quarta-feira, 8 de abril de 2015

TEM QUE OUVIR: Patti Smith - Horses (1975)

Havia motivo, ainda que talvez velado, para a imagem séria, "masculinizada" e nada sexy da Patti Smith na capa de seu disco de estréia, o clássico Horses (1975). Ela precisou adotar essa postura e apostar em suas composições para que todos percebessem que estavam lidando com uma das maiores letristas/interpretes da história do rock, independente do gênero biológico.


Influenciada tanto pela postura vanguardista do Velvet Underground - o disco foi produzido por John Cale - quanto por poetas da geração beat, Patti Smith vinha há anos circulando pela cultura underground novaiorquina, indo do Max's Kansas City ao CBGB. Todavia, mesmo tendo colaborado em composições do Blue Öyster Cult, ela parecia mais familiarizada com o poder do texto do que com a música em si. Foi do encontro com o compositor/guitarrista Lenny Kaye - que anos antes havia compilado a clássica coletânea de garage rock, Nuggets -, que a veia musical de Patti se consolidou.

Um disco que começa com a frase "Jesus morreu pelos pecados de alguém, não pelos meus" não pode ter suas letras ignoradas. Em "Gloria" seu trabalho se funde com o de Van Morrison numa faixa crescente e celebrativa.

Enquanto a solar/caribenha (apesar de sua letra mórbida) "Redondo Beach" prevê a cena da Two Tone, "Kimberly" tem traços do pós-punk que a Siouxsie And The Banshees viria a fazer um dia. Tom Verlaine (Television) colabora na maravilhosamente dramática - e obviamente cheia de impecáveis guitarras - "Break It Up". Tudo isso demonstra como era a forte a presença de Patti Smith na cena punk, ainda que seu som fosse muito mais introspectivo. É a fúria interna que comanda a composição.

A ambiguidade sonora de Patti é presente em sua rouquidão sensível, na interpretação segura, nas melodias estranhamente doces (vide a linda/dramática "Elegie") e na atitude selvagem de canções como "Free Money" e, principalmente, das épicas "Birdland" e "Land", sendo ambas verdadeiros hinos, recitados/berrados com paixão comovente, com a banda reagindo a cada palavra como num transe rockeiro.

De presença inquietante e estilo próprio, Patti Smith influenciou do Morrissey ao Sonic Youth, passando por Michael Stipe, Chrissie Hynde, Nick Cave e Courtney Love, sendo ainda hoje uma das grandes personagens da história do rock.

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