos, isso sem abrir mão do conteúdo revolucionário e do talento musical herdado da música negra. Poucos grupos fizeram isso com tanta propriedade quanto o Public Enemy. O líder/compositor Chuck D. é um letrista furioso, sendo que seus textos ganham ainda mais força quando recebem sua voz impiedosa, vide a nervosa "Black Steel In The Hour Of Chaos". Já o figurão Flavor Flav não limita sua peculiaridade a suas roupas, mas também ao seu esquizofrênico estilo de cantar, vide "Cold Lampin' Whith Flavor". Dentre tantas faixas emblemáticas, "Don't Believe The Hype" e "Bring The Noise" não podem passar despercebidas. São clássicos indiscutíveis e eternos do hip hop.

05: N.W.A. - Straight Outta Compton (1988)
A capa: seis negros com cara de poucos amigos, sendo que um deles aponta uma arma para a lente da câmera (ou se preferir, sua cabeça) e o selo da Parental Advisory (aquele mesmo promovido pela conservadora Tipper Gore, colocado em discos com uso "abusivo" de violência e sexualidade) estampado com orgulho. Eis a criação do gangsta rap. A faixa "Gangsta Gangsta" é quem batiza o gênero. DJ Yella, Dr. Dre, Eazy-E e Ice Cube foram os responsáveis por produzir os beats musculosos e cuspir as letras explicitamente violentas do disco, sendo "Fuck The Police" a mais emblemática, principalmente por ter incomodado formalmente o FBI. E as polêmicas não param por aí. O clipe de "Straight Outta Compton" foi proibido de rodar na programação da MTV. A censura estava instalada - censura essa prevista na letra de "Express Yourself" -, assim como o sucesso, já que tudo isso fomentou as vendas do disco. Eis o primeiro clássico da costa oeste.

06: Beastie Boys - Paul's Boutique (1989)
Licensed To Ill, o disco anterior do Beastie Boys, já havia feito tremendo burburinho por ser o primeiro de rap a alcançar o topo das paradas americanas. Mas esses três branquelos judeus foram ainda mais longe com Paul's Boutique. Saindo do até então pequeno selo Def Jam (do Rick Rubin) e indo para a grande Capitol, o amadurecimento musical do trio fica explicito, muito disso graças a produção em conjunto com os Dust Brothers. A sofisticação sonora se justifica na escolha dos samples não autorizados - que vão de Curtis Mayfield à Led Zeppelin -, nos grooves elaborados, na qualidade dos arranjos e até mesmo no amadurecimento gradual das letras, ainda que elas mantenham a atitude descompromissada/juvenil quase punk do primeiro disco. Entre as melhores faixas estão a sacolejante "Shake Your Rump", a sofisticada "The Sounds Of Science", a pesada "Locking Down The Barrel Of A Gun" e a genial "What Comes Around". Recomendado até mesmo para quem tem um pé atrás com o estilo.

07: De La Soul - 3 Feet High and Rising (1989)
Formado por três negros de Long Island, o grupo contou com a ajuda do produtor Prince Paul para trazer de volta o clima festivo ao hip hop. Com capa psicodélica e clima hippie - justificado no conteúdo pacifico, divertido e harmonioso do álbum - o disco caiu nas graças do público e da imprensa, chegando ao cumulo da NME - revista com predileções para o rock inglês - premia-lo como "Álbum do Ano". Letras de amor como a de "Eye Know" se contrapunham ao estilo gangsta que explodia paralelamente através do N.W.A.. Apesar dessa encantadora abordagem descontraída das letras, a maior riqueza do álbum está na escolha primorosa dos samples. Led Zeppelin, The Monkees, James Brown, Michael Jackson, Steve Miller Band, Kraftwerk, Steely Dan, Hall & Oates, Bo Diddley, Wes Montgomery, Funkadelic, The Commodores, Ray Charles... mais parece uma coletânea de boas canções recortadas e cobertas por letras que, por mais legais que fossem, ficavam em segundo plano. Essa festa de samples desencadeou num processo judicial devido o uso ilegal das faixas, culminando numa série de burocracias envolvendo o sample. Depois disso o rap nunca mais foi o mesmo. Simbolo máximo da estética/cultura Native Tongues.

08: LL Cool J - Mama Said Knock You Out (1990)
Pioneiro do estilo, responsável diretamente pela inserção do hip hop na cultura pop e até mesmo astro do cinema, LL Cool J é acima de tudo um artista inquieto. Todavia, sua transição para um rap com temática romântica não foi muito bem recebida. Voltando a abordar temas corriqueiros das ruas, Mama Said Knock You Out (1990) é o registro definitivo de um dos artistas precursores do rap em seu auge consideravelmente tardio. LL voltara a ter o prestígio que nunca deveria ter perdido. Sucesso de crítica e público, logo "The Boomin' System" e "Around the Way Girl" - com veia pop bastante perceptível -, estão entre os maiores sucessos do rap.

09: Cypress Hill - Cypress Hill (1991)
Maconha, vestígios de música latina e produção inovadora, trazendo não somente samples, mas um trabalho de manipulação de áudio impecável. Essa é a fórmula adotada por Cypress Hill, grupo de raízes cubanas que fazia de sua abordagem funkeada e amor pela erva uma mistura dançante. Mérito do DJ Muggs. Neste clima divertido é possível destacar "Pigs", "Hole In The Head" e "Psychobetabuckdown".

10: Ice-T - OG Original Gangster (1991)
Um manual prático do gangsta rap. Curiosamente, ao contrário de muito que é feito nesta subvertente do hip hop, o disco usa temas urbanos violentos não para seduzir, mas para destruir. Até quando ofende, Ice-T justifica. Interpretar as letras é uma tarefa desafiadora, o que por si só já é interessante. Com relação ao instrumental, impossível não se deixar levado pelos timbres pesados de baixo, o som de caixa na cara e os samples de James Brown, Funkadelic e Sly & The Family Stone. É o perfeito boom bap. Discaço que prevê o Body Count.

11: Gang Starr - Step In The Arena (1991)
Duas pickups e um microfone, ferramentas básicas, mas que na mão deste fantástico duo se transforma no que de melhor já foi produzido no rap. Letrista fenomenal, além de MC fantástico, Guru dominava a palavra como poucos. Ao contrário do que estava em voga, voltou para a clássica abordagem contestadora do hip hop em detrimento da descartável busca por mulheres e dinheiro. O lendário DJ Premier é um gênio da produção. Seu flerte com o jazz é ultra criativo. Quem acha que DJ não é músico, deve se atentar imediatamente ao trabalho desse criador inquieto. Impossível apontar faixas destaques, é uma melhor que a outra. Disco fundamental!

12: A Tribe Called Quest - The Low End Theory (1991)
De todos os discos citados aqui, esse é o menos datado. Muita da sua sonoridade remete até mesmo ao rap feito atualmente. Isso porque o grupo encabeça a vanguarda do hip hop. Sua incursão pelo jazz através dos samples é maravilhosa. As letras conseguem tratar temas sérios com humor. Daqui saiu diversas pérolas como "Escursons", "Buggin' Out", "Check The Rhime" e "Jazz (We've Got)". Embora menos lembrado, The Low End Theory é parte fundamental da história do hip hop.

13: Dr. Dre - The Chronic (1992)
The Chronic foi um dos discos responsáveis pela popularização do gangsta rap e do gênero g-funk, além de ter relevado um jovem/talentoso MC chamado Snoop Dogg. Além da sua grande influência musical, o álbum vendeu feito água. Todavia, ao ouvir o disco, é preciso entender e se abster das letras. Afinal, o festival de machismo, homofobia, violência e auto vangloriarão não deve ser interpretado com seriedade. Musicalmente o álbum é uma aula de bom gosto na utilização de samples: em "Fuck Wit Dre Day" tem Funkadelic; em "Let Me Ride" James Brown e "Stranded On Death Row" tem Isaac Hayves. Já "Lyrical Dandband" contém a participação de vários MCs, como The D.O.C, Kurupt e o próprio Snoop Dogg. Kl Jay (DJ/produtor dos Racionais MC's) disse que "Dr. Dre está para o rap assim como Quincy Jones está para o funk". Ao escutar The Chronic percebemos que a analogia é justíssima, para desespero de Eazy-E.

14: Snoop Doggy Dogg - Doggystyle (1993)
Uma das características mais atraentes no hip hop é que ele não é puritano. Ele não é feito para agradar os pais, as autoridades, manter a ordem ou soar "correto". Ele é a expressão de seu artista e se tal artista for um mulherengo maconheiro, que a música assim seja. Da capa, passando por diversas letras, vários são os pontos questionáveis de Doggystyle, mas foi exatamente isso que atraiu a molecada e fez do disco um estrondoso sucesso, tornando a obra umas das principais do west coast hip hop. Felizmente, o que é inquestionável é a produção impecável, cheia de groove, horas até mesmo remetendo ao Parliament, vide "G Funk Intro", popularizando o gênero g-funk. Não se espante se encontrar uso de flauta doce e sintetizadores para a criação de ótimas melodias. Destaques? "Gin And Juice", "Serial Killa" e "Who Am I (What's My Name)". Obs: mais uma produção de Dr. Dre.

15: Wu-Tang Clan - Enter The Wu-Tang (36 Chambers) (1993)
Mais que um grupo, Wu-Tang Clan é um importante coletivo que reúne diversos dos mais talentosos rappers nova-iorquinos, dentre eles RZA, Ghostface Killah, Raekwon, GZA e Ol' Dirty Bastard. Esse disco de estreia não alcançou grande sucesso comercial, mas tornou-se referência não só pela sonoridade, mas também pela forma com que seus integrantes trabalhavam em conjunto. Diferente de tudo que era feito, Enter The Wu-Tang soa muito mais arrojado que qualquer outro trabalho de rap do período, tanto no que diz respeito as bases ultra caprichadas - e em alguns momentos até mesmo jazzistica, vide as espetaculares "Bring Da Ruckus" e "Wu-Tang: 7th Chamber" -, quanto das letras, que fugiam do estereótipo violento gangsta, chegando a incluir temáticas surpreendentes, como artes marciais. Ok, rola algumas ofensas gratuitas e amostras do amor pela maconha, mas tudo num contexto criativo. A pluralidade de flows presente na obra dá um ritmo complexo ao disco. Se unidos o Wu-Tang Clan perdeu a força, seus membros isoladamente não pararam. Todavia, é esse o principal trabalho de todos os envolvidos.

16: Nas - Illmatic (1994)
Oriundo de Queensbridge e filho de pai jazzista, Nas, ao contrário de de seus contemporâneos, investiu em suas letras uma abordagem mais séria sobre a periferia, não alimentando a guerra comercial e física que ocorria através do gangsta rap (ao menos inicialmente). Lançado pela Columbia, o trabalho é quase conceitual, embora não carregue nenhum charme épico, afinal, suas letras resumem o que havia de pior no conjunto habitacional em que o rapper foi criado. Em meio a tráfico de drogas, overdoses, assassinatos e tiroteios, a consciência poética do artista procura retratar a realidade sem glorificar o crime ou pregar a barbárie. A produção, as bases e os samples (que vão do jazz ao funk) são extremamente pesados. Entre os produtores do disco está o talentosíssimo DJ Premier, que participa nas impecáveis "N.Y. States Of Mind", "Memory Lane (Sittin' In Da Park)" e "Represent". Illmatic é o puro east coast hip hop lançado de forma mais profissional e bem acabada. A seriedade de suas composições é o que torna o disco um eterno clássico e exemplo de qualidade musical (e social) dentro do estilo.

17: The Notorious B.I.G. - Ready To Die (1994)
Muito se fala sobre a rivalidade sangrenta envolvendo o hip hop da costa oeste com o da costa leste dos EUA. Embora a guerra entre as gangues fosse igualmente brutal, musicalmente falando Notorious B.I.G. carregou praticamente sozinho a bandeira da costa leste (o Nas e o Wu-Tang sempre foram mais "alternativo"). Restou ao Ready To Die (1994) - único álbum em vida assinado por B.I.G. - representar o east cost hip hop. A primeira coisa que chama atenção é sua capa emblemática, que quando somada ao nome premonitório do disco, torna-se chocante. Sonoramente, o peso da produção, o som de caixa na cara, as linhas de baixo encorpadas, os barulhos de tiro e a escolha primorosa de samples, chamam a atenção até mesmo de quem não gosta de rap. Entre diálogos e sons ambiente que ajudam a construir um enredo sonoro quase épico, Notorious B.I.G. não poupa xingamentos e ameaças, personificando o comportamento dos traficantes que conheceu quando era apenas um garoto pobre de Nova York. Da sombria "Things Done Changed", passando pela obscena "One More Chance", a ostensiva "Juicy", a funkeada "Machine Fot Funk", a melódica "Bog Poppa" e as espetaculares "Everyday Struggle", "Me & My Bitch" e "Unbelievable" (com produção do DJ Premier), o disco não perdoa ninguém. É o rap em seu estado mais perigoso e pesado.

18: Tupac Shakur - Me Against The World (1995)
Descrever mais uma vez a guerra sangrenta que aconteceu no gangsta rap é desnecessário. O principal a ser falado aqui é a capacidade de Tupac com as palavras. Sua produtividade era impressionante. Neste disco, devidos seus problemas com a justiça que o levaram para a prisão, ele aparece mais reflexivo. Seu processo de trabalho em diversos estúdios com vários produtores não atrapalhou o acabamento final do álbum. Dr. Dre (sempre ele) dá as caras em "If I Die 2Nite"; a linda "Me Against The World" traz um belo refrão melódico; "So Many Tears" se apropria de Stevie Wonde; e desta forma é costurado um trabalho espantosamente comovente.

19: Fugees - The Score (1996)
Devido a violência presente dentro da cena hip hop, era comum o estilo ser discriminado e pertencer a um nicho. Não sei se foi a presença feminina encantadora de Lauryn Hill, o conteúdo pacífico das letras ou flerte com a r&b, mas fato é que The Score trouxe de vez o rap para o mundo pop. Basta lembrarmos da linda "Killing Me Softly With His Song" (Roberta Flack). Mas o disco ainda tem outras pérolas, vide "How Many Mics", "Ready Or Not" ("enquanto você imita Al Capone, vou ser Nina Simone") e "No Woman, No Cry" (Bob Marley). Finalmente era possível os pais ouvirem rap junto com os filhos.

20: Racionais MC's - Sobrevivendo No Inferno (1997)
Se tem um disco que define o rap nacional é o Sobrevivendo No Inferno dos Racionais MC's. É evidente que a evolução do rap no Brasil já vinha acontecendo bem antes do lançamento deste clássico álbum. Até mesmo o grupo já tinha conseguido certo destaque anteriormente com faixas como "Domingo No Parque". Ainda assim, é inegável a contribuição cultural e comportamental do disco para a música brasileira. Da brilhante "Jorge da Capadócia" (Jorge Ben), recitada sob o sample de "Ike's Rap II" do Isaac Hayves; passando por "Capítulo 4, Versículo 3", um clássico do hip hop, principalmente após a emblemática apresentação do grupo no VMB de 1998; "Diário De Um Detento", em que Mano Brown narra o Massacre do Carandiru; "Mágico de Oz", em que Edi Rock da voz às crianças abandonadas das ruas de São Paulo; e pelo groove esperto do Kl Jay em "Fórmula Mágica da Paz"; Sobrevivendo No Inferno sobrevive como o melhor, maior e mais importante disco do hip hop nacional. Clássico absoluto que moldou jovens - da periferia ou não - para o rap e para a vida.

21: Eminem - The Marshall Mathers LP (2000)
Quando Eminem despontou com o disco The Slim Shady LP (1998), muita gente torceu o nariz para aquele branquelo loiro falando bobagens. Como resposta, e com supervisão de Dr. Dre, Eminem continuou a explorar suas narrativas surreais, só que agora com um conteúdo mais sério, percorrendo por seus problemas pessoais, musicando tudo como um épico cinematográfico. O sucesso foi acachapante! Logo o disco estava batendo recordes de venda. Sustentando o álbum estavam os hits "Stan" (de refrão pop/melódico cantado pela Dido) e "The Real Slim Shady", ambas com clipes que rodaram incansavelmente na programação da MTV. Entretanto, as melhores faixas são "Remember Me?" e "Amythiville". 13 anos depois, Eminem lançou a segunda parte da obra, definitivamente sem a mesma força.

22: Jay-Z - The Blueprint (2001)
Questões sociais sempre estiveram presente no hip hop. Mas quando o dinheiro começa a cair na conta, cantar sobre as ruas tende a soar falso. Curiosamente, isso não acontece com Jay-Z. Ele tem o prestígio musical/poético para fazer o que quiser. Sonoramente, The Blueprient é o melhor feito de Z, principalmente por abusar do estilo old school, sampleando com autoridade pérolas da soul music/r&b. Ajudando no feito estava um ainda jovem Kanye West. Entre as principais canções estão "Izzo (H.O.V.A.)" e "Momma Loves Me". Mesmo recebendo insulto de caras como o Nas, estar esperando um julgamento por porte de arma e ter o disco lançado num fatídico 11/09, o álbum alcançou grande prestígio entre o público e crítica.

23: OutKast - Speakerboxxx/The Love Below (2003)
Uma pequena trapaça, já que são duas obras lançadas como uma só. Após o sucesso do também essencial Stankonia (2000), esse importante duo sulista volta com mais um discão, só que agora com os egos inflados. A dupla formada por Big Boi e André 3000 decidiu lançar seus respectivos discos solos distribuídos num trabalho duplo do grupo. Essa fórmula transformou-se num verdadeiro ringue para ver quem lançaria o melhor álbum. Speakerboxxx, do Big Boi, é muito mais fácil de se enquadrar no território do rap, embora repleto de experimentações na produção e doses de psicodelia ébria típica do southern hip hop. Entre os destaques estão a delirante "Ghetto Musick", a funkeada "The Rooster" e a pesada "Bust". Já The Love Below, o lado do André 3000, é muito mais abrangente, flertando sem pudor com o jazz, funk, soul e a música pop. Falando em música pop, alguém é capaz de citar um hit feito nos últimos anos que seja melhor que "Hey Ya!" ou "Roses"? Talvez em nenhum outro momento na história da música, o conflito de interesses dentro de um um grupo tenha sido tão produtivo. O rap ainda tem muito com o que aprender com o Outkast.

24: Kanye West - My Beautiful Dark Twisted Fantasy (2010)
Não é nenhum exagero considerar o Kanye West um dos principais artistas do século XXI. Seu estilo transcende gêneros. Sua personalidade megalomaníaca reflete em sua obra, sempre com ares épicos e de sonoridade enorme. Da melódica "Dark Fantasy", passando pelo sample de King Crimson em "Power", o pop estrondoso "All Of The Lights" (com participação da Rihanna) e a pesada "Monster" (com mãos de Jay-Z e Rick Ross), tudo soa extremamente impactante. Mesmo que haja deslizes nas letras, os ganchos são tão poderosos que se sobressaem na audição.

25: Kendrick Lamar - To Pimp A Butterfly (2015)
Não há desculpas para quem em pleno 2015 torce o nariz pro rap. Do Death Grips ao Run The Jewels, o estilo é um dos mais ousados da atualidade. A última grande bomba do hip hop veio via Kendrick Lamar. Pouca gente (ao menos no Brasil) se deu conta de estar vendo nascer um clássico diante dos olhos. Tão experimental quanto pop, o trabalho do rapper chega a remeter ao… Prince. Buscando referências no jazz e r&b, criando enredos viajantes, além gírias e rimas complexas (e nessa hora o distanciamento linguístico prejudica muito), Kendrick criou uma obra acessível e complexa. Claro que a produção do Flying Lotus e participação de caras como Pharrell Williams, Thundercat e Robert Glasper também ajudam. Todavia, é o próprio Kendrick que faz canções como "u", "The Black The Berry" e a épica "Mortal Men" brilharem.

Discos limados no último corte da lista.
> Eric B. & Rakim - Paid In Full (1987)
> Ice Cube - The Predator (1992)
> Mos Def - Black On Both Sides (1999)
> Madvillain - Madvillainy (2004)
> Common - Be (2005)

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