sábado, 28 de março de 2015

TEM QUE OUVIR: Ornette Coleman - The Shape Of Jazz To Come (1959)

Em algum momento distante, a música do Ornette Coleman soava tão pouco usual que ele foi chamado de charlatão. Hoje sua obra continua desafiadora, mas não é mais possível ignorar sua ousadia e talento. 


The Shape Of Jazz To Come (nome tão pretensioso quanto premonitório) inaugura no jazz algo que já vinha há décadas sendo explorada na música erudita: a não hierarquia dos sons. Não que Ornette Coleman usasse as fórmulas ou séries dodecafônicas de Schöenberg. Muito pelo contrário. Ele deu um chute na tonalidade através da liberdade na improvisação.

Apesar das dificuldades e preconceitos de sobreviver como músico, já que era um garoto pobre que usava um terrível e barato sax de plástico, além de sua visão nada ortodoxa da música, fato é que através da insistência e do burburinho, Coleman conseguir um contrato com a Atlantic.

Antes mesmo de invocar o rótulo de free jazz - fato que se deu com o lançamento de um disco homônimo ao subgênero -, a concepção de improvisações ácidas, levada rítmicas espontâneas, harmonias complexas e interação calorosa tão característica da vertente já dominava The Shape Of Jazz To Come.

Se por um lado "Lonely Woman" tem um tema bastante melódico - embora com intervalos dissonantes -, a sequência de "Eventualy" é pura maluquice. Logo após o tema cheio de urgência, a faixa deságua em solos insanos tanto do Ornette Coleman quanto do trompetista Don Cherry. Cromatismo, vibratos exagerados e frases velozes dominam a música.

Após o lindo tema de "Peace", quem salta aos ouvidos é o lendário Charlie Haden, que ataca seu baixo acústico com elegância tanto no walking bass, quanto com o arco. O solo de Coleman é fluente e demonstra domínio sobrenatural de seu instrumento.

O quarteto completado pelo baterista Billy Higgins desce desenfreado ladeira abaixo em "Focus On Sanity" e "Chronology", fechando uma obra que estará para sempre na vanguarda do jazz. Parafraseando Charlie Haden: "O legado deste disco será o de abrir fronteiras e não ficar satisfeito com o status quo".

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