quinta-feira, 11 de junho de 2015

De encontro ao jazz via caminhos tortuosos de Ornette Coleman

Lembro perfeitamente de quando a Folha lançou a coleção Clássicos do Jazz. Vendido em bancas de jornais, os CDs por preço convidativos eram a minha oportunidade de desbravar um estilo que eu pouco conhecia. Na época não existia as facilidades do YouTube, muito menos aplicativos de streaming. As opções eram comprar os disco ou tentar baxar algo numa velocidade de caramujo.

Entre coletâneas do Nat King Cole, Herbie Hancock, Charlie Parker, Chet Baker, Thelonious Monk, Miles Davis, Billie Holiday, Duke Ellington, Chick Corea, Dizziy Gillespie, John Coltrane, Ella Fitzgerald, Charles Mingus e tantos outros geniais nomes que, ao menos já tinha ouvido falar, um ilustre desconhecido saltou aos meus ouvidos: Ornette Coleman.

"Gênio ou charlatão? Musica visionária ou fraude sonora?", assim era a apresentação deste lendário saxofonista americano, que criou a vertente mais vanguardista do jazz: o free jazz.

Músicas como "The Garden Of Souls" e "We Now Interrupt For A Commercial" me chamaram atenção de imediato. Finalmente, por mais improvável que fosse, passei a gostar de jazz via uma experiência limite, onde a tonalidade é posta de lado em prol da liberdade do improviso. Ruídos e melodias exóticas começaram a fazer parte do meu repertório. Logo eu estava ouvindo Sun Ra, Albert Ayler, Pharoah Sanders, John Coltrane, Charles Mingus, Pat Metheny, John Zorn, Henry Kaiser, Bill Frisell, Vernon Reid, Lanny Gordin e tantos outros instrumentistas que, em algum momento de suas respectivas carreiras, com influência direita ou não, seguiram os passos de Ornette Coleman.

 
Discos como The Shape Of Jazz To Come (1959) - qualquer semelhança com o álbum do Refused não é mera coincidência - e Free Jazz (1960) tornaram-se álbuns de cabeceira. Neles é possível encontrar ótimas composições, improvisações e interpretações vibrantes não só de Ornette, mas também do lendário baixista Charlie Haden e do trompetista Don Cherry.


Tive a oportunidade de assistir uma apresentação do Ornette Coleman há uns seis anos atrás. Foi avassalador! Após temas complexos, vinha um solo mais delirante que o outro, com direito a uma formação inusitada contendo dois baixista e Coleman atacando não só seu sax, mas também um violino. Um dos grandes shows da minha vida!

Sua morte, aos 85 anos, é a confirmação de que os grandes do jazz já não pertencem mais a esse plano, mas que suas obras ainda são visionárias.

Obrigado, Ornette Coleman.

Nenhum comentário:

Postar um comentário