É comum encontrarmos quem pense que Nirvana e Pearl Jam foram os precursores da cena de Seattle, que explodiu para o mundo na primeira metade da década de 1990. Embora a contribuição comercial de ambos os grupos seja indiscutível, a sonoridade daquilo que veio a ser conhecido como grunge estava presente desde o bombástico Superfuzz Bigmuff (1988), disco de estreia do Mudhoney.
Emulando o som do Stooges antes mesmo do grupo de Detroit tornar-se cult, o Mudhoney era a versão cheia de anfetamina da tendência do rock alternativo americano do final da década de 1980.
O EP contendo 6 músicas, pouco mais de 20 minutos e batizado com o nome de dois efeitos de guitarra barulhentos - Univox Super-Fuzz e Electro-Hamonix Big Muff - foi lançado pelo importante selo Sub Pop e produzido pelo Jack Endino. Entre tantos futuros protagonista na narrativa do rock daquele período, o destaque fica mesmo com a banda.
A dupla Mark Arm (voz) e Steve Turner (guitarra) - ambos presentes na espetacular capa do disco - é uma das mais subestimadas do rock. Ainda que tenham deficiências técnicas, suas interpretações viscerais são nocauteantes. A garageira "Chain That Door" é um dos melhores exemplos dessa eficácia punk.
Da introdução drone - criando uma atmosfera pesada, como num mantra infernal -, passando pela bateria tribal e as guitarras lisérgicas cacofônicas, "Mudride" vira um monstro difícil de ser segurado. Já "Need" e "No One Has" - que timbre de baixo! - são tudo o que o Nirvana queria ser (e de certa forma foi). Não a toa o disco era um dos prediletos do Kurt Cobain.
Encerrando temos a ótima balada "If I Think" e o sample de Peter Fonda em The Wild Angels pré-Primal Scream na introdução da acachapante "In 'N' Out Of Grace", com direito a solo de bateria do Dan Peters e apoteóticas guitarras ensandecidas.
Vale dizer que em 1990, apenas dois anos após seu lançamento, mas num período já de maior ebulição do cenário alternativa, saiu uma versão mais parruda do disco, com direito a singles anteriores, vide a vibrante/clássica "Touch Me I'm Sick".
Cru, certeiro e extremamente influente, Superfuzz Bigmuff é o big bang de uma cena que morreu, embora os criadores continuem lançando trabalhos tão bons quanto esse. O rock sem glamour é tão mais legal.

Nenhum comentário:
Postar um comentário